sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Pensamentos

Ai como eu penso!!!!! Penso que hoje o tempo está cinza e que nos cinzas deveriam ser escritas coisas em cor cítrica e em negrito para que se destacassem e que bom seria se no céu pudéssemos projetar, escritos, os nossos pensamentos porque por que será que os pensamentos têm que ficar dentro das cabeças e quando pulam pra fora nunca pulam da maneira que estavam la dentro e pulam de um outro jeito e nunca se consegue botar pra fora o pensamento com toda a sua pureza e ao colocá-lo fora do corpo sempre aparece diferente do que foi concebido? Ai como eu penso! Tenho essa mania e chega a incomodar porque tudo me leva a pensar, ando e penso, escuto e penso estou me divertindo e penso, falo uma bobagem e logo penso e não consigo levar aquela coisa leve que mostro fora porque por dentro eu sempre penso e imagino o depois e penso e tudo o que eu faço, faço pensando e é por isso que vez em quando mergulho nos números pra tentar não pensar mas enquanto estou numerando fico analisando aqueles números e acabo pensando e querendo escrever até sobre números e que coisa mais terrível é estar sempre com essa corrente de pensamentos servindo de esteira para cada palavra que surge, cada passo dado, cada ato que deveria ser tão impensado e como seria bom impensar! Impensar na vida, impensar, impensar, impensar.... mas sempre o meu impensado pensado fica e fica cada vez mais pensado e ao mesmo tempo eu penso o que seria de mim não fosse eu essa que pensa e de tanto que pensa está sempre ali como uma máquina que nunca se dispensa, sempre querendo não ser a tensa que pensa. Ai como eu penso! 31/10/2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Apropriação Indébita

Estive lá, imiscuindo-me. Na sala cheia de musica, olhando pela janela grande, acompanhei seu dia e sua noite, até que o cansaço tomou conta. Roubei a verdura da horta, olhei os objetos, dedilhei no computador, usei secador que alguém esqueceu, tomei banho em banheiro que não era meu, sequei-me em toalha felpuda e macia, brinquei na grama. Deitei-me no sofá (esparramada) assistindo imagens, tomei garrafinhas d’agua, lavei louça na pia, tomei seu chá e saboreei a comida que você fez pra mim. Conheci o parque, deixei que me conduzisse pelas ruas, abracei e beijei seu animal de estimação. Emocionei-me com os cuidados, deixei que penetrasse em mim a solidão que pairava no ar. Falei muito, perguntei muito, escutei pouco. Abocanhei o silêncio, escutei poesias e chorei, sensível a tudo. Admirei o verde e por momentos inesquecíveis apossei-me do som da sua voz, do seu abraço, da sua boca e da sua cama. Então acenei através da porta de vidro do aeroporto e caminhei até o avião. Lembro-me sempre da sensação do retorno e concluo que ainda não sei se o que veio de você em mim me foi dado, ou se fui eu que roubei. 
 30/10/2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Talvez (II)

Nos dias de muito calor as coisas parecem irreais e lembro-me sempre da fumaça que sai do asfalto, como aquela dos filmes mexicanos em que tudo fica fora de foco enquanto todos suam e a impressão que se tem é de uma enorme sujeira, indolência total, cabelos grudados no rosto de pessoas estranhas que não se sabe por que teimam em ficar em lugares tão quentes como eu também já fiquei tanto tempo... Nos dias quentes, tenho uma moleza no corpo que toma conta de tudo e que faz com que queira estar em um quarto com ar condicionado, se possível sem conversar, sem pensar, sem nada fazer, apenas sentindo o ar frio a correr sobre a pele, uma cama grande, um quarto de hotel, um roupão branco, comida leve, abrir a janela vez em quando para ver se por acaso haverá um vento que levante os cabelos e erice os pelos do corpo como uma brisa fria, quase sempre inexistente nessas horas... Mas há dias de calor em que seria melhor uma piscina ou uma praia, mergulhando no mar dos meus sonhos recorrentes, purificando-me com a água salgada dos meus desejos recorrentes, com pessoa com quem gostaria de ter a segurança de sonhar recorrente, beijando beijos fortes, barulhentos, bebedores de ar e recorrentes de amor recorrente e tomador de todos os espaços, recorrência de sentimentos, entrega, comunhão, confiança, coisa talvez tão difícil de se ter... Houve época em que quando o calor era tanto, preferia um mato cerrado o melhor era montar a cavalo e adentrar o mato que ali sim sentia-se o frescor, e encontrava-se pequenos córregos com água fresca, era só apear e lavar o rosto, as mãos, beber a água fresca e por que não fazer amor se assim se desejasse, molhando o corpo no córrego raso, no meio do mato, sem hora para voltar, cavalos amarrados nas árvores grossas, barulhinho d’água, paixão forte, calor e sussurros, calor.... Talvez devesse escolher alguma dessas possibilidades para escrever indo mais a fundo, mesmo sabendo que há vezes em que ir mais a fundo confunde os pensamentos e não se sabe mais o que é verdadeiro e o que é apenas fruto de uma criatividade que se torna maior a cada escrever e que tira coisas de dentro misturando-as com as de fora formando um só bolo que talvez tome conta de tudo e por esse motivo não se sabe mais o que seja talvez do texto, o que talvez seja de mim, ou o que talvez tenha sido um acontecido nunca mais esquecido ou uma vontade latente de que acontecido seja... Talvez... 28/10/2008

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Janela sem Moldura

Tinha a mania do perfeito, mas só conseguia mostrar esta mania de maneira torta. Era então que o perfeito se mostrava entortado e ao olhá-lo era impossível compreendê-lo. Foi pela vida a explicar o perfeito com palavras mancas, que ao chegar em ouvidos outros, mostravam imperfeição maior do que a que considerava verdadeira, que perfeita não se mostrava. Então resolveu não mostrar-se a si mas sim às coisas de si e de esforço em esforço pouco conseguiu. Resultavam as amostragens em coisas incompletas e desconexas, sendo assim como uma mão com unhas feitas na qual restava uma sem fazer, uma caneca sem seu cabo, um chapéu sem aba, uma bengala cujo apoio escorregava no chão, um cão que não latia, uma torneira sem água, uma musica sem som, uma panela eternamente sem comida. Não sabia o que fazer com esta imperfeição que por mais da mania do perfeito que existisse, não resultava em nenhum feito. Por isto procurava pessoas que, por já serem tortas, poderiam mostrar seus lados tortos de maneira torta o que logicamente resultaria em um perfeito, uma vez que o torto demonstrado por um torto fica torto e de tão perfeitamente demonstrado, tornar-se-ia perfeito. Era assim que procurava desentortar-se, em vão. O perfeito resultante do desentortado não era seu e, por isto, não se tornava parte de si. Um dia resolveu reconstruir-se do inicio e para tanto achou por bem construir primeiro a moradia aonde, fechada longe do mundo poderia dedicar-se ao processo de sua própria reconstrução. Começou tijolo a tijolo, a subir as paredes vagarosamente até que concluiu o serviço e foi então que percebeu-se abalada pois que a casa ficara perfeita. Olhou de longe, tudo reto, tudo completo, tudo no lugar, tudo pronto. Faltava apenas adentrar e, ali dentro, reconstruir-se. Mas como poderia, já dentro de algo tão perfeito, começar suas tentativas imperfeitas? Não conseguiu entrar. Mochila nas costas, parou no limiar da porta de entrada. Não posso entrar! Esta casa não me recebe. Aqui não vou. Duvida, pensamentos, resoluções, decisão. Chamou o carpinteiro, pediu que subisse e retirasse a moldura de uma das janelas da frente. Assim, ao olhar a casa, a imperfeição saltaria aos olhos. Então olhou a casa de frente, pela ultima vez. Satisfeita, cruzou o limiar, coração disparado. Não fazia idéia de como voltaria do retiro voluntário. Nem mesmo se voltaria. Entrou, sem saber, e fechou a porta atrás de si.
27/10/2008

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Botequim

Mesa pequena, cadeira de ferro, copos de cerveja, bolachas de papelão. Frente a frente, inclinados um para o outro, conversávamos sem parar. Cerveja demais? Não acredito. Acho que teríamos conversado um monte, mesmo sem. Bons tempos aqueles, entremeados do barulho das ondas batendo ao longe nas pedras. E quantas histórias para contar, coisas leves, o liquido gelado escorrendo pela garganta, de-va-gar, gelando cada pedaço do corpo. Vez em quando silêncio só prá escutar o murmúrio dos pensamentos rápidos dentro da própria cabeça causando um rodamoinho cheio de sensações. Vertigem bem vinda na falta de compromisso dos momentos, a vida apresentando-se fácil, o corpo quase a levitar. Ficou-me a cena e recorro a ela quando me sinto encalacrada pelo caminho dos meus dias. Abandono meu corpo e minhas sensações à alegria do re-sentir pois que junto com ela me chegam o calor do sol, o gosto da maresia, e a certeza de que, algumas vezes na vida, não se precisa mais do que de um botequim. 22/10/2008

Talvez

Talvez você possa conseguir o impossível.
Sabe aquele impossível que todo mundo busca mas ninguém sabe de alguém que conseguiu encontrar?
Os impossíveis foram aprendidos ao longo da vida, começaram quando você era bem pequeno e alguém lia contos de fadas, contava as aventuras, as tentativas que terminaram bem, a caça aos fantasmas que foi bem sucedida.
Você conseguiu imobilizar o ladrão, salvar a criança que quase morria, carregar a mocinha que desmaiou, salvar o naufrago, ganhar rios de dinheiro sem esforço, alcançar a fama, matar o monstro e até encontrar o amor perfeito.
Você montou as cenas mentais detalhe por detalhe. Cenas completas.
E volta a elas até hoje, com fidelidade.
Quem mandou montar cenas tão detalhadas?
Quem mandou idealizar a perfeição?
Quem mandou você acreditar?
Quem disse que a vida é feita de cenas coloridas?
A pior coisa é a cena que desmorona e vira pedacinhos de um quebra-cabeças imontável. Incompreensível.
Na verdade a possibilidade do desmonte da cena não havia sido prevista.
Cenas não se deveriam nunca desmontar.
Mas você passa o resto da vida acreditando que vai conseguir.
Eu por exemplo, vivo acreditando.
Aperfeiçôo constantemente minhas cenas mentais.
Vivo cada uma delas sempre que possível.
E acredito, acredito com afinco que existem realmente cenas que não se quebram.
Por isso eu sei que dessa vez o impossível se tornou possível, o perfeito veio para ficar
E nada no mundo vai fazer esta cena se quebrar.
24/10/2006

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Engasgo

To perguntando ao contrário, deixando o dito desfeito, respondo o que não importa, fico sem graça, sem jeito.
E quando falo bobagem, palavrando d’um fôlego só, fico tonta, pareço miragem, matraqueando sem dó?
To só me atrapalhando, de tanto querer acertar, não quero ninguém me mangando, eu to é com medo de errar.
Porque se erro coloco, tudo da boca pra fora, acabo perdendo o foco, cuspo e depois vou-me embora.
Então me recolho calada, escuto sem mesmo falar, vejo e nem concluo nada, com medo de me engasgar!
20/10/2008

domingo, 19 de outubro de 2008

Marcas

Tuas marcas foram cravadas em ferro quente.
Não sem dor. Fincaram escritos inapagáveis tomaram conta da pele sensível que um dia as acolheu.
Tuas marcas hoje em mim me confundem presa que estou a finais cobrados de promessas feitas que teimo em pedir se desfaçam.
Tuas marcas me transtornam e me apresentam o desconhecido de mim. Doem todas as manhãs pinicam nas tardes enquanto cicatrizam fazem cócegas enquanto vivo nova vida.
Tuas marcas machucam e cutucam a inocência que perdi de mim a incoerência que encontrei sem fim a crueza das palavras ferinas a falta das clemencias divinas as palavras que despejei, inocente o tanto que me mostrei, inclemente, o tanto que me tornei, descrente.
Tuas marcas foram cravadas em ferro quente E me mostram, demente, no pequeno de mim, na solidão de mim, sem fim.
19/10/2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Irreal

É só alma, não é real.
Só existe por momentos,
como criação de imagens.
Não é palpável.
É a minha illusão,
minha criação suprema,
minha obra de arte,
minha falta total de lucidez.
É meu momento de perfeição
e minha vaidade.
É etéreo,
e se desmancha no ar,
transformando-se em mil pedaços de cores
que rolam pelo arco-iris
até o pote de ouro
que somente em fantasias,
um dia,
encontrarei.
19 de julho, 2000

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

CAFÉ - ensaios


BOLINHAS AO SOL 
Vim de longe, até chegar neste futuro. 
Vim das conversas sobre Catuaí, Burbom, Mundo Novo*, dos passeios no carreador*, desde o colo de meu pai. 
Vim da roça, do trator, e da florada com cheiro de jasmim, quando tudo parecia neve. 
Um dia você vai ver neve, ele dizia. Mas olha só esse branquinho, é assim que se parece. Eu segurava os buquês (como é que conseguiam desabrochar numa só manhã?) e imaginava e imaginava e imaginava. Como pode, pai, num repente tudo virar flor? Ele sorria, abraço de quem tinha tempo pra mim. 
Sentada na tarde, gestando os nove meses do terreiro vazio e limpo, já previa as bolinhas verdes penduradas nas arvores que se tornariam cerejas* vermelhas ou amarelas, que eu gostava de espocar. 
Nos dias da derriça*, rebuliço no ar e logo pisando de levinho nas bolinhas espalhadas no terreiro, esse negócio de esparramar as bolinhas parece rodo, pai, você pegou lá de casa? Cada bolinha um pedacinho de mim, secando ao sol pra se tornar coisa outra. Rumo a pó de bebida, as bolinhas; rumo a adulto, eu. 
Ficaram lá as bolinhas e eu já vi tanta neve! 
Hoje to aqui, neste local de ciber-conexões, gente bonita, comidinha elaborada, multimídia...acabei de pedir um café neste futuro em que já cheguei, rumo ao próximo e eu sempre indo, o café vem, expresso. 
Vem numa bandejinha branca, xícara clean, biscoitinho ao lado e tem também o copinho com a aguinha cheia de gás pra limpar o meu paladar de todo o resto e me deixar sentir o gosto lá da minha terra, lá da minha casa, lá do meu passado, da minha neve que aquela sim era neve. 
Como aquela, nunca mais vi.
16/10/2008
* Legenda: Catuaí, Burbom, Mundo Novo: tipos de café para plantio Carreador: rua de cafezal Cerejas: contém em seu interior as sementes de café Derriça: derrubada do café
.
SEM AÇUCAR
Lembro-me da primeira vez que tomei café sem açúcar. Foi ele que insistiu. 
Toma, toma, você vai ver como é bom. Tomei. Não me esqueço do gosto que ficou na boca, do perfume que ficou no ar. Nunca mais fiquei sem.
Há coisas na vida que não se pode deixar para trás. Como perder o sabor da bebida quente depois de um lauto almoço? Como deixar de ter sua companhia numa troca de confidências com amigas? Como não tomá-lo em reuniões de trabalho para espantar o sono, em manhãs dormentes para sacudir o corpo, em intervalos nas salas de musica observando os efeitos dos acordes nas expressões faciais das pessoas? E aquele sorvete de café aos domingos? 
Não largo, não largo. Nem pensar! Não deixarei de colocar minha cafeteira italiana no fogo no silêncio da cozinha ao amanhecer, jornal a ler sentada à mesa, esperando que coe, boca que saliva, nariz que se alegra, canequinha na mão. Não deixarei de observar as janelas dos prédios vizinhos, aos goles de meu café quente. 
Eu não. Sem café não fico. Quanto a ele, há tempos não o vejo. Lembro-me vez ou outra de quando tomávamos café, sentados na varanda, comentando os acontecimentos do dia. Senti tanta falta no começo! Pensei que não me acostumaria. 
Hoje, sei que sem ele posso ficar mas, sem café, jamais!
01/10/2008

Memória

Foi numa noite de sábado que perdi a memória. Então chorei a noite inteira procurando recuperar momentos de profunda delicadeza, momentos de sutileza, momentos de pluma pousando em pele sensível.

Impossível. Sei que lá estive (I’ve been there, I’ve been there...) mas nunca mais encontrei o caminho. E então a alegria se foi de mim. Como se todos os sons do mundo emudecessem, se todas as cores encinzecessem, se os sorrisos dessorrissem. A alegria das noites de musica, a alegria dos risos amigos, a alegria do ser sem se pensar. Foi-se tudo. Tudo numa noite de sábado, em que perdi a memória. 13/10/2008

Sem Escolha

Houve um momento em que não havia mais nada a escolher. O caminho estava traçado. Havia apenas o receio de ir em frente. Difícil ir em frente sabendo que nunca mais haveria escolhas. Talvez fosse melhor ficar. Não sair do lugar, pois perigo maior seria encontrar alguém que contasse o que havia no fim do caminho. Nesse caso, além de não haver a possibilidade da escolha, não haveria nem mesmo a curiosidade e o interesse, medroso ou não, de saber como seria. Melhor não correr o risco. Estava resolvido. Não sairia do lugar. 11/04/2005

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Genética

Acredito que tenha mudado ao longo do tempo, a minha genética. Caso contrário, como se explicaria esta não eu que por vezes surge, apossando-se de mim?
Quando me toma, observo. Por vezes me assusta, de tão atirada, dizendo por mim coisas que eu jamais diria. Não faz parte da minha genética sua atitude irreverente, suas palavras sem elaboração anterior, o jeito rápido de falar engolindo sílabas, esquecendo as palavras certas para cada ocasião. Não faz parte de mim sua ironia.
Assusto-me quando a escuto a proferir por mim o que a mim não cabe.
Um grito surdo diz “não fui eu, foi ela!”
Sou calma, tranqüila, não ajo histericamente, como ela, a cada novo sentimento que se apossa do meu coração. Sou ponderada, falo baixo, rio moderadamente, relaxo com facilidade, amo com vagar, como moderadamente e aceito as pessoas como elas são. Quem faz tudo estabanadamente é ela que, não sei de onde e nem como, veio a viver em mim.
Por isto acredito que houve uma explosão em meu interior, uma divisão de células, multiplicação de núcleos, gerando uma mudança genética que a trouxe.
O mais estranho porém, é que convivemos intimamente, ocupando o mesmo espaço e, o mais interessante é que mesmo ela, tão segura e decidida, ainda tem duvidas quanto a livrar-se de mim.
29/08/2007

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Nuestro Tiempo Termino

Foi-se o tempo mas ficou a teima a cochichar que um dia quem sabe, pode o tempo voltar.

Para quem tem sempre frio.

domingo, 12 de outubro de 2008

Dança

Um raio de luz
entra pela janela
Ilumina o cristal que, minúsculo, pende de um fio transparente.
A luz transforma-se em milhares delas, pequenas e coloridas.
Espalha-se pelo quarto, saltitando por todos os lugares.
A menina vê o efeito. Maravilhada.
Quer pegar uma das luzes, mas não consegue. Descobre que luz não se pega.
Quase fica triste mas o espetáculo colorido a fascina, e faz com que se esqueça da tristeza de não conseguir pegar a luz.
Escuta a música vinda do andar de baixo.
Acompanha os movimentos das pequenas luzes e descobre que as luzes dançam, conforme a musica.
A menina sorri. Levanta-se e vai em direção à luz, dançando, ela também, seguindo o som.
Dança a menina, coberta de pequenas luzes
Dança o quarto com as luzes que se movem
Dançam os pensamentos infantis, cheios de alegria
Dançam os olhos,
Dança o coração.
Dança a vida, neste momento perfeito.
08/12/2006

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Veludo

Era macio e delicado. Parecia uma pétala, mas não sei o que era. Encostando-se na pele, o toque era relaxante. Levava a sonhos quase impossíveis, desligava o corpo de qualquer amarra. Transmitia a sensação de maciez flutuante.
Disseram-me que era veludo, mas sei que não era.
Continuo acreditando que era algo desconhecido, completamente inovador, que poderia levar quem o tocasse a sensações inimagináveis.
Acho que foi por acreditar assim que o roubei (coisa que nunca havia feito),e o escondi de todas as maneiras, pois não queria dividi-lo com ninguém.
Usufrui do contato constante e das sensações que me trazia durante muito tempo.
Até que um dia, por mais que o procurasse não o encontrei. Não sei definir se o deixei em algum lugar, se caiu quando o segurava e adormeci, ou se alguém o descobriu e sentiu o mesmo ímpeto que senti quando o tomei para mim.
O que sei é que até hoje me lembro daquela sensação e a procuro incansavelmente por onde quer que eu vá. Um dia o encontrarei novamente pois acredito que é impossível não reaver a plenitude depois de tê-la experimentado.
13/04/2007

Violão

Afino corda por corda.
Uso o diapasão, procurando alcançar o tom perfeito. Mesmo assim, tenho que escutar inúmeras vezes procurando acertar.
Coloco meus dedos levemente sobre as cordas e dedilho cada uma. O som não sai como eu gostaria.
Ensina-me que devo apertar com força cada corda ou o som não será límpido.Tenho dificuldade para apertar a corda com o meu dedo mínimo.
Diz que com o tempo vou conseguir. O importante é treinar diariamente, perseverar.
Diz que o principal, para tudo, é a perseverança, o alcance da perfeição.
Eu me dedico e procuro alcançar a posição certa, a pressão certa, o movimento certo no tempo certo.
Porém as tentativas são vãs. Não alcanço o tão esperado resultado.
Irrita-se. Gostaria que eu conseguisse. Pede que eu repita. Irrita-se novamente.
Fico desanimada mas procuro o melhor, novamente. Não vê melhora.
Então desisto. Só para que se irrite com razão, por ter perdido tanto tempo comigo.
09/04/2007

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Des-sofrer









De todas as coisas que causam sofrimento, a perda da amizade é a pior. Sofre-se, chora-se, lamenta-se, enquanto se acha que dá para recuperar. Então dá-se uma chance. E espera-se que o coração se abra. Quando isto não acontece, a amizade fica perdida. Para sempre. Segunda chance não há. O coração se fecha e as lágrimas, se ainda houver, não rolam por muito tempo. A constatação de que a amizade perdida era, de tão fingida, até ultrajante, faz des-sofrer e agradecer a oportunidade de ver na luz, o que estava escuro. 
E então a gente pensa: que bom que já passou.

08/10/2008

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Poeta Convidado - Silvia Ancona Lopez

Silvia, minha irmã que eu chamo de Bebê, que me cuidava quando eu pequena e que um dia cortou, com alicate de unha, uma berruguinha que eu tinha no meu pulso e quase me matou, manda este texto e me pergunta se gostei. Se eu gostei Baby? Eu adorei. Por que você não escreve mais? Eu, adorei. Se os que vão ler vão gostar? Sei não, que não sou eles. Só sei que gostei. Eles, que leiam e digam. SENTA AÍ JOÃO Senta aí João, enquanto faço o café. A cozinha não está muito bonita, não mudou desde quando...pensava que quando você viesse eu poderia te receber em uma cozinha nova...mas, é o mesmo velho fogão, a geladeira meio capenga, os móveis descascando, mas está vendo? as crianças disseram: sua cozinha tá feia vó. Podemos enfeitar? E puseram esses adesivos todos, cobrindo os defeitos. Ficou bonito, não é? Eu gostei. Prá dizer a verdade quase chorei quando vi. Achei tão bonito o cuidado deles comigo. Estão lindos os teus netos...você nem viu crescer, mas pode sentir orgulho: são estudiosos, carinhosos, sempre que podem me visitam. Agora um pouco menos. Tem os amigos, os estudos, as obrigações. Eles são minha alegria, meu amor. Senta aí, João, pode deixar que eu pego o pó. Comprei esse pote novo. Diz aqui: hermeticamente fechado. Parece que o café fica mais gostoso, conserva o sabor, o perfume. Às vezes à tarde, quando sobra um tempo, faço um café para mim; sento aqui na cozinha e tomo bem devagar apreciando. Se a tarde está bonita a claridade que entra pela janela deixa uma luminozidade dourada, que enfeita meus azulejos. Tem dia que me perco olhando o céu, as nuvens branquinhas... fico adivinhando as formas, nem vejo o tempo passar. Sinto alguma coisa, assim, uma nostalgia e penso que eu gostaria de pegar um avião e conhecer outros lugares. Ir para Paris. Deve ser lindo Paris! Claro que eu conheço pela televisão, pelas revistas, mas às vezes gostaria de ir até lá e tomar meu café naquelas mesinhas que ficam na calçada. Quando escurece esqueço tudo isso, vou assistir minha novela, fazer meu tricô e me sinto..me sinto, assim.. quase feliz. Estou bem, eu estou bem. Os filhos andam muito ocupados, batalhando. A vida não é fácil, mas me telefonam.... algumas vezes passam por aqui correndo para ver como estou e nunca, nunca, esqueceram o meu aniversário. Aí trazem uma flor, às vezes um perfume. Sempre faço um bolo, as crianças cantam parabéns e é um dia muito feliz. Eu queria estar mais nova e mais bonita se um dia você aparecesse por aqui, só que o tempo passa, fazer o quê, não é? Tem jeito não. De resto estou como sempre, trabalhando na mesma escola só que um pouco cansada. Com a idade, dar aula à noite não é facil, mas graças a Deus, tenho meu trabalho que me ocupa, me dá satisfação e o meu salário, que não é muito mas me sustenta e às vezes até dá para ajudar os meninos em alguma precisão. Toda sexta à noite, jogo carta com a Maria José, a Dinha e a Luiza. Continuo muito distraida; só um pouquinho melhor e quando minha parceira é a Dinha chegamos a ganhar de vez em quando. Nesses encontros rimos muito, falamos da vida. Ninguém reclama. Somos umas velhotas alegres que não se queixam das dores, das decepções, da solidão...vez ou outra vamos ao cinema, mas é dificil. Gosto de assistir filme romântico que faça chorar e eu aí choro, choro, choro e saio bem levinha. Elas são mais de igreja do que eu, só que eu rezo todo dia e agradeço muito tudo que consegui, agradeço a força que Deus me deu para passar pelas dificuldades e peço proteção para todos. Já rezei muito por você também. Não levanta não, João. Senta aí, já vou pegar as xícaras e servir o café. Tenho lido muito; é a minha maior distração. Leio de tudo e lendo esqueço da vida, é como fazer uma viagem para lugares distantes. Invejo os escritores que sabem descrever os sentimentos e encontro nos livros a forma de dizer aquilo que sinto e não sei como explicar. Não tem nada melhor do que um bom livro. O que não aprendo mesmo, tenho a maior dificuldade, é com o computador. Essa linguagem da informatica me deixa louca. Às vezes vejo os meninos conversando e é como se fosse em outra lingua; não entendo nada! Nessa hora tenho medo de ficar fora do mundo. Ainda vou enfrentar esse problema e fazer um curso de computação. Tenho bastante energia para isso. Sabe, melhorei muito na cozinha. Meu feijão com arroz agora é uma delícia e tenho o maior prazer em descobrir uma receita nova. Quando as crianças vem almoçar aqui, sempre invento uma novidade e elas adoram meu bolo de banana! O café está pronto! Senta aí, João, deixa que eu mesma sirvo. Vou sentar, também, e me diga: por que você veio aqui, João? setembro, 2008

Poeta convidado - Alfredo Burghi

Fred, que responde, incansável, às minhas perguntas e me faz rir sem nada perguntar. Bem vindo.
AMARELO
Frente à minha casa
(amarela),
frente à casa do vizinho da esquerda
(marrom),
tem, cada um,
um pé de Ipê (Amarelo).
Desde que cheguei
no dia da Independência,
o chão está forrado das folhas (amarelas)
do Ipê (Amarelo).
O tapete se alastra pelas laterais
que adentram o portão da garagem
como se estacionassem sem pedir licença.
Quando vou almoçar,
chego de mansinho para que não voem
e se percam da multidão (amarela).
Estariam as folhas (amarelas) comemorando a Independência?
Não faltam flores verdes para completar o bordão?
Você não acha que o Ipê (Amarelo),
derrubando suas flores (amarelas),
faz um choro de saudades do Pau Brasil?
(Ou seriam lembranças do seu Flamboyant?)
10/09/2008

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Assombro

Parece tão impossível, é tão incompreensível, tão inacreditável......... O assombro me assalta, traz lágrimas aos olhos, toma conta. E me resto incrédula, parada em tremor, estática. Eu sei. Mas não mostrarei minha face louca, não desnudarei minha casa, não expandirei meus sentimentos. Então protegerei minhas portas de entrada, trancarei os armários, fecharei as panelas com suas tampas, apagarei o fogo. Puxarei as cortinas e os raios de sol não entrarão pela minha janela, pois não há como saber se são puros. Meus ouvidos nada escutarão pois ensurdeceram-se de escutar. Voltarei e, calada, olharei em frente com meus olhos firmes recuperando, de minha credulidade, o que for possível. 06/10/2008

Meca

Quem dera sentir uma grande fé. Daquelas que fortificam o espírito, levam adiante, vestem o ser de coragem e crença fazendo-o confiar cegamente, viver de certezas e não vacilar jamais.
Quem dera esquecer o futuro e recebê-lo exuberante, só por tê-lo acreditado.Quem dera!Assim fosse, freqüentaria os templos, buscaria a paz das capelas, os recantos silenciosos e trabalharia dia e noite sem cansaço, pois saberia que a coroação dos meus esforços, meu nirvana, meu maior objetivo seria, sem duvida, alcançado.
Então, em agradecimento, visitaria Roma para ver o Papa, agradeceria a Buda, levaria oferendas aos pais de santos e, como agradecimento supremo, iria a Meca.
Ali me deitaria e, exalando bênçãos, dormiria em paz.
18/02/2008

sábado, 4 de outubro de 2008

Escapulário

Mantinha de tudo um pouco na mesa de cabeceira.
O amuleto que lhe fora dado quando visitara o terreiro de umbanda, o pão bento da igreja de Santo Antonio, a Bíblia espírita e a católica.
Havia também uma imagem de Iansã, um anjo na parede logo acima da mesinha e uma oração do Hare Krishna. Na gaveta o mapa astral, sempre à mão, para que pudesse consultá-lo a qualquer momento.
E o incensório! Sempre pronto com o incenso purificador de ambientes.
A cada momento lançava mão de um destes escudos que protegiam, acalmavam e o faziam cheio de esperanças ante a vida.
Havia também o galhinho de arruda logo na entrada da sala e o espelho estrategicamente colocado, por recomendação de seu amigo especialista em Feng Shui.
Assim, cercado destes objetos, sentia-se seguro e confiava plenamente que nada de ruim lhe aconteceria.
No dia do encontro colocou a roupa que sempre lhe trouxera sorte e perfumou-se com o perfume que usara quando tivera aumento de salário. Verificou na tabela lunar se a noite era propícia para encontros e no almanaque abril se o horóscopo do dia, já checado inúmeras vezes, estava mesmo propicio.
Deu partida no carro e pôs-se a caminho, coração aos saltos. Quando a encontrou suas pernas tremeram. Estava linda! Como ele a amava! Tinha certeza de que daria tudo certo depois de tanto tempo que não se viam. Fora ela que pedira um tempo, ele bem se lembrava.
Lembrava-se também de que na noite em que haviam se separado, esquecera-se de colocar a pedrinha de cristal no bolso. Instintivamente colocou a mão no bolso para checar. Alivio!
A pedrinha estava lá.
Daria tudo certo!
Quando chegou perto seus olhos se iluminaram. Queria abraçá-la e contar da saudade.
Foi no abraço que percebeu que algo não estava bem e, na conversa que se seguiu, teve certeza: ela não o queria mais.
Não esperou o jantar. Não queria chorar na frente dela, não queria expor seus sentimentos desta maneira. Foi embora rapidamente, os olhos baixos e um pensamento martelando: o que fizera para que desse tudo errado?
Sentiu-se sufocar e levou a mão ao pescoço. Foi então que deu-se conta do terrível esquecimento. Por isto dera tudo errado. Como pudera se esquecer da proteção que estivera sempre presente?
E o culpado da solidão que o acompanharia daquela noite em diante era ele. Só ele.
Pois o escapulário, presença constante na correntinha presa ao pescoço, não estava lá!
08/11/2007

Ainda, Fascination!

Obrigada Claudia!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Fascinação

Na mesinha uma batuta de ouro e ébano lembra que meu avô era maestro.
Veio da Itália com a orquestra e nunca mais se foi. Aqui ficou com minha avó e minhas tias e foi por isto que minha mãe nasceu no Brasil.
Chamava-se Torquato Amore, dava aulas de violino e nos dias de concerto, quando regia a orquestra sinfônica, ficava muito nervoso. Contam que minha avó permanecia ao seu lado com muitas caixas daqueles colarinhos duros; Ele pegava um e tentava abotoar: se não conseguisse jogava na cama e pegava outro.
Ou seria no chão que jogava?
Ela, ficava quieta e deixava que tivesse o seu rompante. Devia estar acostumada aos rompantes pois viera junto com ele, era regida por ele e sabe-se que maestros são artistas de humor imprevisível. Sabe-se lá o que faria se ela errasse uma nota em seu violoncelo!
Não conheci este avô, mas a ela conheci. O cabelo bem branco, ainda bonita, sempre quieta, sentada na mesma cadeira. Não me lembro de escutar sua voz. Sempre que a via, lembrava-me de que um dia fora linda e que desde nova tivera muitos admiradores.
Uma vez, quando chegou em seu lugar na orquestra, encontrou a cadeira e o violoncelo cobertos de flores: de um admirador. Escutei muitas vezes esta história que ainda tem um detalhe: o admirador não era nada mais nada menos do que o compositor de “fascination”, que foi sucesso na voz de Nat King Kole. Dizem as tias, que a música foi composta para ela.
Que linda esta história! O lugar na orquestra coberto de flores...
Contudo, ela escolheu ao outro. Com ele veio ao Brasil e por muitas vezes enfrentou o destempero e os colarinhos jogados.
Sempre que escuto a palavra “fascinação” lembro-me de minha avó sentada na cadeira e me pergunto se enquanto segurava os colarinhos e assistia ao destempero, lembrava-se da cadeira e do violoncelo cobertos de flores e se, ainda então, achava que tinha escolhido a pessoa certa.
6/12/2007

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Tango

Ultimamente há muita monotonia. A vida corre tranqüila, sem novidades.
Os dias transcorrendo sem sobressaltos, como um bolero suave.
Nada de um clássico saltitante como um alegretto, ou daqueles acordes por vezes tão fortes que fazem estremecer.
Algumas vezes há um pianíssimo monótono, sem graça e sem nuances. Nunca o jazz com variações ou os blues com sua tristeza. Muito menos lambadas que, de tanta alegria, até cansam.
Marasmo.
Há quem goste. Há quem queira e até busque a repetição segura e monótona de um dia a dia sempre igual.
Eu não.
Eu queria movimentos fortes; olhar para diferentes direções, caminhar com passos largos e ser constantemente direcionada para o desconhecido!
Queria tirar os pés do chão e (que glória) que alguém me segurasse no ar!
Depois, ser conduzida com firmeza e força por caminhos revoltos, alegres e cheios de novidades.
Futuro repleto de planos, dia a dia instigante, paixão pela vida, pelo trabalho, paixão de amor.
O que eu queria mesmo, era um tango!
14/11/2007