segunda-feira, 29 de junho de 2009

Dueto

Queria era um dueto
que saisse sem ensaio,
num repente,
num espasmo,
de acordes tão perfeitos
musicando os lugares
os dizeres, os pensares,
um dueto,
que de dois se completasse,
embalasse,
dois a ser
em um só ser.
Queria um dueto de dois,
só dois,
hoje, amanhã, e sempre
e depois.
Tita - sem dia, 2009

sábado, 20 de junho de 2009

Desconvido e pronto

Vem então. Vamos nos entregar ao que vier.
Sem pensar em nada, vamos soltar o corpo, deixa rolar, gozar os momentos, rechear o dia de acontecimentos. Vem comigo. Vamos nos abandonar ao acaso, fazer só o que der vontade.
Estou pra você, sem filosofia, hipocrisia, indecisão. Me pega e me leva. Me abraça, me beija a boca, beija mais, me abraça com força, não esquece a musica que com musica sou muito melhor. Nem pergunta! Me leva e me deixa ser essa que eu sou, quero você assim, do seu jeito.
Aceita minhas disparidades, acredita na minha fala, não me pensa o que não sou. Não analisa! Mergulha comigo no mar, tira a minha roupa, brinca de me afogar.
Diz coisas sem nexo, não promete, não jura, só me escuta essa loucura. Deita comigo na grama, entra no rio, me rola na areia, me ri, me lambe. Deixa que eu fale e desfale.
Olha e sorri.
Me ensina do seu jeito carinhoso, me diz pra ficar, me faz um carinho gostoso. Me aquece, me enternece, me bole e me pede o que quer, eu to pra o que, de você, vier. Vem! Me deixa rouca e eu te deixo tonto. Mas, se não quiser, só diz. Eu nem duvido. Desconvido e pronto.
Tita 23/10/08

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Cotidiano

Roubava de si mesma a cena e não se deixava vivê-la porque tinha aquela mania de exagerar tudo. Sentimental, dramatizava cada pequeno acontecimento transformando o dia a dia em cenas ou versos, por vezes traiçoeiros, por outras animadores do que não era digno de animo. Deturpava toda e qualquer realidade tornando os acontecimentos mais valorizados do que deveriam ser. Acostumou-se assim a não viver o presente e a desenhar, no futuro imaginado, grandiosidades que nunca se tornariam realidade. Só muito tarde percebeu que eram as coisas simples, vividas com calma, cuidado e dedicação que realmente faziam a diferença e então, as cenas do cotidiano passaram a ter a devida importância. Talvez tarde demais. Quase tarde demais. Tarde demais? 10/07/2008

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Melodia

Se eu pudesse musicar o teu jeito ao cantar, 
se eu pudesse escrever som, teu violão a me embalar! 
Se soubesse colocar, o teu tom na melodia, 
sei que então me tornaria, uma tua poesia.
15/06/09
Tudo a ver
"Porque uma pessoa é bela, não pela beleza dela, mas pela beleza nossa que se reflete nela..."
Rubem Alves em "O Retorno E Terno"

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Sopro em bemol

Receberei um acorde se mandares...
e uma brisa de mar,
um grão de areia.
Se mandares uma nota
deixarei que me envolva,
momento de paz.
Chegando tua voz, em semi-tom,
dançarei no ritmo,
sorrirei na alegria
que a dança trás.
Mas manda-me logo
o que puderes.
Se mandares,
chega-me tudo
com um só sopro,
de cheiro de sal,
de nota em bemol,
de gosto de sol.
03/06/09

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Nervoso

Quando ficava nervoso falava alto, os olhos soltavam faíscas e batia com o punho fechado na mesa. Olhava firme e buscava a culpa de quem fosse, em quaisquer olhos que encontrasse. Eu tremia, mesmo sabendo que a culpa não era minha. Um dia consegui me distanciar e, mesmo sendo atacada, não deixei que os ataques me fragilizassem. Consegui me retirar da cena e assisti-la e vi um homem, vermelho de raiva, corpo grande, posição de ataque, querendo fazer valer a qualquer custo seu poder. Um homem mimado. Isso é que era. Acostumado a ter tudo a tempo e à hora. Porque não adivinhavam todos o seu pensamento? Porque não entendiam sem que explicações fossem dadas? Um homem descontrolado, solitário e digno de pena. Deste dia em diante a cada ataque que assistia, dirigido ou não a mim, eu buscava os detalhes: das palavras isoladamente, das mãos, dos olhos, da posição do corpo, do enrijecer dos músculos.... A cada som mais alto, mais interessante se tornava o trejeito da boca. A cada respiração entrecortada, mais tremia o enorme corpo. A cada movimento das mãos mais interessada eu ficava. Estes detalhes tomavam tanto a minha atenção e eram tão intrigantes que passei a receber com prazer aqueles ataques. Tornei-me espectadora assídua, vinha de onde estivesse para vê-los. Lembro-me até hoje de todos os trejeitos e da cena chocante mas, das palavras, esqueci-me completamente. Não tinham a menor importância. 21/02/2008