quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Poema e Video roubados - Zédu

Soneto no espelho
Eles tinham um pouco tão imenso,
Que os amantes restaram satisfeitos.
Depois as sombras, o nevoeiro denso,
E hoje nem de sonhos o pouco é feito..
.
Neles, é como um rio que secou,
As árvores, nos dois, calcinadas,
Marcas do impossível que passou
Em um amargo gosto de nada..
.
Ficou o deserto, a triste paisagem,
O inverno eterno, as almas geladas,
O vazio e um espelho sem imagem..
.
E seguiram, com as vozes caladas,
Para o abismo, a queda, a miragem
Do amor em águas passadas..
.
Com uma dor que não se amansa,
Perdidos nos seus grãos de nada,
Saudosos da pouca esperança
E dos sonhos de contos de fada..
.
Mas pagam as escolhas feitas,
O não na boca amargada.
E na teia por eles desfeita
Resta uma aranha alucinada.......
Zédu - 27 de maio de 2008
http://zedupoca.blogspot.com - o blog que se calou.
.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tristeza

Não, não é sem aviso que a tristeza vem.
Vem aos poucos, vai se achegando devagar, sem barulho, fica em um cantinho, à espreita, pronta para dar o bote, feito cobra brava.
Em um dia, bem desses em que estamos de peito aberto acreditando que tudo vai dar certo e que somos os donos da razão inabalável e das certezas de qualquer coisa, ela nos pega. 
Como um fardo pesado nos achata, nos maltrata, senta-se sobre nós, aperta, empurra para um canto escuro, e, sem dó, pisoteia, blasfema, bate e grita cuspindo nossos defeitos, anunciando alto e bom tom todos aqueles pontos fracos que durante tanto tempo teimamos em não deixar ninguém descobrir. 
Então, satisfeita instala-se, poderosa sorri, sorriso maldoso, vitorioso. Chega a rir quando percebe com que dificuldade procuramos dar qualquer passo. Faz pouco quando vê lagrimas escorrerem e regozija-se quando não conseguimos acordar, levantar da cama, terminar qualquer trabalho ou mesmo participar da mais simples conversa.
É assim a tristeza quando consegue seu objetivo. E ali fica, tomando conta, pronta a atacar frente ao menor movimento que façamos para enfrentá-la.
Foi assim que me pegou esses dias. Acho que não dei atenção aos avisos. 
É por isto que estou assim, fechando-me em concha, abraçando a mim mesma, com medo de que continue seu ataque. 
Estou quieta, procuro não enfrentá-la de modo algum. Estou deixando que pense ser a mais forte.
Deixo que tome conta de mim, que me faça ver e rever exaustivamente os já vistos e revistos e que me acachape repetindo infatigavelmente os mesmos caminhos mentais. 
Sei que um dia conseguirei conversar comigo mesma, animar-me, perdoar-me, tornar-me forte e então, quando menos esperar, encontrarei a saída e uma força grande virá de dentro de mim. É então que eu esbravejarei, bufarei, gritarei e a expulsarei. 
Ela se afastará, apavorada e eu, satisfeita, me instalarei vitoriosa e sorrirei, sorriso maldoso, vitorioso. 
Da próxima vez procurarei ficar mais atenta porque sei e mais uma vez aprendi que não, não é sem aviso que a tristeza vem. 
Por que será que não prestei atenção?

 Tita – 28 de setembro de 2009.

domingo, 27 de setembro de 2009

Só estórias

Quem me protegerá de minha fragilidade? Quem?

Quem me contará histórias que assim sejam e não estórias que somente desejem histórias se tornar?

Quem, mas quem, desde o inicio me dará verdades e as manterá sem tirá-las de mim tornando-me frágil e quebradiça?

Quem me entregará sinceridade e em chão firme criará comigo caminho que permaneça?

Ai como me sinto frágil nesta madrugada em que o som da musica a embalar me diz e repete que sem coerência nada, nada mesmo, é possível!

Procuro em vão compasso que me embale, sigo tons sem descanso que me acalme.

Sorrio em vão sorriso que me anime, converso em ansiedade qualquer conversa em busca de sentido.

De nada me servem os amigos, nada me dizem as palavras de animo, nada me trazem mãos que se estendem e olhares que me apóiam, porque sei que estou só e que depois do que acreditei em ti minha solidão tornou-se maior e mais intensa, minha sensibilidade se aguçou e meu corpo (ai como era bom quando estava inerte) acordou de sono longo e profundo para saber-se ímpar logo após.

Bem eu, que me julgava finalmente a salvo de qualquer sofrimento.

Bem eu, que acreditava conhecer a natureza humana.

Bem eu, frágil e indefesa, que nesta madrugada vazia e solitária, constato que nada tenho e nada sei.

Tita, madrugada, 27 de setembro de 2009.

Tudo a ver

"...rindo, abre os braços, como se lamentasse de maneira brincalhona, o fato de tudo aquilo que outrora era ela, não existir mais."

Liv Ullmann - "Mutações"

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Decisão

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Não haveria mais torpedos ao amanhecer nem recados no meio do dia ou insistências ao cair da noite, mas sabia que a decisão certa havia sido tomada, pois o incerto não lhe cabia nem lhe cabiam as tão grandes obscuridades. 
Mesmo porque, pensava, prescindia de estímulos criativos e trocas constantes. 
Definitivamente não podia viver sem poesia. 
A "coisa" das letras a tomava cada vez mais e urgia, sempre, trocar profundamente. 
Precisava de fala que seguisse na mesma direção. 
Não sabia mais viver sem partilhar os escritos, embaralhá-los, entrar dentro deles. 
Além disso, a zona de conforto estava ao alcance da mão, o que era tranquilizante. 
Lembrou-se da noite em que fizera das palavras o seu colchão e de quando ao falar não lhe saiam sons, mas sim letras escritas nas fronhas brancas. 
Então, entristecida pelas decisões que apesar de certas a deixavam tremula, segurou as fronhas dizendo a elas tudo o que se passava, esperando que novamente os sons se tornassem letras e ficassem gravados para sempre aonde pudesse encostar sua cabeça e dormir sono reparador.

Tita - 24/09/09

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Direção

Eu sei para onde vou.
Não tenho duvidas, não pego mapas, não pergunto.
Sigo incansável, sem perder rumo, sem errar caminho.
Se pareço perdida não se iluda, estou apenas descansando.
Se me encontro em um desvio não duvide, entrei sozinha e porque quis.
Não preciso de bússola, itinerário ou orientação.
Por favor não me diga como, nem quando.
Não tenho medos, volto quando quero e sei para onde vou.

Tita 7/05/08 revisão em 22/09/09

Afinidade

Gostamos de praia, os dois, do sol nos esquentando, 
de mar morno no fim do dia e da moleza que dá depois. 
O jeito de falar se parece, ao trocar mesmos pensamentos. 
A poesia nos cai sempre bem, ao sabor dos nossos momentos. 
Parece que ficamos quietos, com a mesma intensidade
e quando nos irritamos, temos o mesmo teor de maldade. 
Somos afins nos sonhos, e também na felicidade.
Deve ser este o motivo de termos tanta saudade. 
Tita 18/07/07 

Tudo a ver 
"Enquanto eu te via nascia um jardim nas minhas faces" 
Caio Fernando Abreu em "Caio 3 D" - "A Quem Interessar Possa"

domingo, 20 de setembro de 2009

Compositor

aquarela e texto - Tita

Sentou-se à mesa redonda e, pensativo, saiu do mundo. Quando voltou, trouxe frases daquelas
que descrevem tão perfeitamente os sentimentos 
que quem os lê os sente, em dor ou júbilo, dentro do peito.
Em seguida embaralhou as palavras jogando-as ao ar,
agarrando-as a esmo 
e musicando-as, uma a uma, com graça e força.
Então sentou-se  novamente, descansou, e voltou a olhar o vazio.

Tita - 20/09/2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Foco

Não vejo você direito. 
O que era colorido só vejo em preto e branco, o que tinha luz e sombras transformou-se em borrão.
Costumava ver, não sei o que aconteceu. 
Olhava você e via seus medos, sonhos, sentimentos, seus caminhos e seu sorriso sempre tão cheio de significados.
Na sua boca só vejo um ricto triste e o brilho de seus olhos não consigo vislumbrar. 
Deve ser o tempo que estragou meus olhos, ou os caminhos que se transformaram em labirintos.
Constato que você me olha pouco e por vezes me olha como se eu não estivesse ali. 
Não me vê? 
Talvez veja destorcido, sem contraste... 
Será que eu também, perante seus olhos, perdi os tons? 
O que foi feito de nossas cores?
 Interessante o que pode acontecer através dos olhos: as imagens que mais nos extasiaram ao longo dos melhores momentos da vida tornam-se, num repente, completamente fora de foco.

Tita - 25/03/08

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Incandescente

Sou desejos e paixões
por caminhos sinuosos,
sou carne, sou fogo,
sou sonhos fogosos.
Sou descoberta
dos volteios e desvios,
anseio de entrega,
venda nos olhos,
sem pudores, desvarios.
Coração indomado,
sou olhar em brasa,
calor de respirações,
encontro de corpos,
prazeres, tensões.
Sou curiosidade latente
sonho tresloucado,
desejo premente,
jamais apagado.
Sou abandono,
sempre imprudente,
sem rumo, sem dono,
sou incandescente.
Tita - revisto em 14/09/2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Nonsense


.Era um cacho. 
Mas não sabiam definir de quê. 
De certo não era um cacho de uvas, ou de cabelo...Não. 
Era um cacho diferente que às vezes nem cacho parecia.
Após muita discussão definiram que cacho não era. 
O laudo final foi: amontoado de elementos, presos por uma membrana central. Em seu conjunto tomam forma alongada que começa mais larga e torna-se afinada em seu final. 
Assim, safaram-se do trabalho de descobrir de que era formado. 
Presunçosa, apesar de não ter participado das discussões, quis ver de perto, na certeza de que conseguiria descobrir. 
Olhei e analisei durante horas. 
Não cheguei a conclusão alguma e ao participar da entrega do laudo final, assinei embaixo. 

Tita - 23/01/2008

sábado, 12 de setembro de 2009

Poema Roubado - Zédu

Vez em quando roubo, assim, descaradamente. E me pergunto por que terá, quem tanto sabe dizer, deixado de escrever. Meu distante amigo Zédu e seus sempre bem vindos Desejos, Mortes e Carambolas
Cara Metade Matisse
Eu vou dizer o que você é.
No mais irredutível básico,
naquilo que sobra de tanta elocubração,
depois de escarafunchar, afásico,
todos os lados da questão,
eu sei o que você é
para este m´eu que foi te saber.
Em um mar, que de tão raso escasso,
faz do pouco pérola brilhante,
você é uma oportunidade
que quero no meu seguir adiante.
Outras palavras, maiores e mais pomposas,
ficam aquém desta singularidade,
pedem mil linhas de prosa,
duvidam-se no nascedouro,
enroscam-se, na língua, verbosas,
e como Midas tranformam em ouro,
engessam, congelam em sal,
o espaço das possibilidades,
o futuro do bem e do mal.
Por isso sempre te disse,
que à cena prefiro o encontro,
a construção, passo a passo,
às vezes com passos tontos,
outras, nervos de aço,
de uma nossa colagem, coisa tua
que fiz minha e nossa,
quebra-cabeça surpreendente,
de sol, estrelas e luas,
sonhos, alegrias e fossas,
cartas, bilhetes e recados,
medos, artes e manhas,
e duas vozes de cada lado.
Painel de surpresas coladas,
de coisas inimaginadas
(neutras, bonitas ou feias,
cada qual um grão de areia),
com espaços já reservado,
para leituras do passado,
que o futuro ainda vai trazer.
Desta cola e desta vontade,
deste tempestuoso bem querer,
com os anos das nossas verdades,
tecemos a nossa colcha,
vivemos nossa odisséia,
e nos deixamos ser trouxas,
Quixotes e Dulcinéias,
duas caras metades.
Zédu - Barão Geraldo, 20 de julho de 2008 http://zedupoca.blogspot.com

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Revoada de pássaros


...Lembro-me da sensação da água fria passando pelo meu corpo naquele dia distante. Sentada no raso do riacho, calor demais, agua que refrescava e o cantar alegre das mulheres lavando roupa.
Que bonito ver os lençois a bater na água, as bacias reluzindo ao sol. Ao longe uma casinha feita de babaçu e logo em frente o pé de cacau. 
Você ja comeu cacau diretamente da fruta retirada do pé? É amargo e sem gosto, mas como foi que alguem descobriu que poderia virar chocolate?
Pensei nisso, me lembro, enquanto deitei no raso do riacho, a água cobrindo parcialmente meu corpo, ouvidos submersos, escutando o barulho da água, rosto ao sol. Senti a vida fresca, alegre e completa invadindo meus poros, o cheiro de capim me alimentando, os pássaros em bando a me embalar, a brisa nos coqueiros a me dizer ai como eu sou feliz!
Então a vida revira e a felicidade muda aportando em diferentes momentos e lugares, transformando-me um pouco a cada vez e me ensinando que a tranquilidade conquistada, aquela que me pertence e me acompanha bem no fundo e sempre comigo, é a que se torna mais importante pois que adquirida com força, persistência e empenho, nunca me deixará. 
Mas quando me lembro das noites deitada na grama olhando o céu, da sensação da ilusão do amor para sempre, da lua cheia, dos bois no pasto, das crianças tomando banho no tacho de cobre, dos barcos cruzando o rio, do fogão a lenha e do riacho de água fria, uma duvida se instala descompassando meu coração e transformando em revoada de pássaros tudo o que vai dentro de mim: paz igual voltarei a viver algum dia?
Tita - 11/09/09

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

???



Sinto ainda o toque no meu corpo e o arrepio dos lábios em meu pescoço. Revivo a língua na minha e o corpo encostado nas costas do meu.
Tremor me percorre nesta lembrança infinda, sentimento me envolve no reviver momentos, sensações tomam minha pele e aonde está você que de mim se aparta a esconder-se em vida da qual nada sei?
Que caminhos percorre, em que acredita, que verdades profere e o que realmente procura neste aproximar que mesmo sem fim se entrecorta e interrompe a cada cair da noite?
Aonde dorme seu corpo cheio de sono, sua pele lisa que não me pertence e o que é feito dos sentimentos que só por escrito transbordam enquanto o olhar no meu, pouco diz?
Recostaremos a dita paixão em lugar comum ou seguiremos distintos caminhos enquanto seu coração, reduzido a mensagens, transformará para sempre o meu? 

Tita – 09/09/2009 – o dia dos números iguais em vidas diferentes

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sou

E então sou mais do que deveria e menos do que poderia.
Sou rios que deságuam em mar aberto e curvas mal traçadas em caminhos que não chegam ao destino.
Sou o abandono despido em lençóis amassados de noites de frio sem cobertor e o escolher incerto dos re-começos trôpegos.
Sou as noites cheias de flores de cores fortes, as feridas feitas de cortes, sou o mel derramado das abelhas sem lar.
E então torno-me o silencio de madrugadas sombrias em que ouço distante meu riso alegre e recolho-me solitária a tecer, incansável, rede que de mim me proteja e que abrigue meu ser solto no ar.
Sou a lágrima que rola e cresce, me toma e afoga-me em lagos distantes que levam ao fundo e não me deixam voltar.
Sou o fundo de areia, a sereia que re-surge, o tempo que urge, o gozo incompleto.
E então me transformo no incerto, no fluido que não se fixa, no abraço sem braços, no aconchego perdido, no elo partido.
E permaneço, atônita e perdida, no oco da musica a preencher o silencio que se torna duro e ímpar, numa noite sem fim.

Tita - terça-feira, 08 de setembro de 2009
Tudo a ver
...
Não é este sossego
que eu queria,
este exilio de tudo,
esta solidão de todos.
.
agora
não resta de mim
o que seja meu
.
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca.
.
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.
Mia Couto - Raiz de Orvalho e Outros Poemas - "Poema da despedida"

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Apocalipse

Enlouquecida. Fecho os olhos e sinto o vulcão dentro de mim, explodindo desordenadamente. Está me queimando. Fico imaginando se quando passo, as pessoas percebem que não sou mais eu. Sou um amontoado de sensações que tem de ser organizadas. Pedaços espalhados que se chocam e soltam faíscas. Estou com mal contato. Estou eletrocutando tudo que toco. Procuro anular meus pensamentos e arrumar cada parte de mim, mas a ordem mudou e não sei mais qual é. Há partes que não se encaixam. Há outras que não vão se encaixar nunca mais. Sou um novo caminho que vou percorrer passo a passo. Sou sensações que não param de explodir; fogos de artifício, bomba atômica, sons, ondas, tufões, cometas, ataques cardíacos, apocalipse. Vou passar por todas elas. Abandonar meus pedaços. Que se espalhem, que rolem, que gritem, rodopiem, me sacudam, me soltem, me libertem e que se encaixem aonde quiserem. Ao final de tudo, olharei para o novo eu que vai surgir e, em seus olhos verei se encontrei a paz. Araguaína - Tocantins - 23/11/1994

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ficção

Estou voando. Atônita, não sei o que acontece. Quero ir mas tenho medo de voar.
Então vejo você ao meu lado, tão suave, parece extensão do meu ser (ou serei eu extensão do seu?).
Tão leve a sua presença, sinto-me livre. Sensação ímpar.
Digo, vamos? Você vem.
Leva-me pela mão e, com você, perco o medo e vou... Alcançamos o alto, em vôo rápido.
Que delicia nossos corpos tão fluidos, flutuando sem barreiras. Você me sorri, eu o chamo e você vem, depois me chama, eu vou e eu chamo, você vem. Como em um ballet, testamos felizes nosso ir e vir nunca experimentado, em rodopios livres e leves, ao sabor do imprevisto e das sensações de nós.
Abandono-me em você, você em mim em abraço forte. Seguramos o momento sem querer deixá-lo pois, sabemos, é pura ficção.
Com esta perfeição, nunca experimentaremos.
Tita 2008 revisto em 1/09/2009