sábado, 30 de janeiro de 2010
O barco e a estrela
Fim de tarde, quase noite, deitaram-se na grama do jardim, olhando o céu.
Se eu pudesse definir, definiria que tudo ia ser como o inventado.
Como assim?
Inventado. Unindo todo o melhor de cada uma das invenções mais bem pensadas.
Tipo inventos?
Não! Tipo sonhos, criações, esse tipo.
Ah!
Ele pensou que ela era bem confusa para explicar as coisas, mas nada disse. Ficaram quietos. Ela tirou o tênis e as meias. Ele olhou os pés dela. Gostava dos pés dela, achava bonitos. Resolveu retomar a conversa (sabia que ela gostava desse tipo de conversa).
E o que você ia querer que fosse como o inventado?
As coisas que eu imagino, as pessoas, a vida alegre, o viver colorido...
Assim como um viver de aquarela pintada, cheia de cores?
Assim mesmo. Cores leves, cores alegres, cores felizes, nada de tensão. Sabe como?
Eu sei. Eu entendo aquarelas coloridas. Você entende? Entendo. Ela gostava disso nele. O entender das meias palavras e das coisas etéreas. O acompanhar da imaginação multi facetada que ela podia ter. Olharam o céu, o dia terminando, o céu avermelhando.
Minha avó dizia que quando o sol se põe vermelho é porque no outro dia vai ter sol.
Que bom, amanhã vai ter sol!
Bom.
Vez em quando eu acho bom sentir frio.
Eu também acho. Se tiver lareira no quarto eu gosto mais ainda...
Você já dormiu em quarto com lareira?
Eu já. Você não?
Não.
Ah...Eu já.
Ele detestava o tanto de coisas que ela conhecia, o tanto que já tinha feito, o tanto de vida que tinha vivido sem ele. Enciumava, ficava remoendo, entristecia.
Você já fez muitas coisas
É, mas cada uma das coisas, mesmo igual, é diferente da outra.
Sei não. Como é que igual pode ser diferente?
Lá vinha ela inventando de novo. Havia momentos em que era cansativo procurar entender os rodeios da cabeça dela. Havia momentos em que desejava que ela fosse mais comum, mais previsível e ainda, havia momentos em que gostaria de poder ser, ele mesmo, comum, repetitivo, normal.
É sim. O acontecido igual nunca é igual e nem gera sentimentos iguais.
É? por que será?
Porque se você olhar o mesmo com um olhar de época diferente, você vê diferente e o corpo reage diferente e você sente diferente. É assim.
Ah...como quando a gente come sorvete de chocolate igual mas de marca diferente.
Pronto. acabava logo com as voltas que a cabeça dela dava.
Credo! Nada a ver!
Que raiva sentia quando ele se fazia de bobo, fingia que não entendia, queria por um ponto final nos caminhos dela. Sempre acontecia quando ela estava achando tão bom tê-lo ao lado, alguém com quem podia dividir imaginações.
Como assim nada a ver?
Eu falo de gente, de sentimento diferente em vida igual e você fala de sorvete?
Desculpe, lembrei de sorvete.
Ta vendo como é difícil conversar?
Ficou quieta, olhou o céu, pensou em embarcar em uma daquelas estrelas, imaginou que a estrela se transformaria em barco, ela remaria leve, quebrando as nuvens, a imaginação dela podendo correr solta. Nem ia leva-lo, ele não acreditaria que é possível viajar em estrela, estrela virar barco, imaginação viajar...Sem duvida quebraria o encanto, o barco despencaria, ela teria de descer e mudar o rumo dos pensamentos, voltar à realidade. Por que ele fazia isso?
Você só pensa em sorvete!
Penso? Deve ser porque quando penso em sorvete lembro de coisa boa, sensação de fresco, gelado...
Você gosta de morder ou de lamber sorvete?
Gosto de lamber você.
Ai, como assim? Eu nem sou sorvete...
Esquece o sorvete! Assim de leve, seu pescoço, seu ombro...
Você gosta de lamber abraçado?
É, abraçado.
Num impulso, encostou os pés nos pés dele, chegou mais perto já se esquecendo das bobagens que ele as vezes dizia. Lembrou-se de que tinha tirado o tênis e as meias. Sabia que quando ele olhava os pés dela, pensava em abraço, beijo, coisa boa...Vai ver era por isso que interrompia as viagens interimaginárias que ela gostava de fazer, vai ver era por isso que falava bobagens. Não fosse interrompida assim, será que fugiria do mundo de uma vez?
Sem beijo?
Não, com beijo! Entremeado.
Me mostra?
Você disse que sorvete não tinha nada a ver, então lamber também não tem.
Tem sim.
Você acha mesmo?
Acho sim.
Assim?
Assim!
Tita - São Paulo, 29/01/2010
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Invenção
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Diversidade
A coisa apenas se instalou.
Não sei o que fez com que tudo se perdesse, num repente.
Não sei quando percebi a falta de nexo,
não sei porque o que era simples tornou-se complexo,
nem sei porque a complexidade tornou-se desinteressante.
Só sei que a diversidade perdeu a graça,
mas tanto e tão derrepente,
que o que era crível se fez descrente.
Tita - São Paulo - 15/02/2010
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Landlord
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
oa, ei, or
Ultimo dia de praia.
Todos foram quentes,
cheios de sol,
mar tranquilo e limpo,
Juquehy, Barra do Sahy, Guarujá,
musica boa, papos profundos,
sol esquentando, sorrisos esperando,
braços segurando, tremores pelo corpo,
abraços macios, gente boa...oa....oa...oa...
Amigas sempre perto, caminhares molhando os pés,
risadas inúmeras, mudanças de cena, paz constante.
Descansei, sonhei, senti, imaginei, escrevi, dancei,
criei, abracei,inventei...ei...ei...ei...
Quem dera ter sempre férias como estas
assim cheias de paz, alegria, amizade,
diversão, calor...or...or...or...
Tita - Barra do Sahy, 14/01/2010
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Reboliço
photo: sea sculpture by Katarina 2353 (flickr)
Ah o que o mar lhe causava!!!!
A paz que tomava conta,
o barulho do de dentro de si que vinha para fora,
o planar na água, calor do sol.
O renovar das células,
o sal que tudo curava,
o boiar nas marolas que fazia efeito de oração.
O corpo que revivia,
a mente que clareava,
a sensação da renovação celular,
a certeza de ser única.
E finalmente o reboliço do acordar do corpo,
que tomava conta de tudo
e fazia com que quisesse sempre e sempre voltar ao mar.
Tita - Barra do Sahy, 13/01/2010
photo: Gracious Power - Katarina 2353 - flickr
domingo, 24 de janeiro de 2010
Lembranças
Sentou-se numa cadeira que encontrou do lado de fora e fingiu que estar sentada ali era tudo o que pretendia desde o inicio. Olhou para o céu, para o chão, para as próprias unhas, pensou no livro que estava lendo, na vida que passava tão depressa, nos amigos, no trabalho e, pensando, o tempo foi passando, esqueceu-se do porque viera e o que fazia sentada ali.
Ficou com sede e entrou, distraída, sem se preocupar com nada além da sede e então escutou a musica, o corpo queria acompanhar o som, mas a sem-gracisse tomou conta de novo, encostou-se a uma parede, fechou os olhos e imaginou-se dançando e deixando o corpo mover-se sem censura e sem planos, nada melhor, pensou, do que não ter amarras mas tinha, e muitas.
Sentou-se, pediu uma cerveja, gostava muito gelada, trouxeram morna, não reclamou mas queria tanto ter reclamando...
A musica parou, voltou para fora, sentou-se no sereno e deixou-se ficar. Relembrou musicas e lugares, re-sentiu acontecimentos passados, re-beijou mentalmente beijos já beijados, re-fez caminhos mentais já feitos e, num repente, o impertencer apossou-se, Clarice Lispector sussurrou em seus ouvidos que ter pertencido uma vez entristecia demais o não pertencimento, Caio Fernando Abreu soprou-lhe a solidão cercada de pessoas e de morangos mofados e ouviu Vinicius de Morais recitando despedidas. Relembrou amores, reviu pudores, desejou ter sido muito mais livre sempre e ter pensado menos em futuro e mais em presente e, voltando ao presente, reviu-se sozinha, ali.
Entrou novamente, finalmente lembrando-se a que viera e viera procurar por ele. Encontrou-o sozinho, sorriu, ele também e então sentiu-se bem vinda, levantou-se e dançou, sozinha, ao sabor da musica, como se este dançar fosse o primeiro, como se passado e futuro se resumissem àquele momento e nada mais.
Tita - Barra do Sahy, 13/01/2010
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Ímpar
Oco
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Amarras
Não sentirei teus dedos suaves a descobrir os recantos da minha pele morena ....
Meu corpo nu não se apertará contra o teu,
nem nossas bocas percorrerão nossos corpos sedentos
Não sentirei teus lábios no meu pescoço
nem o arrepiar da tua pele sob meus dedos ansiosos
Não descobrirei os teus caminhos
e nem te contarei dos meus
O futuro nos reserva apenas momentos roubados,
abraços interrompidos,
beijos entrecortados.
Tita - Barra do Sahy, 11/01/2010
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
D'ocê, de mim
Me aperta e me abraça
faz pra mim uma graça. .
Diz que me quer
assim me sinto mulher.
Me joga pra lá e pra cá
me atiça,
me incendeia
me diz qualquer coisa bonita
me enreda na tua teia. .
Me afaga as costas macio
canta no meu ouvido,
(olha, me dá arrepio)
fala coisa sem sentido. .
Me embala pra todo lado
mostra pra mim teu gingado
me diz que ta bom,
dá risada
e diz qualquer coisa safada. .
Depois me abraça bem forte
hoje ta bom (ai que sorte!)
te achar assim bem disposto
colar no teu corpo e teu rosto. .
Vem me mostrar teu molejo,
vem que eu quero
vem que eu beijo
e depois eu vou-me embora
nem sei quando venho agora. .
Prometo não te esqueço
promete não me esquece
a gente é assim,
a gente se merece.
Somos sem começo ou fim,
não sou d'ocê
cê num é de mim.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Era?
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Poeta Convidado - Telê Ancona Lopez
foto: André Porto Ancona Lopez
LINDAROSAMARIA
SABE CANTOS E BALADAS
ACALANTOS
E CONTOS DE RISO E PRANTO
TECE O TEMPO A VOZ CALADA
.....................NOS ACORDES DE CHOPIN.
.
LINDA ROSA MARIA
SABE DAS COISAS
DO HOJE E DO INFINITO
TÃO ANCILA E TÃO RAÍNHA
NAS SUAS CONVERSAS COM DEUS.
.
LINDA TÃO CHEIA DE GRAÇA
TANTO AMOR NO SEU VIVER.
Telê, 2008
Nesta água molho meus pés cotidianos
Depois os olhos para que eu não perca
a sede de buscar
...................a taça e o copo
...................a rede e a semente.
Telê (2007).
Disparate
Pensativo, andava de um lado para o outro sem saber o que fazer com aquele acontecimento.
Não vou fazer nada, e pronto!
Só que a coisa não saia da cabeça, o dia inteiro, ele repetindo a andança pra lá e pra cá, o pensamento intermitente relembrando o fato, revendo o acontecido, fechava o circulo, voltava ao inicio, assim por horas e dias, sem nunca parar de pensar.
Conversou com o amigo: acho que vou ficar maluco, não consigo parar de pensar. O amigo aconselhou: dá um jeito, uai!
Ele pensou: mas que jeito? Que jeito? Coisa mais disparatada, mais sem nexo, não vou dar jeito nenhum, uma hora esqueço.
E de novo o circulo, de novo o pensamento se repetindo, relembrando o fato, revendo a cena.
Vai ver poderia ser coisa boa...
Mas logo o pensamento virava, impossível de ser coisa boa, era das mais disparatadas, sem nexo mesmo.
Tenho de parar de pensar.
Quanto tempo levaria para sair deste circulo que, já vicioso, teimava em repetir-se? Mergulhou no mar, boiou na água, ficou horas escutando a própria respiração, ouvidos submersos, rosto ao sol.
E então soube: não deixaria de relembrar o fato, rever o acontecido, repetir o pensamento, voltar ao inicio, um nunca parar de pensar. Falou alto para si mesmo: É isso! Sorriu e deixou a vida correr.
Tita - Juquehy, 07/01/2010
domingo, 17 de janeiro de 2010
Inescrevível
O barulho do mar é inescrevível. Como escrever?
Xxxxxxxrroommm....wahhhhh....rrrrrrrrr? Sprrrr......slarshhhh...
Não adianta. Impossível. Inescrevível.
As coisas inescrevíveis ficam na minha cabeça que repete e repete os sons, sem nunca encontrar as letras certas para escrevê-los.
Assim é com alguns sentimentos que não consigo colocar no papel: sensações de barulhos internos, ondas, reboliços e tufões que é impossível descrever.
A parte inescrevível de mim me toma toda por vezes, mas nunca sei como expressá-la, desenhá-la, cantá-la ou mostrá-la. É interna e internamente explode.
É ela que me impulsiona e me transforma.
Eu sou o de fora, mais o que expresso
e mais este intenso e explosivo inescrevível eu.
Tita - Guarujá, 04/01/2010
Rabiscos
Guarujá, 4/01/2010
Não, hoje não vou tomar caipirinha. Vou dar uma pausa.
Moço, traga-me uma cerveja? Itaipava? Skol? Ta bom, bem gelada!
Ah, eu quero um copo. Não gosto de tomar na latinha... Oba, sem espuma, por favor!
Esse avião com a faixa de propaganda fica passando assim o tempo todo?
Eu devia era estar tomando uma água de coco depois dessa caminhada toda ao sol...
Guarujá, 05/01/2010
A gente não devia mexer com isso.
Por que não? Só quando você vem aqui.
Não devia não...não devia não...ão...ão...ã...ooo
.....................................
Quando eu escrever, leia. Mas não acredite em tudo. Eu invento, eu crio, eu mudo, eu pinto conforme o dia, a tristeza ou a folia.
Inventar e criar é meu forte.
Se ficar bom, to com sorte.
Juquehy, 06/01/2010
Não quero de abacaxi. Quero de lima, sem açúcar e sem adoçante.
Eu não gosto de nenhum liquido doce.
Eu gosto de sambinha, de chorinho
Sambão de carnaval não gosto.
Eu gosto de clássicas
E de blues
De rock, salsa,
Adoro fado.
Cadê a minha caipirinha?
......................................
Não vá no fundo. Não ta vendo a placa de perigo? Passou protetor?
....................................
Sabe o que eu acho do que aconteceu? Loucura, absurdo.
........................
Fui lá, segurando o papel escrito na mão. Ia me despedir.
Rasguei o papel, joguei fora, fui-me embora.
E agora?
Juquehy, 07/01/2010
Quando danço sou mais feliz. Danço sozinha, danço com, não importa. Eu danço. E quero dançar. Sem dançar simplesmente não dá.
Juquehy, 09/01/2010
Fiz esta estrela para você. Só porque você me dá alegria, sem nem perceber, desse seu jeito descomplicado e puro.
Puro?????
É, puro!
Tita