Sento-me diante dela,
a folha em branco.
Coloco as mãos no teclado e olho a tela,
aquela,
em branco.
Brilha o branco em luz e há uma certa vibração,
na luz do branco,
que procuro decifrar.
Não sei se o que vibra é
a luz do branco
ou são meus olhos ao olhar a luz.
Não sei se o tremer vem de dentro
ou de fora de mim.
Penso que a realidade é sempre tão duvidosa
e depende sempre de quem a vê
e de como a vê.
Talvez meus olhos tremam
e outros não.
Ou talvez seja a minha tela que,
de tão branca,
treme enquanto meus olhos se mantém estáticos.
Escrevo e enquanto escrevo,
não acredito nas letras
porque sei que hoje,
o que treme são meus olhos,
à procura de algo que preencha
a luz e o branco da tela que,
de tão branco,
convida a mergulhos e,
de tão profundo,
leva-me em viagem ao dentro de mim que hoje,
também,
é branco e brilha e treme,
como a tela.
Tita - São Paulo, 29 de maio de 2010
Tudo a ver
Quero dizer que escrevemos na escuridão, sem mapas, sem bússola, sem sinais reconhecíveis do caminho.
Escrever é flutuar no vazio.
Rosa Montero em "A louca da casa"