domingo, 30 de maio de 2010

Desencontro

Pedi,
não deu.
Perguntei,
calou.
Acariciei,
não sentiu.
Chorei,
não viu.
Desisti,
parti.

Percebeu.

Correu,
deixei,
pediu,
não dei.
Perguntou,
calei.
Acariciou,
não senti.
Chorou,
não vi.
Desistiu,
desisti.

Tita
revisto em 30/05/2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Brincadeira

Desisto:
de mandar mensagens,
de falar coisinhas
de compor estrofes 
e de escrever bobagens.
Fico na minha,quietinha, 
porque não gosto 
de brincar sozinha
Tita - São Paulo 28/05/2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Eu no outro

Eu me apaixono por quem se apaixona por mim, dizia.
Apaixono-me pela paixão que vejo no outro. Pelos olhos brilhando do outro, pelo querer-me e gostar de mim que vejo no outro.
Tinha razão.
Tem graça olhar com paixão e não ter retorno do olhar, apaixonar-se sem ver, no outro, o espelho do amor?
Na época, pensei que era egoísmo da parte dele mas, hoje, sei: ele tinha toda a razão!

Tita, 26 de maio de 2010


quinta-feira, 20 de maio de 2010

Marasmo

Como é que você suporta
ter só o que não importa,
do ido a repetição,
do arrepio o arrefecimento,
mais frieza, sem paixão?
.
Como é que você suporta
ter do presente o vazio,
da solidão ter o frio,
nunca testar desafio,
ter o chão e não o fio?
.
Como,
como é que você suporta
nunca ter alguém à porta,
constatar a alma torta
e ver sempre a cama morta?

Tita
São Paulo, 20/05/2010

sábado, 15 de maio de 2010

Acordes

Acho que fui gerada em musica (não sei o que escutavam naquela época meu pai e minha mãe).
Sei que, sem duvida, nasci em acordes (provavelmente algum em tom menor, o que explica minha voz mais grossa, sempre confundida com a de meu filho).
Devo ter crescido em escalas em clave de fá (seguindo o símbolo da clave, sempre dei um passo atrás e dois adiante, saltando os bemóis).
Hoje amanheço em adágio, passo o dia em andante e as noites em alegro.
Todavia minha mente (aquela que sempre me trai), transforma tudo, infalivelmente, em ópera.

Tita, madrugada de 15 de maio, 2010
Tudo a ver
Meu corpo inteiro se põe a vibrar, como que sacudido por trombetas que respondem umas às outras e que se harmonizam: a incitação deixa rastros, os rastros se ampliam e tudo é (mais ou menos rapidamente) devastado.
Nietzsche - Deleuze - "Nietzsche et la Philosophie" 

quinta-feira, 13 de maio de 2010

I write, you paint



I write about feelings, most of the time.  
Sometimes, feelings become poems, sometimes they're just one word on a cold sentence.
I usually start from a real fact, something I feel, something that happened or something that I’ve listened and then, I just let my mind fly, my hand move, my heart tremble, and I write my soul off. 
If it is not my soul, it's my mind, my imagination, my heart, some hidden feeling, my fantasy, or something I know someone felt. 
And it just goes. 
I don’t control very much. 
Sometimes I think one way but write another. Sometimes I write without even thinking. It depends on the rhythm, on my state of mind, on my loneliness or my happiness. It also depends on the music...
But I am sure you know how it is. 

It is just like painting!

Tita,  13th may, 2010 
To Luise Andersen, who paints feelings.
photo: Luise Andersen:  
THANK YOU LUISE!

Timidez

Quando chega já há muita gente.
Fica na duvida: vai entrar? Ou dar meia volta?
Os pés não conseguem sair do lugar, a perna está bamba. Respira fundo, pensamentos positivos, cria coragem. Fixa o olho em um ponto, o mais longe possível e vai em frente.
Sente seus braços tensos, cruzados com força. Se descruzá-los, aonde colocar as mãos? Descruza os braços e abraça a bolsa . Continua caminhando.
Não vê nada. Apenas segue em frente.
Escuta uma voz ao longe, alguém encosta em seu braço e chama sua atenção. “Que bom que você veio!”. Tropeça, ele segura.
Fica vermelha.
Ele oferece uma bebida.
Aceita.
Ao beber coloca o copo fora da boca. Um fio do líquido escorre pelo queixo e pelo pescoço.
Ele ri.
Ela fica com os olhos cheios de lágrimas.
Ele tira o copo das mãos dela e encosta, seu copo e o dela, sobre um balcão.
Ela pensa em fugir.
Ele a abraça, com carinho, com força.
Ela se aninha.
E perde a timidez.
................
Tita - revisto em 13/03/2010
IMAGEM:
Timidez: anikaviro

terça-feira, 11 de maio de 2010

Carícia


Certos tecidos davam vontade de passar a mão. Então entrava nas lojas, pedia para ver e tocava o tecido, alisava com a mão, não tinha vontade de parar. Como o toque é importante, pensava e perguntava das cores, dos tamanhos, dos preços, só para ficar alisando, alisando o tecido gostoso. Então percebia a pressa do vendedor, "eu volto no sabado com meu filho. Delicia este tecido". E entrava em outra loja, aquele, pensava, deve ser macio, pedia pra ver, ia ficar lindo o filho vestido naquela roupa, alisava o tecido, esse ele ia gostar, e perguntava o preço, a cor, o tamanho, encolhe? esquenta? serve para dias frios? e alisava, alisava o tecido.
De noite, preferia o lençol de malha, o branco de vira amarela, uma malha ótima, lisinha e antes de dormir passava o pé pelo tecido, a mão pelo tecido, macio, gostoso, sem ranhuras, e alisava, alisava...
Até que se deu conta. Esse acarinhamento todo só podia ser saudade. 
Ai que saudade! 
Que saudade tinha de alisar pele macia e deixar sua mão acarinhar, correr pela pele, sentir as curvas, os frios e os quentes, horas sem fim.
Tita - São Paulo, 10 de maio de 2010.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Espirro

SplashII - Bruno Confort  

Se eu falo sério?
Não!
Só espirro letras sobre o papel.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pânico - xô plásticas!!!!

Para minha sobrinha Carolina, mais conhecida como pantufa-carô.


Caró,

Acho que vou encurtar a saia, deixar crescer o cabelo, esticar a pele e arrumar um namorado bem novinho. O nome dele pode ser tipo Fabinho, mas vou chamá-lo de “Fá”.
Vai ser ótimo sair com ele para as baladas, dançar muito, beber de monte e quero um boné para usar virado para trás (você tem algum para me dar?). Vou pedir para ele me levar pr’uma balada dessas que tenha espaço para dançar aquela dança de rua porque acho o máximo se o Fá conseguir girar de ponta cabeça sobre a própria cabeça. Não Caróóó! Eu não vou fazer o mesmo mas não fique pensando que é porque eu tenha algum problema, ou já tenha passado da idade, ou não queira mostrar meus dotes físicos de ponta cabeça. É apenas porque nunca fui do tipo que gosta de plantar bananeira, nem na mais tenra infância. Nada além disso!
Será que um pouco de botox ficaria bem? Sinceramente, acho que ainda não estou precisando. “Todo mundo” diz que eu não aparento a idade que tenho. Como eu fico feliz! Você não fica?
Acho que o consenso geral é de que seria terrível se eu aparentasse a idade que tenho. Fique tranqüila, eu não aparento. Uf, que alivio!
O outro dia antes de correr para o trabalho vi uma apresentadora na TV e num relance pensei que era a Barbie. Tão perfeita que nenhum músculo do rosto se movimentava, e uma saia curtinha mostrando pernas super malhadas. Pernas de menina!!!
Você sabia que existe uma plástica que puxa a pele das pernas para cima e fica tudo super esticadinho? Quando eu aparentar a idade que tenho, você acha que eu deveria recorrer a isto? Aliás, me disseram que dá para esticar também a pele das mãos e, neste caso, o único incomodo é ter de ficar algum tempo com as mãos atadas.
Aí é que está o problema. Mãos atadas é realmente terrível.
Carol, eu não gosto de me sentir atada!
Como vai ser? Se eu não me atar será que o Fá vai querer namorar comigo? E se ele não quiser namorar comigo como vai ser a minha vida?
Estou aqui pensando o que vai ser de mim quando as pessoas me disserem que eu já não estou mais tão ótima “para a minha idade”...
O que você acha?
Por isto estou escrevendo para você.
Você acha que eu posso aproveitar a própria idade sem correr o risco de perder a companhia de todas as pessoas que me cercam?
Carolzinha, por favor responda!
Preciso saber o que você pensa porque o que eu mais detesto é pensar se vou ter de desatar a minha idade e ficar com a vida (esta que eu gosto tanto de viver), completamente atada!

Socorro Carol! Me diz!!!!!!!!!!!!!!!!

Beijo

Tia Tita 
06 de maio de 2010.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

As flores e eu

As árvores derrubaram as flores pelo chão. 
Por que caem enquanto ainda estão tão lindas? Não quero pisá-las e não sei como fazer para chegar ao outro lado.
Esperarei que acabem de murchar, sejam levadas pelo vento como poeira, ou apodreçam no chão. 
Então, poderei pisá-las.
Tirarei fotografias das cores bonitas que se esparramam pelo jardim e na rua, enquanto mergulho na natureza através do vidro.
É isto.
Vou ficar aqui enquanto o manto de flores proibir minha saída.
As flores e eu.  
Tomaremos um copo de vinho?
Tita -05 de abril de 2010

foto: Outono - Francisco-PortoNorte - Flickr 
http://www.flickr.com/photos/francisco_oliveira_portugal/

domingo, 2 de maio de 2010

Porque bem sei, quem eu tanto amei não terei jamais!

Foi-se,
o amar como amei,
o querer como quis,
dar-me como
me dei.
Não mais sorrir
das alegrias 
ou renascer 
da felicidade,
ou extrapolar
e aninhar-me
quando em silencio,
na paz.
Nada mais compor,
escrever,
dedilhar
e cantar.
Foi-se a espera do  futuro,
que não virá.
Nem daqui a trinta 
dos meus muitos anos.
Não mais mergulhar
nos teus olhos,
sentir tua pele,
escutar tua voz.
Vai, sai, 
deixa minha cabeça
em branco,
para que algum dia
quem sabe?
Eu a possa preencher.

Tita - 01 de maio de 2010 

Titulo: Verso da musica "Meu primeiro amor", de Herminio Gimenez