Certos tecidos davam vontade de passar a mão. Então entrava nas lojas, pedia para ver e tocava o tecido, alisava com a mão, não tinha vontade de parar. Como o toque é importante, pensava e perguntava das cores, dos tamanhos, dos preços, só para ficar alisando, alisando o tecido gostoso. Então percebia a pressa do vendedor, "eu volto no sabado com meu filho. Delicia este tecido". E entrava em outra loja, aquele, pensava, deve ser macio, pedia pra ver, ia ficar lindo o filho vestido naquela roupa, alisava o tecido, esse ele ia gostar, e perguntava o preço, a cor, o tamanho, encolhe? esquenta? serve para dias frios? e alisava, alisava o tecido.
De noite, preferia o lençol de malha, o branco de vira amarela, uma malha ótima, lisinha e antes de dormir passava o pé pelo tecido, a mão pelo tecido, macio, gostoso, sem ranhuras, e alisava, alisava...
Até que se deu conta. Esse acarinhamento todo só podia ser saudade.
Ai que saudade!
Que saudade tinha de alisar pele macia e deixar sua mão acarinhar, correr pela pele, sentir as curvas, os frios e os quentes, horas sem fim.
Tita - São Paulo, 10 de maio de 2010.