quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nacos

ELE
Era do tipo que fazia os sentimentos se movimentarem, de uma maneira que ninguém conseguiria igual.
Percebia o real dentro de cada pessoa e, mergulhando na alma alheia, trazia à tona o que teimava em ficar recluso.
Ele, e só ele, percebeu a fragilidade da minha essência.
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CORAÇÃO
Sinto que tenho coração, fisicamente. O músculo a se mexer.
Sinto o meu coração e é aflitivo.
Nunca senti que tenho baço, ou estômago, ou pulmão...
Mas o coração, sinto.
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CORES
Ando no mundo prestando atenção em cores. Há tantas nuances e diferenças...muitas cores de que não sei o nome.
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HERANÇA
Sou a herança dos meus ancestrais e dos que me são mais próximos. Ao formarem-se minhas potencialidades, no útero, vieram a mim os medos, desejos e realizações dos que me precederam.

BARULHO
Difícil escrever os sons dos barulhos. Como descrever, no papel, os barulhos?
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Tita - 29/07/2010

domingo, 25 de julho de 2010

Alma


Se puderes, passa por aqui.
Não quero ver-te...
Mas que tua e minha alma comunguem,
só para que eu me lembre que
sim, é possível!

Tita 25/07/2010
foto: "El Alma del Ebro" sculpture by Artist Jaume Plensa @ Expo Zaragoza. ( Spain, 2008 ) - Paulo Brandão
http://www.flickr.com/photos/paulobrandao/2788050844/

Rimando

Sentada ao relento, rebento
Sonhando o impossível, passível
Lembrando o passado, ilhado
Querendo retornar, voltar?

No fundo de seu peito, eleito
Bem lá dentro sabia, sofria
Que o futuro não lhe reservava, negava
A repetição da alegria, queria?

De tanto esperar, pensar
Já desanimada, cansada
Não mais acreditava, cismava
Que um dia chegaria, viria?

Melhor abandonar-se, largar
E a sonhar ficar, continuar
Fingindo não saber, esquecer
Se de solidão viveria, saberia?

Mas que dor, que dor sentia, sabia
Ao pensar que poderia, um dia
Ter a certeza, tristeza
De que não mais o teria.

Tita - 25/07/2010

sábado, 24 de julho de 2010

Sei e não sei

Tenho estado em silencio de mim.
Falta de algo que me mova criativamente, cansaço de inventar, vontade de calar, muito trabalho?
Não sei, mas sei que gosto deste espaço e não o deixarei.
Gosto das visitas que me lêem e que me incentivam a escrever mais e sempre e mais.
É só me organizar um pouco com o trabalho extra que agora me tomará os fins de semana e as horas vagas e então não faltará o momento de escrever aqui nem que seja assim, num sopro, num momento, num bafo,numa invenção de alegria ou ilusão, ou tristeza, num desabafo.
Sem meu lado criativo me incompleto e viro um simples objeto.
Tita - 24/07/2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

Trauma

Era difícil dizer.
Especialmente aquilo que martelava dentro de seus pensamentos, dia após dia.
Coisa pequena!
A ele parecia que as pequenas coisas eram as que mais machucavam.
Sempre havia essa dúvida. Valeria a pena falar coisas tão pequenas?
Porém aquela, não seria melhor falar já que o incomodava tanto, especialmente aquela?
Pensava em alguma maneira de dizer. Qual seria a melhor forma?
Pensou nos bons momentos que acompanhavam sua vida e nos seus momentos de solidão. Não, não eram poucos...Seriam mais leves não fosse aquilo, especialmente aquela coisa, que o incomodava tanto.
Decidiu-se.
Nada como falar o que lhe ia na alma, nada como livrar-se de todos os fantasmas, fossem grandes, pequenos ou mesmo minúsculos. 
Falaria. 
Deixaria que as palavras jorrassem.
Não precisava planejar. Bastava dizer, sem pensar muito. Afinal, uma coisa tão insignificante...
E então, disse. Falou o que precisava ser dito e repetiu aquilo que mais o machucava.
Quando se calou, olhos vazios o olhavam. 
Rostos inexpressivos, mudos.
Pasmo, deu as costas e retomou seu caminho.
Atrás de si, silencio.


Tita
20/07/2010

domingo, 18 de julho de 2010

Sem volta

É muito pequena a distancia entre a confiança e o nunca mais. 
Entre a entrega livre e o evitar. 
Entre a crença e o temor.
É muito pequena.
O que vai não tem a volta do acreditar sem barreiras, 
do confiar sem limites, 
do olhar que só vê a pureza na retidão.
Percorrem-se caminhos sinuosos. 
Há barreiras e percalços em todos os caminhos.
Estamos sós.
Irremediavelmente apartados e sós.

Tita - 18/07/2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Artimanha

Não importa.
Se causou tristeza, se estranhei, se não era o que eu esperava, não importa.
A musica continua a tocar, as pessoas conversam, a vida corre, a noite apenas começa.
Há mil coisas a fazer, a bagunça tem de ser arrumada, os momentos hão de se suceder.
Não importa o soluço preso que teima em não se soltar.
Não importa a ânsia de inexistir e a decepção.
Não importa.
Afinal, amanhã é sexta-feira, depois vem o sábado...
quem sabe haverá sol?
Tita - 15/07/2010

Tudo a ver
"morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco 
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento"
Mia Couto em - Raiz de Orvalho e Outros Poemas - Horário do Fim.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Não mais

Não sei quando foi que meu coração expeliu o sentimento que o abrigava como se abrigasse uma jóia rara.
Olhei seu rosto e o vi com outros olhos, aqueles que nunca usara para olhá-lo.
Escutei o que dizia de uma forma tão diferente do que sempre ouvira, que pensei ter trocado de ouvidos.
Encostei-me a ele para sentir sua pele e comprovei, não era tão macia como a sentira tantas vezes...ou seria a minha pele que se modificara ao ponto de sentir a dele tão diferente?
Abracei-o querendo novamente apossar-me de seu perfume que me inebriava mas não o encontrei atrás das orelhas.
Beijei sua boca e, incrédula, beijei ainda e mais uma vez. 
Então afastei qualquer resquício de incerteza.
A presença dele se fora e nada mais havia, em mim, que pudesse ser seu.
Não era mais ele e nem era mais eu.

Tita, 14 de julho de 2010
foto: THE END - aftab
http://www.flickr.com/photos/aftab/4791957173/

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Duo

Estou onde não me sinto.
Se me dou já não me tenho.
Se estou só quero estar par,
se estou par sinto-me ímpar.
Se procuro não me encontro,
se me entrego não me acho.
Se me expresso, foge o corpo,
se não falo, me engasgo,
se não penso falo errado
e se penso muda fico.
Então canto e não me escuto
Então grito e não me calo
Então calo e muda estou

Tita em 22/11/06

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Tempestade na areia

Como um tufão, revirou o que era tranquilo, cobriu o que era claro, chacoalhou as crenças, modificou a ordem, abalou as estruturas.
Deixou camada de detritos, fixa e indelével.
Incapaz de vasculhar os cantos, reformar os móveis e recriar o belo que ali vivera, segurou o grito.
Recapitulou momentos em que rodopiara leve e, procurando não extravasar a fúria pelo acontecido, olhou o estrago pela ultima vez.
Tomada de mágoa saiu e fechou a porta, tendo a certeza de que naquela casa branca e pequena nunca mais poria os pés.


Tita - 08/07/2010
foto: André França
http://www.andrefranca.com/places/placestobealone2.html

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sem bagagem

Quando chegar
não traga bagagem,
diga que nada tem, 
que perdeu na viagem.
Quando vier, 
esqueça os pesares,
vasculhe os restos,
ocupe os lugares.
Com passo firme
tome os espaços,
apenas sorria 
e abra os braços.

Tita 15/06/2010

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Pequenez


Era desses que transmite acanhamento e estreiteza. Por onde passasse deixava apenas a brevidade da passagem.
Não que fosse dos que se apequenam por si mesmos. Não. Procurava agigantar-se, mas só o que conseguia era tornar-se entroncado, intumescido e grosso. Lutava em vão por dilatar-se, mas a impressão que transparencia era infalivelmente a da míngua, da escassez.
Chamavam-no Nano, nome que detestava e, apenas de longe em longíssimo referiam-se a ele nos grupos a que ansiava por pertencer.
Nunca conseguiu transcender seus parcos limites.
Nunca conseguiu achar, em sua essência, o que pudesse distingui-lo.
Cansado, desistiu da luta e apequenou-se ainda mais. Contraiu-se, atrofiou-se, minimizou-se.
Tornou-se grão, pingo, ponto, molécula.
Esvaziou-se, 
sumiu.
Tita – 01/07/2010
foto: ponto de convergência - Jony Cunha
http://www.flickr.com/photos/jonycunha/4022906268

Tudo a ver
MEU DICIONÁRIO ANALÓGICO CHEGOU!!!!
Tita