domingo, 29 de agosto de 2010

Aranha alucinada

Na teia da aranha
Ficou surpresa. Não sabia que o simples fato de passar naquela rua a faria lembrar-se. Pensava ter-se esquecido totalmente  mas ali estava re-vendo, re-pisando, re-lembrando cada detalhe.
Os pensamentos deslizavam pelo espaço entre o lembrar-se e o esquecer-se, assim como todos os acontecimentos deslizavam à sua volta. Quero ver se aguento, pensou. Afinal, é apenas acelerar e ir em frente.
O sinal abriu e não conseguiu mover-se porque a lembrança se apossara de todos os espaços, entrara dentro do carro e grudara nela como uma teia, viscosa e mole.
Deitou a resistência no visco da teia e deixou-se levar, abandonando qualquer tentativa de modificar os acontecimentos.
Perdeu o senso, o tempo, o espaço.
Quando voltou, tinha virado aranha.
Tita - 28/08/2010

foto: Na teia da aranha - Jony Cunha
http://www.flickr.com/photos/jonycunha/4376150714/

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Quero água!

Hoje li uma manchete de jornal, naõ sei aonde que, em letras garrafais reclamava do tempo seco.
O secume atrapalha, traz doenças, resseca os narizes, nos faz dormir mal e acordar cansados.

Acho que foi o secume que atingiu minha cabeça, fazendo com que eu tenha escrito tão pouco.
Deve ser mesmo o secume do ar que tem se apossado de mim ultimamente. Vai tomando meu corpo,  deixa-me eternamente cansada, encobre meus movimentos, embota meus pensamentos.
O secume atingiu minha cabeça e sentou-se com força sobre minha criatividade. Como um ditador (pensei que tinha me livrado de todos eles!) define: agora você não cria. E ponto.
Hoje distraiu-se. Deve ter adormecido, sinto-me um pouco mais leve e dada a rolar os dedos por este teclado. Meus pensamentos arriscam sorrisos apesar do dedinho do pé quebrado, (isso mesmo, o esquerdo) e dedinho do pé quebrado traz lembranças que me fazem sorrir. Um dia, um dedinho quebrado...
Sim, tudo culpa do secume no ar.
Logo virão águas. Entrarei numa cachoeira e escreverei vertentes que crescerão em rios e tomarão todos os espaços deste branco que teima em se apossar daqui.

Tita - 20 de agosto de 2010
Foto: Monjolo - Orley Antonaglia - http://vanorley.blogspot.com/

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

alma
















Leve torpor que m'encobria a alma
Como se jamais fora minha
Hoje tremula, vê longe a calma
Dos dias em que ind'eu a tinha.
.
Fugiu numa tarde quente
em que eu estava a vagar
deixei-a de lado, descrente
e não voltei p'rá buscar.
.
Sozinha ficou ao relento
aturdida, a chamar e chamar
mas não respondi desatento
e a deixei a chorar.
.
Longo tempo se passou 
sem ela eu muito vivi
fez falta e dela restou
o pouco que eu mostro aqui.

Tita - revisto em 11/08/2010

foto: alma ponto de luz
Leonardo Valverde: http://www.leonardovalverde.com

domingo, 8 de agosto de 2010

Colheita de luzes

O que eu fiz durante este tempo?
Colhi luzes. 
Foi isto.
Com elas iluminei meu caminho; esquentaram-me nas noites de frio e através delas tive momentos de leitura e de anotações de pensamentos.
Colhi luzes.
Clarearam salas e corredores por onde passei e através delas pude ver expressões nos rostos,  mensagens nos semblantes.
Colhi luzes.
Foi isto.
Com elas vesti-me de energia e de vida.
Fiz-me clara e pus-me a brilhar.

Tita -  07/08/2010
foto: luzes - V.M.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

In-vivido


                             
Garoínha fina. Caminho apressada no frio da noite. 
Passos compassados, não posso parar, 
a vida corre, o vento me impulsiona.
Aqui vim para estar sempre em busca, 
viver o in-vivido, a cada curva. 
Novas pessoas, sabores diferentes, 
paisagens nunca vistas, novos sons.
Mesmo o que repito é i-repetido e,
o ja acontecido,  impulsiona-me para o que ainda não veio.
Ocorre que talvez, eu ainda não tenha chegado...
Provavelmente devo chegar quando for a hora 
mas enquanto não chego,  alimento-me de nuances.
Boa a sensação do não ter chegado ainda.
Na verdade não quero chegar
permanecerei in-chegada e simplesmente in-concluirei.
não há sabor melhor do que o da in-finda busca.
Tita - 03/08/2010
foto: olhares - A favor do vento: Jeferson Müller Timm