terça-feira, 30 de novembro de 2010

Nem que seja!

Acho que são outros momentos, estes. Diferentes dos tranquilos meus conhecidos.
Talvez sejam momentos de irritação da natureza; trovoadas, mar bravo, onda que teima em me submergir.
Vulnerável e incapaz de reagir deixo-me afogar e vir à tona, afogar e vir à tona e de novo quase afogar. Nem abro os olhos e procuro não pensar.
Quando o tumulto acaba, solto meu corpo e bóio no mar, deixando que a chuva lave meu rosto com a água doce enquanto o corpo arde no sal.
Se a onda vem novamente, deixo que me leve e traga e embole e quase me afogue, enquanto engulo o sal do mar. Faz parte.
Não há possibilidade de nadar contra a corrente.
Em momentos assim, o melhor é navegar conforme a maré...

Nem que seja para engoli-la!


Tita - 30/11/2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Outros ventos



Se existe algo de que nunca tinha gostado é do vento. Incomoda-me, fico com os olhos ardendo, dor de cabeça, falta de ar, fujo, encontro lugar protegido.
Porém, como tudo tem alguma mudança durante a vida, peguei-me tendo momentos muito alegres ao vento, em minha ultima viagem.
Terá sido este vento algum vento diferente que, por este motivo, não me causou os incômodos de sempre?
Será que o vento, vindo de outros mares, principalmente o da cor mais linda que já vi, trar-me-ia sempre a sensação que me trouxe?
Adorei o movimento, a farra do voar dos cabelos e das roupas, as risadas, o inesperado da situação.

Viajar muda tudo!

Tita – 29/11/2010
foto: acervo pessoal -
Valparaiso -15/11/2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Chile

El blog camina. Chile y lagos andinos. Quien sabe encontrará  inspiración mayor, la que transforma todas las cosas en dibujos de sentimientos en el papel.
El blog va a los Andes, y quiere, al regressar, llenar los espacios en blanco.
El blog va, pero vuelve.
Tita - 13/11/2010202

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Afogado


Já la ia o tempo em que se afogava a cada momento. 
Afogava-se  nos pensamentos que o assaltavam ininterruptamente, nas decisões que tinha de tomar.
Sentia-se sufocar procurando achar a decisão correta para que pudesse, enfim, largar a mente. Conseguia, mas não sem antes afogar-se e era só depois de muito afogamento que algum pensamento salvador trazia a decisão que, finalmente, o resgatava.
Ai que alivio! 
Lá se ia o tempo do afogar-se em sentimentos que, de tão fortes, o levavam ao fundo enquanto se debatia procurando emergir, sem êxito. Então, afogava-se e novamente se afogava, até que fugia de qualquer coisa que sentisse, só para que não lhe trouxesse o afogamento, a falta de ar.
Já lá ia o tempo pensou, satisfeito.
Que bom que já lá ia.
Bom...
Num repente a tristeza, enorme, tomando conta, ocupando os pensamentos, os espaços, a casa, o ar.
Uma lágrima escorrendo pela barba, pelo pescoço...segurou com as mãos.
Que vontade, que vontade enorme e louca tinha, de novamente se afogar.



Tita, 10/11/2010

foto: flickr 
Afogamento, por lotusazul
http://www.flickr.com/photos/lotusazul/4155533929

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O eu

Escondeu-se no arvoredo só porque lá havia sombra e era silencioso.
Como ninguém soubesse aonde estava, fizesse o que fizesse ninguém o veria, julgaria ou  aconselharia.
Agora sim, pensou, posso ser eu mesmo.
Decidido disse alto: agora posso ser eu, Eu, EU!
E ficou imóvel, esperando o eu que não chegava.
Cansado da imobilidade andou um pouco, falou sozinho.
Dizer o que para mim  mesmo?
Sentou-se, conversou um pouco com as árvores, cantou, a voz saiu fraca e sem força. O pensamento não elaborava nada.
Levantou-se, saiu do arvoredo e caminhou em direção às pessoas que, sentadas em circulo cantavam, comiam e conversavam.
Enquanto cantava, juntando-se ao coro, o pensamento voltou a fervilhar.
Tita - Vinhedo, 2/11/2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vento, ventania


Coxas entre as coxas, não sentiam frio. Abraçados, escutavam as rajadas de vento que invadiam a casa na noite de inverno.
O barulho fazia com que se abraçassem mais e mais forte.
Imóveis e nus, não tinham coragem de levantar-se.
Mesmo porque, disse ele, aqui está ótimo.
Ela concordou: levantar-se por que?
A segunda-feira chegou e não foram trabalhar. O telefone tocou não atenderam, a campainha insistiu na porta de entrada, o interfone chamou mais de uma vez, desligaram os celulares.
Riram, abraçaram-se e ali ficaram.
Numa manhã, um raio de sol entrando pela janela os acordou. O frio já não era muito, jogaram o edredom no chão. Ela correu até a cozinha e buscou comida.
Conversaram, perguntaram-se ideias e opiniões, descobriram o em comum, fizeram planos.
Telefonaram para o local de trabalho e informaram, cada um a seu tempo, que haviam ficado presos em local sem telefones.
No dia seguinte levantaram-se, vestiram-se e, despedindo-se com carinho, foram trabalhar.
Ela pensou vou telefonar, mas não telefonou, ele pensou vou telefonar, mas não telefonou, ela pensou vou convidá-lo, mas não convidou, ele pensou vou passar lá, mas não passou.
A vida atribulada, o muito trabalho, as obrigações sociais, o cansaço...
Nunca mais se viram.

Tita - Vinhedo, 2/11/2010
Tudo a ver
"O real não está na saída nem na chegada.:ele se dispõe para a gente é no meio da travessia"
João Guimarães Rosa

foto: olhares - Raquel Aragão

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Angel


Viu um vulto.
Talvez pudesse chegar perto e, como se nada fosse, lançar perguntas...
Não, isso seria complicado, poderia afugentá-lo.
Talvez devesse apenas colocar-se ao lado, sem nada dizer.
Transmitia paz. A luz, a cor, os gestos, a voz longínqua que soava como acordes que a enlevavam.
Passo a passo aproximou-se. Cada vez mais perto, cada vez mais nítido o alcance, o nirvana.
Então, o vulto abriu grandes asas, elevou-se e desapareceu.

Tita - 01-11-2010
foto - google