quinta-feira, 31 de março de 2011

Maçã


Fiquei sentada lá. Não sei por quanto tempo.
Comi uma maçã pequena e depois mais uma.
Acho que não pensei em nada. Só eu ali, sentada em um banquinho em um canto escuro de um lugar pequeno.
Eu e o meu desanimo.
Fazemos boa companhia um ao outro. Andamos juntos, tomamos café, executamos tarefas e mais tarefas, nos abraçamos, caminhamos ombro a ombro, e nos sentamos para comer maçãs.
Já nos conhecemos há algum tempo e compartilhamos da solidão e da falta de crença em modificações que nos animem. Assistimos quase todos os dias a um mesmo filme e trocamos ideias sobre pequenas novas cenas que foram colocadas aqui e ali.
Costumávamos nos empolgar, desenhar novos enredos, queríamos abraçar desafios e alimentar repaginações. Hoje apenas nos olhamos e, compreendendo um ao outro, ficamos quietos.
Quando chega a hora de ir embora nos despedimos. Entro no elevador e me vou.
Não o levo comigo pois é ali sua morada e é ali que ele fica bem.
Dele me esqueço chegando ao térreo.
A porta se abre, alcanço a rua, sorrio, e vou ao encontro da vida. 
Tita 31/03/2011


segunda-feira, 28 de março de 2011

Só isso!

Quer conversar? 
Não sei se tenho vontade...conversar sobre o que? 
Invente você o assunto, eu não tenho nenhum. 
Não, não estou preocupada, não há nenhum problema. Se tenho uma explicação? Não sei... acho que é descrença, acho que é isso...sabe um buraco no ventre, um rodamoinho, um vento? É assim. Não sei explicar mais do que isso. Na verdade é só isso.
Conte alguma coisa, se quiser. Enquanto conta, vou me interessar, vou escutar, você vai ver. Está vendo? Achei muito interessante. Conte mais. O que você falou? Não me lembro. 
As coisas passam depressa, não as tenho guardado mais do que por aquele segundo em que as vejo ou escuto. Quando passam, passaram. Viver o momento? Há momentos que são vividos em um segundo. Depois é esquecê-los. 
Quer que eu me lembre? Não vai ser possível. Tudo para mim é inlembrável, é uma questão de esvaziar qualquer retenção de memória, de lembrança, de pensamento. Por que? Não sei... acho que é descrença, acho que é isso...sabe um buraco no ventre, um rodamoinho, um vento? É assim. Não sei explicar mais do que isso. Na verdade é só isso.
Durante algum tempo procurei analisar os fatos, colocá-los em ordem, achar os significados. Muito complicado! Quando pensava ter encontrado as respostas, tudo se embaralhava novamente. Agora não penso mais, estou me especializando no impensar. É muito interessante, você deveria tentar, é dificílimo mas consegue-se por alguns segundos, ínfimos, do mesmo tamanho daqueles em que se guardam as coisas que passam enquanto as vejo ou as escuto. Não pense que é fácil. Especializar-se no inlembrar e no impensar é cansativo, exige vigília contstante. Por que insisto nisso? Não sei... acho que é descrença, acho que é isso...sabe um buraco no ventre, um rodamoinho, um vento? É assim. 
Não sei explicar mais do que isso. 
Na verdade é só isso.
Tita - 28/03/2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

Às vezes

Um dia na vida tropeça-se em alguem que nos percebe e que só percebemos quando o fato de termos sido percebidos se faz claro. Então nos espantamos, e ficamos extasiados, e queremos agarrar, segurar, abraçar, mergulhar na troca  gratificante das palavras, dos sentimentos, dos mesmos livros lidos, das frases grifadas e re-grifadas, das percepções.
Às vezes isso acontece.
Às vezes.
Tita - 25/03/2011

terça-feira, 22 de março de 2011

Menina


Eu vi a menina sentada na pedra.
Movia a cabeça com graça, cabelos louros com mechas claras brilhando ao sol.
Ao olhar-me sorriu, sabendo-se observada.
Desceu de onde estava e subiu em outra pedra próxima, um pouco mais alta.
Equilibrando-se, andou por todo o topo da pedra grande, braços abertos, sorindo-me a cada passo.
Olhou para o céu, movimentou os braços com força, sorriu-me novamente e voou, devagar, alto e um pouco mais alto, sorrindo...rindo..sorrindo...rindo, indo, indo...
Por que eu, quando criança nunca voei?

Tita - 22/03/2011


terça-feira, 15 de março de 2011

Aquele!


Faz falta o sentimento, aquele.
Um que toma o corpo todo, arrepia a pele e espalha um quentume que não se consegue esquecer
Faz falta aquele quê de tontura,
o pensamento fugidio e sem parada, olhos perdidos no sem limite do céu.
Falta o sorriso fácil,
aquele que antecipa o que se sabe vem, e que recebe o que sempre chega.
Faz falta o torpor,
o corpo que levita, a ansiedade que assalta e, num repente, se esparrama pelo chão.
Faz falta o sentimento, aquele.
Só ele.
Tita - 15/03/2010

Tudo a ver
"Pretendo descobrir no último momento, um tempo que refaz o que desfez;
que recolhe todo sentimento e bota no corpo uma outra vez."
Todo o Sentimento - Chico Buarque e C. Bastos


sexta-feira, 4 de março de 2011

O largo da bola


Cronica minha na revista "Aqui".
numero 4, pagina 32