terça-feira, 19 de julho de 2011

Regime

Escrever, escrever.
Isso. Escreva
Não dá
Por que?
Sem assunto
E precisa assunto para escrever?
Mas se não for um assunto, escreve-se sobre o que?
Uma coisa, por exemplo...
Uma coisa?
É, escreva, por exemplo, sobre uma palavra
Difícil. Que palavra?
Por exemplo: escreva sobre a palavra regime
Escrever sobre regime?
É. Regime.
E o que eu escreveria? Eu poderia escrever que seria bom fazer regime de você.
De mim? Como assim?
Ah como é bom fazer regime de pessoas. Regime de ver pessoas e escutar pessoas que ficam insistindo para que façamos coisas que são difíceis de se fazer naquele momento.
Vou fazer regime de você. Porque você insiste para que eu escreva, porque você fica aí repetindo, porque você quer me forçar a uma impossibilidade momentânea que deveria respeitar.
Vou fazer regime da sua voz e das suas palavras. Porque você fala demais e fala palavras que não são macias e nem gostosas de escutar.
Vou fazer regime das suas palavras gordas e pesadas que caem sobre mim como chumbo. Eu chuto as suas palavras como bolas mas elas voltam, bolas pesadas, e voltam e voltam.
Ai que regime bom que vai ser não ter mais as suas palavras me dizendo coisas.
Pronto.
Viu? Escreveu ou não escreveu?
Tita - 19/07/2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ciúme

Quando viu, sentiu a avalanche que tomava conta de todos os órgãos, turvava os olhos, embotava os movimentos. Dizer o que? O cérebro não respondia. Lentamente procurou uma cadeira, tateando, quase cega. Sentou-se e olhou sem ver, coração disparado, mão à frente da boca segurando alguma coisa parecida com vomito, soluço, grito? Gritar seria humilhante, vomitar degradante, chorar não. Não choraria.
Sem ação.
Talvez parecesse plácida para quem a visse. Semblante adormecido, mãos caídas sobre as coxas. Ah se soubessem o que estava sentindo!!!!
Se pudessem fotografar todo o reboliço do de dentro!
Mas o trunfo era este. Não podiam e nunca saberiam pois não diria a ninguém.
Ficaria ali. O ciúme roendo, roendo, comendo cada pedaço,
até o fim.

Tita – 01/07/2011

Com os agradecimentos à querida Sylvia Loeb que me intimou a escrever.