segunda-feira, 25 de junho de 2012

Frenético

imagem: Fuka - http://www.fuka.com.br

Tinha sensações fortemente tremulas.
Chegavam desavisadas transformando-se, num repente, em  ciclones, tufões internos, ondas gigantescas. Tão fortes como o sentir dos pelos que, eriçados, encostavam-se uns aos outros, espalhando  a sensação pelo corpo todo.

Era então que  vinha a urgência, a premência, a necessidade de colocar fora de si o que ia pelo corpo.
A mente transportava  os sentimentos dando ordens às mãos que, em um balé frenético, espalhavam uma explosão de cores.
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Tita 25/06/2012
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Tudo a ver
"Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma
Mia Couto em"Raiz de Orvalho"

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Plus


Dançar no ritmo da musica, braços soltos, 
rodopiando livre e sem preocupações.
Abandonar o corpo, a fala, o riso, 
ao sabor do que for.
Sentir a batida dos compassos e a alegria ao redor.
Cantar sabendo-se feliz por desfrutar tais momentos
da sintonia do todo, 
das amizades que alegram, 
dos olhares que enlevam,
e dos pensamentos que, 
ao infinito,
me levam.

Tita - 18/06/2012
foto Martin S - Bigfatten

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Ai que linda namorada você poderia ser...

Era uma adolescente irriquieta, curiosa, alegre. 
Quando o conheceu apaixonou-se imediatamente. O jeito dele, o modo de falar, a atenção que lhe dava, o fato de ser mais velho. A partir daí sonhava com ele, pensava nele, imaginava-se com ele.
Ele? Fazia charme, aproximava-se e se afastava, queria e não queria. Um dia dançaram de rosto colado, em outro deu-lhe uma musica de presente, mas nada além disto.
Ela sofria, criança apaixonada. O coração disparava a cada vez que o via; cada atenção que recebia dele parecia uma declaração de amor; um carinho despretensioso podia deixá-la em enlevo por várias semanas. Sonhava, sonhava, sonhava: um dia ele iria perceber o quanto seria feliz com ela, iria beijá-la e abraçá-la, seriam felizes para sempre.
Naquela noite, irmãs e amigos a levaram para uma "boate", a primeira vez que saia para uma "noite" de adultos . Pensou que iria encontrá-lo mas ele não estava lá. 
Ela, que havia se arrumado toda para ele, entristeceu. Perguntando, soube que ele tinha ido dançar uma valsa de formatura com a antiga namorada.
O ciume tomou conta, tremia, queria chorar e não podia, estava detestando a noite, tomada pelo terror que lhe causava saber que ele estava dançando com outra, aquela que ele provavelmente queria e amava.
Ficou quieta, olhando os outros que se divertiam, o estomago contraído, o coração apertado, o soluço querendo escapar. 
Então, bem mais tarde, ele chegou. 
As lágrimas pularam, disfarçou.
Ele veio alegre, ela fingiu que não viu. 
Chamou para dançar, ela disse que estava cansada.
Puxou assunto, ela ficou calada, roendo-se de ciume, incapaz de dizer qualquer coisa.
Na hora de ir embora foram no mesmo carro, os dois sentados no banco de trás, outro casal na frente, o radio ligado.
Foi então que a musica começou a tocar: "se você quer ser minha namorada, ai que linda namorada...".
Ele segurou seu rosto, olhou firme nos olhos dela e disse: escute a musica, é isso que eu quero.
Ela, enciumada, irritada, nervosa, falou: mas eu não quero.
Ele, sem graça, pediu para pararem o carro e desceu. 
Chance perdida para sempre.
Ele casou-se, com alguém outro. Ela chorou.
Após alguns anos separou-se. Então, reencontrou a antiga namorada, aquela  com quem dançou no dia do ciume... 
Casaram-se e estão juntos até hoje.
Ela, casou-se, teve filhos, separou-se mas, de vez em quando, ainda se lembra.

Tita 13/06/2012



sábado, 9 de junho de 2012

A outra



Uma parte de si agia
e outra só assistia.
Assim, a que vivia
era aquela que agia.
Mas, enquanto só vivia,
não pensava nem sabia
que aquela que assistia,
emocionada, percebia
ser aquela que sentia.

Tita - Vinhedo, 9-06-2012
foto - Tita  - sentimentos

imagem: José Carlos Rocha Carvalho

terça-feira, 5 de junho de 2012

Tipo assim?

Tipo assim: dividimos as tarefas, eu faço uma parte, você faz outra.
Dividimos as despesas também. Fifty fifty?
Quando se trata do cuidado com os cães e o gato, cozinhar e lavar a louça, tirar o lixo e tudo o mais, um  pouco você e um pouco eu.
Faxineira duas vezes por semana, limpa a casa e em um dia passa a sua roupa, no outro a minha.
Detesto arrumar a cama...Podemos arrumar juntos?
Precisamos nos divertir, e muito. Acho ótimo jantar fora, ir ao cinema, adoro barzinho com musica, original gelada, muita praia, dançar seja lá aonde for. Tudo bem, vamos também para as montanhas, acompanho você (timidamente) no vinho, jantamos em casa comida caseira. Vamos ler muitos livros e trocar idéias sobre eles.
Um pouco você e um pouco eu.
Seria ótimo se você me surpreendesse vez por outra: convide-me para um restaurante que não conheço, programe uma viagem gostosa, compre as entradas para um show de musica muito boa, apareça com uma roupa nova, conte-me uma novidade, faça-me rir muito, combine um programa com seus amigos.
Posso acompanhá-lo nas caminhadas, trocar idéias sobre seus interesses, visitar exposições de arte, contar histórias com detalhes como você gosta, faze-lo rir, convidar pessoas para comer em casa, ficar linda para um jantar surpresa à luz de velas
Um pouco você e um pouco eu.
No amor quero ousar e ser surpreendida com ousadias, dar e receber, endoidar e ser endoidecida.
Um pouco você e um pouco eu.
O que você acha?
Pode ser tipo assim?


Tita  05/06/2012



domingo, 3 de junho de 2012

Monstros

Havia um corpo estranho dentro dele. 
Podia senti-lo movendo-se pelos caminhos do sangue e depois instalando-se, misteriosamente, hora em um órgão, hora em outro.
Tinha medo de que algum dia se instalasse no coração e que seu peso fizesse o coração parar de bater. Algumas vezes conseguia esquecer-se dele e então podia andar leve pelo mundo, sentindo-se igual aos outros.
Quando ainda jovem costumava perguntar aos amigos se sentiam o mesmo mas logo achara melhor calar-se porque não encontrara ninguém que, como ele, carregasse dentro de si algo que não era seu. Se falavam no assunto, dizia que nunca mais sentira nada, que provavelmente fora sua mente adolescente e criativa que o fizera sentir coisas bizarras.
Porém aquele corpo continuara ali, dentro de si, desde o mais remoto que conseguia lembrar-se.
Naquela noite, acordou sobressaltado, escutando uma voz que o chamava. "Quem é? (gritou) Quem é?"
Então a coisa se mexeu (dentro dos rins desta vez) e a voz veio de dentro, como um jorro incontrolável. "Eu, aqui!"
Pulou da cama socorro, "sai dai, quem é você?"
"Eu sou o corpo dentro do seu corpo. Aquele que você deveria ter sido e não foi. Chegou a hora."
Apavorou-se."Como? O que vai fazer?"
"Vou comer você, aos poucos. Não se preocupe, será indolor. Comendo seus pedaços internos, poderei finalmente ser eu."
Chamou a mulher e a filha,  tremendo de medo, contou, pediu ajuda. As duas entreolharam-se e disseram "você precisa descansar".
Mais uma vez constatou que ninguém acreditaria nele, ninguém o entenderia.
"Sim, descansar."
Deitou-se e fechou os olhos. A coisa andando dentro dele, movimentando-se como nunca. Encolheu-se, ficou imóvel e, com horror, sentiu-se esvair, aos poucos, aquela coisa movendo-se com uma rapidez que nunca tivera. 
Adormeceu.
Quando acordou não sabia aonde estava. Levantou-se e ao olhar para a cama levou um susto. Havia um corpo ali, sem vida, encolhido sobre os lençóis.
Uma mulher chamou "venha tomar café!"
Disse "já vou''. E, imóvel, riu, vencedor, enquanto via aquele corpo sobre a cama sumir, virar neblina e sair pela janela.

Tita 03/06/2012

Tudo a ver
" Mas você perdeu lances fundamentais da minha vida. Do jeito que anda relapsa, quando você compilar minhas memórias vai ficar tudo desalinhavado, sem pé nem cabeça. Vai parecer coisa de maluco..."
Chico Buarque em "Leite Derramado"