domingo, 22 de julho de 2012

Guarida

Falamos a mesma língua
nos olhos, na alma
e nos sentimentos.
Nossos gestos se parecem,
nossos movimentos se misturam,
nossos corpos se  conversam.
Quando refletimos
andamos no mesmo ritmo,
elaborando futuro igual.
Com ele emudeço na paz do  bom emudecer.
Na quietude, compositores de uma única melodia,
arquitetamos os mesmos sons.
Entrego-me ao seu abraço 
em doce abandono,
porque é ali minha morada,
meu alegre refugio,
minha guarida segura,
minha lascívia,
meu aconchego
e minha finalmente paz.

Tita 22/07/2012


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Tremeliques


De onde vem não se sabe,
a aflição, o aperto, o sufoco.
Não se sabe o ardor no peito, 
o suor no frio da noite.
O medo do alto, o passo atado, 
o terror do escuro, o silencio abafado.
Não se sabe o fim da procura incomensurável
o oco inenchível, o aquecer impossível,
o riso calado, o prazer inalcançado.

Tita - 16/07/2012

Tudo a ver
"...ergueu as mãos grandes e frias, como se as quisesse pegar, e logo as deixou cair. Foi até a lareira, em cujo console estava seu Buda preferido...Ele sabia de algo; ele tinha um segredo: "sei uma coisa que você não sabe", disse seu Buda. Oh, o que era, o que poderia ser? E ainda assim ela sempre sentiu que havia...alguma coisa havia."
Katherine Mansfield em "As filhas do falecido coronel"


sábado, 14 de julho de 2012

Lentes cor de rosa


Há um momento em que o desenho se define;
em que a realidade se mostra nítida, 
sem borrões ou nuances.
Momento da constatação; 
da retirada das lentes cor de rosa 
que procuram a todo o custo, 
enxergar o que não se mostra.
Momento duro e estático, 
em que o quadro se torna claro e sem sombras.
Mas então a resistência em colocar a moldura, 
achar o melhor lugar na parede e congelar a realidade...
Procuramos em vão melhorar as cores 
e esfumaçar as quinas da pintura mesmo sabendo 
que em nossa aflição, a arruinaremos,
e o quadro não se salvará.


Tita 14/07/2012

Tudo a ver
"Exercitam o desprezível nos escombros da jangada 
que gira e gira em torno de si mesma, 
sempre no mesmo ponto inútil, 
em direção a coisa alguma, 
enquanto o tempo passa e tudo vira nada."
Caio Fernando Abreu em "Pequenas Epifanias"

foto: Erica Becker -  http://www.flickr.com/photos/ericabecker/4643786216/sizes/m/in/photostream/

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Só azul


Trazia sentimentos em uma bandeja etérea
oferecendo-os com um sorriso, um a um.
Amoldavam-se aos poucos ao meu corpo,
faziam-me sentir!
E viver em profusão.
Trazia palavras em um abraço forte
oferecendo-as com calma, uma a uma.
Amoldavam-se aos poucos à minha alma,
faziam-me pensar!
E viver em profusão.
Trazia risos em uma linda gargalhada
oferecendo-os com euforia, muitos em um.
Amoldavam-se aos poucos vibrando meu ser,
faziam-me rir!
E viver em profusão.
Trazia flores, e sonhos e muitas cores
que uniram-se resolutas, todas em uma. 
Amolda-se longínqua ao azul do céu,
faz-me lembrar!
E viver em solidão.

Tita 11/07/2012

imagem: Ivan Piven
http://www.sxc.hu/photo/1390438

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Tecer


Cinza claro, grafite, branco, vermelho e coral
Em cores vou tecendo a vida
Pois que só vale a pena,
Se colorida.
Tita - 06/07/2012

Tudo a ver
"Quando recupero a razão, enlouqueço"
Julio Ramón em seus "Diários"

terça-feira, 3 de julho de 2012

BAEPI


Foram tantas as coisas que perdi!
Voltasse no tempo faria diferente?
Seria aquela que faz parte do grupo tão feliz 
que aquelas fotos mostram?
Viveria vida diferente?
Tantos acontecimentos que não vivi!
Alguém então viveria a vida que foi minha 
e tornar-se-ia esta
que hoje sente a nostalgia do que não foi, 
a saudade do que não fez?
E tivesse sido eu outra teria, vivendo o que vivi, 
sentido o que senti?
Terei eu, vivendo a vida que vivi, 
ganho mais do que perdi?

Tita - 03/07/12

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ocultos


Um não se mostra inteiro,
Outro não se deixa ver.
E como em busca de agulhas no palheiro,
Procuram a razão de ser.

Tita 02/07/2012

Tudo a ver
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?
nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho.
Hilda Hilst em "Cascos & Caricias e Outras Crônicas"

Imagem: Esconderijo - Marianoff