quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Em cantos



Vinhos combinam com queijo
e com conversa gostosa,
com odores, gostos, sabores,
e com dedos de prosa;
Rimam com cerejas e uvas,
com noites quentes, sem chuvas;
E então com risos e cantos
e com dos olhares...
encantos.
Tita 22/08/2012

Tudo a ver
"Mas seria isso "felicidade"? Não. A palavra tão grande não parecia encaixar-se, não parecia referir-se àquele estado de ser que espiralava em lâminas rosadas em torno de uma luz refulgente"
V. Woolf em contos completos - "Felicidade"

imagem: HybridSys
http://www.sxc.hu/photo/1337577

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Parentando


Lembrava-me dos meus priminhos ainda pequenos em uma reunião de família; Ela já estava lá com a mãe e o irmão chegou com o pai. Então eles, tão pequenininhos, abraçaram-se com muito carinho, beijaram-se e riram da felicidade de se encontrar. Na ocasião pensei: quando tiver filhos, quero que se abracem assim. 
Por causa desta cena que ficou sempre comigo, ensinei meus filhos a se abraçarem e a terem carinho um com o outro.
Hoje encontrei-me com meus priminhos depois de muitos anos. Agora adultos mas ainda o mesmo carinho, a mesma cumplicidade.
Que coisa boa de se ver!
Hoje é como termos a mesma idade (ou é assim que eu gosto de imaginar). Pensando em como foi bom encontrá-los me vem a ideia de como é bom parentar!a

Parentar é sentir-se em casa;
É como tirar os sapatos e cruzar as pernas no sofá;
É ver um pouco de nós nas outras faces e gestos.
É lembrar dos que se foram naqueles que estão cá.a
Parentar é como estar em silencio e mesmo sem palavras comungar lembranças;
É contar casos e histórias que se juntam às nossas, formando uma só.
É contar os detalhes e alegrar-se rindo feito crianças.
Parentar é compartilhar saudades;
É contar os caminhos, fofocar as verdades;
E é ainda, do fundo do coração,
querer o bem e desejar felicidades.

Ao nos despedirmos decidimos fazer festas, promover encontros, juntar pessoas. De minha parte pretendo manter as promessas mas, acima de tudo, decido nunca mais ficar tanto tempo a des-parentar.

Tita - 16/08/2012


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O vestido florido

Foto: Orley Antonaglia
Ao partir deixou o chapéu. Já não precisava mais dele pois, para aonde ia, não haveria sol.
Além disto, o chapéu sempre lhe lembraria os dias ensolarados em que o suor respingava felicidade e o calor enlevava os pensamentos. Por isto o deixara, no lugar a que pertencia.
Que dias aqueles...cheios de mergulhos: na água funda, nos pensamentos fartos, na explosão de sensações, no divagar das conversas infindas.
Lembrava-se de si, aquela que nunca mais seria, o vestido florido, o olhar afogueado, o coração disparado, o chapéu na cabeça, correndo ao sol.
"Segure, o chapéu vai voar!" Então risos e mergulhos, e risos e mergulhos, na profundeza do momento impar.
Fizera bem em deixá-lo.
"Eu me lembrarei sempre de você, com este sorriso e este chapéu na cabeça"
Ao desarrumar a mala, na volta da viagem, abraçou o vestido. E o cheirou, ainda ali todo o perfume.
"Eu me lembrarei sempre do toque deste vestido e do seu perfume"
Era àquela cena que o vestido pertencia e era ali que, assim como o chapéu, deveria ter ficado. Não deveria te-lo trazido.
Com uma tesoura, picou o vestido em mil pedacinhos. Sorriso nos lábios. 
Cenas perfeitas não devem nunca ser mudadas de lugar.

Tita - 13/08/2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Silente

Ninguém saberia que ouvia sem escutar as falas curtas, 
entrecortadas e sem entonação;
nem que dentro de si fremia aquela ânsia,
a necessidade premente, 
que não encontrava brecha para transbordar.
Ninguém diria que continha seus desejos
tresloucados e apaixonados que,
comprimindo seu peito,
espalhavam-se pelo corpo difundindo um tremor incontrolável.
Ninguém poderia escutar sua própria voz a sussurrar: 
a hora se foi, perdida em algum momento no meio
do caminho em que não havia bussola,
e não mais se encontrará;
perdida em lugar sem volta, destruída com o passar dos dias;
resta apenas a palidez do rubor esquecido, o olhar entristecido, 
o sonho inalcançado.
Tita, agosto 2012

Tudo a ver
"Um dia um homem se levanta e muda de um lugar para outro. O que ele deixa atrás de si fica para trás e só lhe vê as costas"
Amós Oz em "Uma certa Paz"

Haikai X

外観上の反射

Mar vem na areia
Sol bate na espuma
Reflexo no olhar

Manchado de branco
O céu faz desenhos
Que vejo no sol

Tita - julho, 2012

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Versinho inho inho

Parece uma foca
Esta pombinha
Que vem passo a passo
Falando sozinha

Pia um resmungo
E cisca na areia
Pescoço balançando,
Lá se vai saltando

Para num repente
A asa a coçar
Pombinha preta
Não sabe cantar

Pena arrepiada,
No sol se esquenta
Eu jogo um milho
Chegam cincoenta.

Tita - julho 2012