sábado, 10 de novembro de 2012

Sal grosso


Um outro lugar, um novo trabalho, um desafio diferente, primeiro dia.

Que roupa? O que digo? Com quem falo? Levo alguma coisa para comer? A que horas será que almoçam? O que as pessoas vão achar de mim? A lua está minguando,começar na lua minguante...será que não é ruim? Ai ai ai mas se é assim que aconteceu, é assim que vai ser e vai dar certo, eu sei que vai dar certo.

Decido por uma calça jeans, coloco três barrinhas e uma pera na bolsa para não correr o risco de sentir fome. Se sinto fome eu tremo, fico com dor de cabeça, melhor prevenir. 

Ah, um pacotinho de sal grosso no soutien para tirar qualquer agouro. Passo ou não passo rímel? Passo bem pouco. 

O cristal o topázio azul, o coral, a rubelita, a pedra serpentina, o olho de tigre, todas as outras, tudo na correntinha no pescoço. Acho que está bom...está bom. Um pouquinho de perfume...assim.

Eu vou!

Frio na barriga, respiro fundo, Deus, Alá, Buda, Universo, santos e bons espíritos, protejam-me, em nome do Pai, tudo vai dar certo, sou forte tenho sorte, sou inteligente, eu vou longe, estou bonita, sou simpática, amém, amém, amém, chego com um frio na barriga mas lembro-me (ainda bem) de entrar com o pé direito.

Pronto!
E que seja o que está escrito.

Tita 05/11/2012

Tudo a ver
De repente o zen me disse
muito mais que a fé:
que eu visse aquilo que visse
pois só há mesmo o que é.

e colocou um p.s.:
vê, e depressa esquece
pois nada na vida, nada,
nada mesmo permanece.
Rita Moreira em "Zen" - Perscrutando o papaia.

foto: Galeria de Santinha - Casas possiveis: http://www.flickr.com/photos/yvone/

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Sombras de luz



foto: Miguel Saavedra

Quando você fecha os olhos, a luz faz sombras?
Quando eu fecho faz.
Quando, de olhos fechados, fixo meu olhar nas sombras - talvez formadas pela luz que bate em meus olhos fechados, vejo coisas: rostos que nunca vi, olhares que me olham, sorrisos, gestos...
Existe um mundo dentro de meus olhos fechados.
Às vezes penso que deveria mergulhar bem fundo, mante-los fechados e viver este outro mundo mas tenho medo e então pisco, apagando tudo.
Seria bem melhor se de olhos fechados, eu pudesse ver cenas conhecidas, aquelas tão boas de relembrar.
Como aquelas do passeio na praia, da caipirinha com o mar morno envolvendo o corpo, da viagem pela cidade de ruas pequenas com chão de pedras, da musica em uma noite de revellion, da noite no mezanino com telhado de vidro, do pavão no parque, dos passeios pelos museus e conventos na cidade alta, do vento no topo da montanha, do encontro em uma noite de muita chuva, do apartamento com borboletas na janela... 
Cenas misturando o já vivido em diferentes tempos, desenhando diferentes sentimentos, todos idos, todos fora do alcance dos meus olhos abertos e que não retornam a meus olhos fechados.
Mas o que eu dizia é que quando fecho meus olhos, a luz que bate fora deles faz com que, dentro deles, eu veja sombras. Dessas que aos poucos se definem. E então eu vejo coisas e, com medo, pisco para não vê-las  mais. Mesmo porque ninguém acreditaria se eu contasse. E, mesmo porque eu mesma só acreditaria se depois de piscar, continuasse a vê-las. Mas nunca voltam quando pisco.
Fico pensando se é só comigo que isto acontece. Acontece com você?
Quando você fecha os olhos, a luz faz sombras?
Quando eu fecho faz.

Tita 05/11/2012

Tudo a ver
"E no entanto nada mudou além do que é irreal"
Wallace Stevens

sábado, 3 de novembro de 2012

Chamas

foto: Marcus van Dijk

Sento-me na poltrona gostosa, tomo uma cerveja. A musica parou de tocar.
Cenas passando na minha cabeça, um filme. 
Parece tudo tão distante e, num repente, é como se nunca tivesse acontecido.  
Meu olhar fica perdido e ali estou, sem saber se estou no meu lugar. 
Então  me dou de presente tantos lugares e tantas coisas que já vivi e senti e foram tantas e já faz tanto tempo...
Fico a montar essa colcha de retalhos, sofrendo as vezes mas também sendo feliz e até sentindo, em alguns momentos, a plenitude.
Lembro-me de mim mesma dizendo que tenho medo da força com que sinto as coisas tão e tão completamente fortes, não aceitando sentir metades, uma vez que aceito vive-las mas não senti-las. 
E deixo que as metades que vivo se misturem com a metade de todos nós, que vivemos metades mas só queremos sentir o completo.
Porém,o outro lado do que penso, nem penso...

Tita
Vinhedo, 03/11/2012

Tudo a ver
"Veja tudo de vários ângulos e sinta, não sossegue nunca o olho, siga o exemplo do rio que está sempre indo, mesmo parado vai mudando"
Autran Dourado