domingo, 29 de dezembro de 2013

Ai!

Aiapraia! 
Eiareia!
Soueu
Sim, mim.

Tita 29/12/2013

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Palavras em pó


Surgiam com abundancia fagulhas que, desprendendo-se do pensamento, iluminavam folhas de papel. 
Se a mim voltarem não deixarei de pegá-las e prende-las com muito cuidado pois que fagulhas, se as queremos prender, desmancham-se e se transformam em pó.
Não as deixarei fugir. 
São como um dom que preenche, um arrepio enorme que enche o ventre, transforma-se em vento e vomita sensações fortes e cheias de raios. 
Vez por outra um raio mais veloz ultrapassa todas as barreiras e é capaz de transmitir levezas.
Quero agarrar-me a ele e sair em buscar das bolas cheias de palavras que costumavam espalhar-se por todos os cômodos a convidar-me a pegá-las uma a uma, separá-las e deixar que pousassem no papel em lugar certeiro e infalível, ao qual pareciam ter sempre pertencido.
Tita 09/12/2013

Tudo a ver
A cabeça é como uma taça que pode estar cheia ou vazia. Se estiver cheia com seus próprios pensamentos, todas as maravilhas do mundo lhe serão inúteis: derramarão pela borda, como água que se derrama pelas bordas de um copo já cheio. Para se poder ver é preciso parar de pensar.
Rubem Alves em "Retorno e Terno" (campos e cerrados)



sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Tabuleiro de xadrez



Mexo as peças mas não saio do lugar.
O jogo não se encerra enquanto meu cavalo anda para a frente
e para o lado e a torre volta para traz.
Nunca fui boa nesse jogo, que exige decisão.
Desta vez espero pelo movimento  do outro.
Espero que o cheque mate chegue e me abata,
abstendo-me de pensar.

Tita 28/11/2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Meu tapete branco

Há um tapete branco na minha sala. 
É quadrado,mas nunca está colocado com seus ângulos perfeitamente retos. Deve ser porque é molengo e qualquer puxadinha fora do esquadro o distorce.
De algodão, é como se fosse peludo, mas seus pelos não ficam altos e sim caídos para todos os lados.
Acho bonito o meu tapete. Além disto, gosto de pisar nele descalça. Não chega a ser macio, mas é agradavelmente leve.
Outro dia chegou da lavanderia branco e, de tão branco, iluminou a sala toda.
Houve épocas em que foi cúmplice de encontros regados a muitas velinhas acesas iluminando o chão e comidinhas em bandejas baixas sobre ele. Tem saudade desses tempos esse tapete branco, mas anda tranquilo. 
É sabedor de que seus momentos vazios nunca serão eternos.
Sento-me na cadeira que o habita, estico meus pés descalços sobre ele e escrevo, sem pensar.
Há um tapete branco na minha sala que, de tão branco, ilumina a sala toda.

Tita 13/11/2013

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Cadeiras Vazias

foto - Ana Mellone

Não há história para contar quando uma história não tem história.
Depois de lida a introdução, o que haveria?
A introdução promete, aguça a curiosidade, dá vontade de mais.
Então você vira a pagina com ansiedade, pronto para devorar as próximas linhas, 
mas não há nada ali.
Apenas cadeiras vazias e páginas em branco.

Tita 16/09/2013

Tudo a ver
"Ah!,mas é tão bonito não compreender! Aparecem mil e uma interpretações desse único ato. Mil interpretações frutuosas e frutíferas..."
Hilda Hilst em "Por que, hein?


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Re-publicando o já publicado


ÍMPAR

Sou o ímpar que restou
do par que pouco fomos,
o sorriso que sobrou
do sonho que sonhamos.
Sem ti sou sem pedaço,
sem ti me despedaço,
sou cama sem travesseiro,
sou aconchego sem braço.
Não te vivi
como me vivias,
não te percebi
como me percebias,
não te recebi
como me recebias,
e só via morte em ti
enquanto inda vivias. 
.
Tita - São Paulo, escrito e publicado em 22/01/2010

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Vento

















Mar revoltado, ondas gigantes
Me agarro n'areia
Vento quer me levar.

Nem olho p'ra traz
Nem sei porque ir
Viro por todo lado
Não quero chegar.


M'embrulho em um xale
Enrolo a cabeça
Corro sem rumo
Não posso parar.

Tita - 11/09/2013

Tudo a ver
"No momento, meus olhos se encheram de muitas águas, todas que me faltaram em anteriores tristezas. E fugi, correndo dali para nunca mais"
Mia Couto em " Cada homem é uma raça" (O apocalipse privado do tio Geguê)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O nascer da arte


Peter Schafrick - Wave up
Você foi a emoção, a sensação, o poema.
A sensibilidade à flor da pele, a lágrima solta, o inédito.
enquanto tropeçávamos nos acontecimentos inesperados, 
você foi a arte que se espalhou em mim.

Tita 21/08/2013



Tudo a ver
Para que eu chore, é preciso que vós choreis também.
Nicolas Boileau - 1636 // 1711



terça-feira, 20 de agosto de 2013

O telhado aberto



Houve uma noite em que o telhado se abriu e por ali olhamos o céu. 
As nuvens fizeram sombra na luz da lua e o barulho do silencio envolveu nossos abraços, enquanto o sereno morno entrou pelas cobertas e o cheiro das flores penetrou-nos as entranhas.
Então, alcançados pela lua,  fomos totalmente tomados, como em um transe de luz.
Lembro-me dessa noite a cada vez que a lua sobe clara e me ilumina 
porém, não mais me toma. 
Nunca como naquela noite em que o telhado se abriu.

Tita - 31/07/2013

Tudo a ver
As lembranças anoitecem mas não dormem
Outra Tarde (Marcio Proença/Marco Aurélio)
Do disco de Nana Caymmi - "Alma Serena"

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Bobagem


Foi bobagem aquela risada fora de hora
Foi besteira aquela palavra crítica, não ter percebido o que acontecia
Foi tolice não ter dito o que pensava, não pedir desculpas
Foi ridículo não mostrar os sentimentos, não agarrar a oportunidade
E foi incoerência, ai que incoerência,  
abrir mão da felicidade.

Tita 18/04/2013

quarta-feira, 27 de março de 2013

Restos

Restou-me o peso.
Aquele que na verdade não pesa mas ocupa as entranhas, os pensares e todas as horas.
Foi o que restou.

Tita 26/03/2013

quinta-feira, 14 de março de 2013

Borboletas amarelas


Hoje lembrei-me das borboletas amarelas. Aquelas, que costumavam revoar na minha e na tua janela e batiam levemente as asas nos vidros. 
Você se lembra de que roçavam nossa face quando abríamos as vidraças para que o vento nos revoasse os cabelos, nos fechasse os olhos e nos fizesse sorrir?
Havia as que entravam dentro de casa tornando a sala cheia da luz que o amarelo traz...
Como queríamos que ficassem ali! Estáticos para que não se assustassem, olhávamos silenciosos os seus movimentos.
Houve aquela que pousou na sua cama, ali ficando por um dia e uma noite em que, para que não se fosse, dormimos no chão. Assim que amanheceu o dia eu a vi voar pela janela aberta.
Não, jamais prenderíamos uma das nossas borboletas.
Por isso voltavam e nos traziam a alegria dos que voam e são cobertos de cores.
Quando você se foi, pensei que se tinham ido com você. Depois soube que você pensava estarem comigo.
Hoje sei que não voltaram, nem em rápida visita, para nenhum de nós dois.
Foi a forma que encontraram para protestar por não termos sabido cuidar do sentimento que, de tão grande, nos ultrapassava e chegava até elas.

Tita - 14/03/2013

foto: manucardoso: http://olhares.uol.com.br/borboletas-amarelas-foto1539036.html

domingo, 10 de março de 2013

Tudo de novo

De tanto começar tudo de novo, chegarei à perfeição?
Tita 10/3/2013

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Red


Pintava as unhas de vermelho. Talvez porque achasse bonito ver as unhas vermelhas nas outras mulheres.
Um ele dissera que não gostava. Na verdade parecia que os eles não gostavam. Aliás, do que será que os eles realmente gostavam nelas? Nela?
Por isto era para ela mesma que pintava as unhas de vermelho. Cada vez um vermelho mais escuro e mais forte. Mais fixo, indelével, inesbotável, intirável, indesmanchável, indestrutível.
Nada melhor do que mudar palavras. E nada melhor do que pintar as unhas de vermelho.
Quando as despintava tornava-se uma des-ela porque ela sim, era aquela das unhas pintadas.
E, uma des-ela desmanchada, descorada e desarrumada era o que nunca nunca queria ser.
Tita 14/2/2013

foto: Vitorio Benedetti: http://www.flickr.com/photos/vbenedetti/41421298/sizes/z/in/photostream/

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Incomunicável


Na incomunicabilidade em que vivia, chegava a pensar que emudecera.
Dissociava lembranças de palavras pronunciadas em outra época.
Talvez não soubesse mais como se expressar através dos sons...
Deve ser assim uma clausura, pensou. Estava em uma mesmo que fosse sem grades e sem portas.
Começara com um simples recolhimento - são fases, constatou. Logo volto ao burburinho das ruas.
Mas o emparedamento sem paredes continuava, o ostracismo silencioso tornava os pensamentos inaudíveis, o desterro do lá de fora era fato e parecia duradouro.
A fuga havia acontecido, mesmo que não tivesse corrido, ou se escondido, ou ido a lugar algum.
O exílio estava dentro de si mesmo e contra ele era difícil lutar. Sendo assim, calou-se e se deixou ficar.
Tita 17/02/2013

Tudo a ver
Ninguém pode ajudar o humano que deu errado quando o social está errado, e para resolver o de dentro seria necessário corrigir o de fora. E então quem somos nós, tão impotentes e arrogantes?
Caio F. em "A vida gritando nos cantos".

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Copos de leite

Entregou-me musicas, como se fossem um buquê de flores.
Eu, gostei mais do que se fossem flores. 
Aproveitei cada uma, dezenas de dias, dezenas de vezes, como jamais poderia aproveitar rosas.
Se tivesse me dado flores, quais me daria? Rosas? 
Se sim, eu esperaria que no mínimo não fossem vermelhas, 
tão lugar comum...
Amarelas ou brancas seria melhor.
Preferiria ganhar lírios, brancos e lindos. Ou copos de leite. 
Que delicia olhar copos de leite em um vaso. 
Porém, sempre corro o risco de ganhar rosas. Indamais vermelhas.
Que bom que me deu musicas. 
Os copos de leite eu mesma compro.
Coloco em um vaso, sento-me na minha cadeira preferida e, 
o buque de musicas tocando alto, 
viajo nas flores, copo por copo, tom por tom, som por som.

Tita- 13/02/2013


Imagem: André Luiz Capóia - http://farm4.staticflickr.com/3473/4002217102_36892ba464_z_d.jpg

Tudo a ver
Escrevo para que me escutem — quem? Um ouvido anônimo e amigo perdido na distância do tempo e das idades. Para que me escutem se morrer agora. E depois, é inútil procurar razões. Sou feito com estes braços, estas mãos, estes olhos e assim sendo, todo cheio de vozes que só sabem se exprimir através das vias brancas do papel, só consigo vislumbrar a minha realidade através da informe projeção deste mundo confuso que me habita. E também escrevo porque me sinto sozinho. Se tudo isto não basta para justificar porque escrevo, o que basta então para justificar alguma coisa na vida? Prefiro as minhas pequenas às grandes razões, pois estas últimas quase sempre apenas justificam mistificações insustentáveis frente a um exame mais detalhado".
Lucio Cardoso


domingo, 13 de janeiro de 2013

Hóspede

Quem é esta pessoa dentro de mim?
Passa pelos dias sem que lhe causem sentimento,
recolhe-se quieta evitando movimento,
pede silencio e recolhimento.
Dócil, obedeço.
Como ela, não tenho vontade nenhuma de falar e nem de rir.
Tita
13/01/2013

Tudo a ver
É preciso que alguma coisa acabe, é preciso que alguma coisa comece.
Muriel Barbery em "A elegância do ouriço"


Pintura - FUKA - A árvore da vida - http://www.fuka.com.br/69.htm


domingo, 6 de janeiro de 2013

Arroubos



Arroubos me foram roubados
e a mim que tanto arroubava,
hoje falta o arroubar.

Tita 06/01/2013

sábado, 5 de janeiro de 2013

Como se fosse hoje




Sempre tão querida a tua presença. 
Sempre tão bom estar com você.
Quando se vai, resta um vazio que aos poucos some, foge, preenchido pelos acontecimentos de cada dia.
Não sei como seria se fossemos diferentes, mas sei que gosto deste estar com você quando estamos.
Quando não estamos é como se há muito não estivéssemos e, mesmo assim, lá no fundo de mim, tua presença permanece.
Não sei se você é o meu amor, o meu amigo, o meu complemento. Mas sei a pessoa importante que, para mim, você é.
Neste eterno não sabermos de nós, quem sabe um dia seremos mais, ou quem sabe um dia nem mais seremos.
Não importa. 
Ao longo dos dias, quando  tua presença fica pálida, distante, é como se deixássemos de ser o que somos quando juntos.
É como se você estivesse perdido para mim, destacado, longe...lembrança de coisa já ida.
E eu me distancio de você, sem contudo te deixar ir porque mesmo assim longe, te penso,
e mesmo destacado, te lembro,
e mesmo perdido, te quero.
Em todos os momentos, em todos os momentos.


Tita - 05/01/2013

Do Teu


Re-publicando o já publicado, enquanto por falta do novo, o blog fica parado.
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Do Teu

Saudade...
Do teu sorriso maroto,
 da tua atenção delicada,
da tua risada safada,
das tuas mãos sem igual.

Vontade...
Da tua boca macia,
do teu beijo molhado,
do teu carinho ousado,
do teu gemido final.

Tita em 27/10/2004.