quinta-feira, 4 de dezembro de 2014


O ser apaixonado é solitário
pois que o sentimento que o toma é indivisível.
Tita - dezembro 2014

     Tudo a ver

Eu tinha visto na sua solidão, uma excelente amiga para a minha solidão. Eu achei que elas pudessem sofrer juntas, enquanto a gente se divertia!
Tati Bernardi

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Nós


Ainda vivo o carro rodando macio pela noite, 
musica forte,
casos contados nas mil tardes no sofá,
beijos macios e cheios de molejos.
Escuto as palavras e sinto os abraços,
o gosto dos chocolates nas noites vadias.
Então procuro suas costas macias.
Suas mãos me buscam, 
sua boca me amolece,
me entontece,
me tira do mundo.
Sussurros se encontram,
você sorri e se conta meu.
Conto-me sua.
E assim nos sabemos
e nos temos
no sempre melhor que, 
de nós dois,
será.

Tita
para E. 
4/11/2014


sábado, 1 de novembro de 2014

Elo Perdido



Sou rios que deságuam em mar aberto e curvas mal traçadas de caminhos que não chegam ao destino. 
Sou o abandono despido em lençóis amassados de noites de frio sem cobertor e o escolher incerto dos re-começos trôpegos. 
Sou as noites cheias de flores de cores fortes, as feridas feitas de cortes, sou o mel derramado das abelhas sem lar. 
E torno-me o silencio de madrugadas sombrias em que ouço distante meu riso alegre e recolho-me solitária a tecer, incansável, rede que de mim me proteja e que abrigue meu ser solto no ar. 
Sou a lágrima que rola e cresce, me toma e afoga-me em lagos distantes que levam ao fundo e não me deixam voltar. 
Sou o fundo de areia, a sereia que re-surge, o tempo que urge, o gozo incompleto. 
E então me transformo no incerto, no fluido que não se fixa, no abraço sem braços, no aconchego perdido, no elo partido. 
E permaneço, atônita e perdida, no oco da musica a preencher o silencio que se torna duro e ímpar, numa noite sem fim. 
Tita

Tudo a ver
Existem alguns tipos de morte que não se pode obrigar alguém a reviver, um tipo de conexão tão profunda que, quando se rompe, você sente o estalo do elo partido... Frase de Jeff Vandermeer.


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Fuga

Corro, longo corredor.
Por todos os cantos
teus olhos pedintes me chamam,
brilham no escuro,
me aterrorizam.
Não paro, fujo e mais fujo
Teus braços se multiplicam em busca de mim
corro e me desvencilho.
Pulo dedos,
afasto ombros,
atravesso cotovelos,
fujo das mãos .

Tita
Julho, 2014.
Tudo a ver
"que mania de julgar têm os seres humanos, e como nos desassossegam e nos desconcertam os casos moralmente ambíguos que não permitem situar com precisão a linha de luz e a de sombra"
Rosa Montero em "A Louca da Casa"

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Repentes

Se eu falar demais, 
rir fora de hora, 
Não significar seu sonho, 
perder a fala, 
perder a cor...
Se não for engraçada 
ou inteligente, 
nem culta, 
interessante 
ou preparada...
Se você se irritar 
e ficar louco ...
Se se entristecer
e eu calar, 
nada disser...
Se eu enfeiar
com olheiras 
e cansada...
Se num repente
eu para você 
for nada,
prometa
que me dirá.
Não me deixe 
sem aviso,
Não se vá.

Tita - 01/10/2014

Tudo a ver
Tão abstrata é a ideia do teu ser
que me vem de te olhar, que, ao entreter
os meus olhos nos teus, perco-os de vista
e nada fica em meu olhar, e dista
teu corpo do meu ver tão longemente,
e a ideia do teu ser fica tão rente
ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
sabendo que tu és, que, só por ter-me
consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
a ilusão da sensação, e sonho,
não te vendo, nem vendo, nem sabendo
que te vejo, ou sequer que sou, risonho
do interior crepúsculo tristonho
em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
Fernando Pessoa

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Invólucro



D.arc.y - imagem flickr
Escuto a voz, tão perto mas neste momento tão longe. 
E escuto mais e mais uma vez.
Então gravo a minha e a solto no ar.
Neste momento da vida experimento sentimentos que, 
mesmo se um dia vividos, 
são novos, inesperados e muito fortes.
Nos meus pensamentos guardo o que me dá o sonho 
que me leva em frente.
Amo o invólucro que nos mantém unidos, 
nossos planos que iluminam as possibilidades 
e
as palavras que trocamos em todos os momentos.
Amo o possível que se abre 
e o fato de nos darmos as mãos 
para percorrer o caminho.
Amo o exequível, o superável, 
o atingível, o feliz que sabemos.
Amo a presença que se faz forte, 
segura e reconfortante.
Somos todas as possibilidades 
que agarro em meus braços.
Assim como seguro tua presença, 
sempre,
em mim.

Tita - 29/09/2014
Tudo a ver
A vida era passar o tempo juntos, 
era ter tempo para caminhar juntos de mãos dadas, 
conversando calmamente enquanto viam o sol se pôr.
Nicholas Sparks

sábado, 27 de setembro de 2014

Girafa

Houve aquela que se colocou naquela situação em que não gostava de estar. Tudo falta de controle.
Na verdade não se sabe o porque dessa necessidade de tanto controle sobre si mesmos. Sempre tendo de controlar-se.
Então vem o branco. Tudo muito puro e imaculado, o que só decorre do controle.
Por fora bela viola, por dentro...
Seus pedaços já estavam desbotados. Desabotoados de afetos. Talvez fosse impar. Ou uma barca furada.
Lembrava-se da canoa em que não conseguia ficar de pé. Os salva vidas eram sempre necessários porque mesmo que os rios corressem mansos, havia pedras no fundo e era perigoso, muito perigoso mergulhar de cabeça e se machucar.
Aos pouco ia aprendendo onde estavam as pedras, aqui e ali. Algum dia soltar-se-iam do fundo, boiariam e passariam a bater-se umas nas outras? Que grande perigo sair nadando por entre elas e estar entre duas que poderiam bater-se.
Grande perigo.
Tirou o pé da canoa. Estava ficando tonta com os pensamentos que, não sabia de onde, vinham nela se instalar.
Era verão quando tudo acontecera? Fora de repente, mas não se lembrava de ter sentido calor. Talvez porque sempre houvesse água e podia refrescar-se quando quisesse.
Era tempo de garças brancas e de mergulhões aos montes, na beira dos rios. Delicados e bonitos.
Ao longe algumas emas poderiam ou não aproximar-se. Não havia girafas nem leões.
Só seu pescoço comprido que, alto, quase se destacava da cabeça.
O problema era este: o pescoço comprido. A cabeça ficava alta e cabeças altas veem demais.
Tita - 27/09/2014

Tudo a ver
Se abres os olhos,
abre-se a noite de portas de musgo,
abre-se o reino secreto da água
que emana do centro da noite.
E se os fechas,
um rio, uma corrente doce e silenciosa,
inunda-te por dentro, avança, torna-te obscuro:
a noite molha margens na tua alma.
Octavio Paz em "Agua Nocturna"

Profusão



Diz que devo escrever sem pensar e que das palavras impensadas, surgirá a base do que deve ser escrito.
Deveria criar a partir das pequenas coisas, um mundo cheio de cores que se misturassem. 
Estão dentro de mim mas não sei colocá-las no de  fora e, quando as de fora trago para mim, são quase sempre as escuras.
Tita - 26/09/2014

Tudo a ver
Através da noite urbana de pedra e seca
o campo entra no meu quarto.
Estende braços verdes com pulseiras de pássaros,
com fivelas de folhas.
Leva um rio à mão.
O céu do campo também entra,
com o seu cesto de jóias acabadas de cortar.
E o mar senta-se ao meu lado,
estende a sua cauda branquíssima no solo.
No silêncio brota uma árvore de música.
Na árvore pendem todas as palavras formosas
que brilham, amadurecem e caem.
Na minha testa, uma caverna onde mora um relâmpago...
Porém, tudo se povoou com asas.
Diz-me: é deveras o campo que vem de tão longe,
ou és tu, são os sonhos que sonhas ao meu lado?
Octavio Paz em "Visitas"

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Falta


Sinto sua falta
Saudade 
de me aninhar nos seus braços, 
de escutar suas histórias, 
de ter sua presença carinhosa e doce.
Sinto ainda seus beijos macios 
e seus abraço forte e aconchegante
me segurando firme perto de si.
Saudade 
de sua chegada sempre alegre 
dos passeios, 
dos almoços, 
dos jantares, 
das conversas sem fim.
Sinto sua falta.
Saudade
do seu cuidado comigo, 
da sua vontade de me acariciar
das suas palavras doces 
do seu sussurrar no meu ouvido
do seu fazer-me rir 
em todos os momentos.
Sinto falta
da sua presença enorme
que ocupa meus dias
minhas horas
e meus pensamentos.
Saudade 
de me afogar na fumaça do seu cigarro
de ter pena de você ir embora
de esperar o dia seguinte para de novo
estar com você
ver você
falar com você
escutar você.
Sinto falta
de encontrá-lo todos os dias
e de cada dia ser melhor do que o anterior
e melhor do que o anterior
e melhor ainda do que o anterior
Sinto sua falta.
Sinto sua falta
Sinto sua falta.
Tita - 22/09/2014

Tudo a ver
Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.

Luis de Camões

sábado, 6 de setembro de 2014

Xô!

Hoje a realidade me pegou,
de assalto.
Invadiu minha sala,
estremeceu minha paz,
surrupiou momentos.
Ladra inconveniente
e incompetente.
Vá-te,
não te quero aqui!
                                               
                                                             Tita 06/09/2014
Tudo a ver
Tens nas tuas mãos fluidas,
O poder que mal sabes,
De alterar as marés
Que me atravessam
Silvia Chueire

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Dizeres

Quando eu disser, 
se disser,
Direi nos seus ouvidos, 
devagar.
No dia em que disser,
direi.

Talvez em algum momento eu pense em dizer
Mas ache que não devo
Ou talvez pense que direi 
se você disser
E, 
mesmo se você não disser, 
talvez eu diga.

Pode ser que  direi um dia e então, 
nunca direi que não disse.
No dia em que eu disser, 
se disser, 
não será uma frase rouca, 
nem será coisa pouca.

Porém não se iluda pensando que fatalmente direi.
Porque só direi 
se for profundamente sentido
E se para nós dois, 
fizer todo o sentido.
Tita 04/09/2014

Tudo a ver
Entre mim e o meu silêncio
Há gritos de cores estrondosas 
e magias recortadas dos sonhos 
que acontecem naturalmente
José Luis Peixoto em "A criança em ruínas"

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Requiem Eterna Doneis Domini

Esvaiu-se aos poucos. Muito lentamente.
A cada dia perdia um pouco do brilho do olhar que, cada vez mais ultrapassava o que houvesse a ser visto. 
A mim parecia que não lhe importava mais ver.
Falava com dificuldade e então, não falou mais. Desanimou-se e tinha dores.
Ficamos ali, uns nervosos, outros muito tristes, outros fazendo o que tinha de ser feito.
Nas ultimas noites dormi ao lado dela, com um misto de medo e curiosidade, procurando descobrir o que sentia.
Quis lhe dar conforto mas mal consegui adivinhar do que precisava.
Na ultima noite entendi que me pediu água e, enquanto corri para buscar ficou impaciente e gritou "Água", Água"! Entendi, mesmo que tivesse sido dito daquela maneira quase ininteligível.
Retornou em mim toda a impotência que sempre senti perto dela. Quantas tentativas de que se sentisse segura comigo, todas em vão, como esta, da ultima vez.
Deixava, e até me pedia, que cuidasse de sua vida financeira. 
Porém, da emocional, nunca deixou que eu me aproximasse.
E foi-se indo assim, aos poucos, o corpo magro e cheio de dores que mal conseguíamos aplacar.
Demos-lhe despedidas lindas, a missa, o velório, a musica, tudo como gostaria.
Mas  nunca saberei se percebeu o meu esforço da vida inteira,
Nem se algum dia desejou que eu realmente fizesse parte.
Tita 01/09/2014

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Retalhos de vida



Poderia ir  àquele bar de música, à praia, ao domingo perdido no sol
Dançar, onde danço sozinha ou com quem nem pergunto o nome, dançar por dançar.
Passear pela noite, entrar onde me aprouvesse, naqueles bares estranhos em que gosto de estar, escutar músicas pela noite adentro

Poderia ir ao cinema, depois comer um sanduíche, comentar o filme com amigos
ou música clássica, escutar o piano, o coro, o violino
Sentar-me em uma mesa em um café, caderno na mão,observar as pessoas

Poderia deixar-me ficar, ler um livro, deitar-me no tapete da sala e escutar música bem alto,
folhear antigas recordações e re-chorar o já chorado, re-rir o já rido, re-lembrar o já vivido, o que poderia render lindos textos
nadar e depois estirar-me ao sol escutando conversas esparsas, tomando uma caipirinha

Poderia visitar aquela amiga que, como eu, gosta da noite imprevista, fugir de todos os perigos e ver amanhecer o dia tomando cerveja sentadas na calçada do posto de gasolina
deitar na rede escutando o mar, dormir fora de hora, levantar-me de madrugada e sair pelo mundo naquela cidade pequena onde sempre encontro alguém para conversar
Depois voltar para a cama, dormir de novo, acordar com o sol já alto e re-dormir deitada em uma espreguiçadeira, ao ar livre

Poderia ligar para os amigos, combinar novos programas, chamar pessoas, conhecer novos lugares
descobrir saraus, ir às casas em que há reuniões de novos poetas, escutar o que gosto e o que não gosto nem um pouco, ou apenas observar
passar os fins de semana no campo com minhas irmãs, que correm doces e mansos e cheios de gente a contar coisas, e perguntar e trocar

Poderia visitar amigos que moram distantes, chamar outros para virem à minha casa, 
sentir a delicia de estar com gente com quem nem preciso falar
andar pelas ruas, sentar nos bancos das praças e ver o sol de inverno por entre as árvores,
cozinhar tomando copos de cerveja, musica alta, comer e dormir.

Poderia.

Ou poderia estar aqui onde estou, 
a ter uma colcha de retalhos macia que me cobre e que
a cada dia renasce com um novo retalho que me conta uma nova história,
tornando os dias cheios de imprevistos e de sentimentos.

Neste momento a vida se renova e sabe a flores silvestres, vidros perfumados, fragrâncias ímpares e novos sabores
e é vivendo este momento que apreendo o que vale a vida 
quando vale a pena da vida, ser neste momento, vivida.

Tita - 29/08/2014

Tudo a ver



quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Molde



Derrubo a garrafa d'agua; coloco a cafeteira sobre a boca do fogão mas esqueço-me de acender o fogo; acendo o fogo mas esqueço-me de colcar a cafeteira. Então desisto, não quero café.
Lembro-me da sua camisa amarela que pensei ser cor de rosa e do abraço apertado da nossa despedida, minha mão deslizando pelas suas costas macias.
Então seguro sua cabeça junto a mim e seus cabelos fartos escorrem entre meus dedos.
Escorrem meus sentimentos e tomam posse de meu corpo
Escorrem suas caricias que se alojam em cada canto escondido do meu ser
Escorro eu, encostando-me a você e ao seu fisico forte.
Escorro pelo chão, pelas frestas, pelo escuro da noite, pela madrugada solitária,
espalhando-me em busca do seu abraço.
Entro nos bares, nos copos de água, nos becos pequenos, nas mesas de sinuca, nas ruas iluminadas pela lua cheia.
E quando o encontro, sorrio, mergulho em seus olhos, me entrego e me amoldo a você.

Tita - 27/08/2014

Tudo a ver
O amor tinha de ser apreciado sem se fugir para um otimismo ou pessimismo dognmáticos, sem se construir uma filosofia dos medos ou uma moralidade dos desapontamentos. O amor ensinava à mente analítica uma certa humildade, a lição de que, por mais duro que ela lutasse para atingir certezas imóveis (enumerando suas conclusões e colocando-as em séries arrumadinhas), a analise nunca poderia deixar de ser falha - e, portanto, nunca se afastaria do irônico.
Alain de Botton - Ensaios de amor

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Cerne

De que manso abandono o coração se veste,
nas  nuvens a vagar, a alma efêmera,
colhendo raios esparsos de sol?
É em águas mansas que flutua o espirito
em busca do naco de si arrancado
na turbulência do mar que no rio desaguou.
Sentindo-lhe a falta no profundo do cerne
sofrendo-lhe a incompletude no espraiar-se infinito
recua diante da vacuidade do quadro
que a mente impensada um dia pintou.
Tita - 25/08/2014

Tudo a ver
Como decifrar pictogramas de há 10 mil anos se nem sei decifrar minha escrita interior?A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco. 
Carlos Drummond de Andrade

Os gostares


Tinha uma vida de sempre muito a fazer, a conversar, sempre muito que restava para o outro dia e não ficava feito. 
Gostava assim.
Gostava da vida que não se repetia e que sempre a atiçava para algo mais.
Desbravava novas amizades, queria novos assuntos, inventava caminhos desconhecidos.
Ia em frente. Procurava melhorar o ruim mas, constatando o impossível, deixava-o para trás, buscando o feliz para perto de si.
Porém, tinha uma mania. Ah se tinha!
Achava tão difícil achar alguém para si mas quando calhava, lá vinha. 
Mania de gostar.
Então ficava naquele querendo, no gostando, o gostar atiçando, lembrando, cultivando.
Mania danada, concluia.
Mas não desistia porque sabia 
Que sem essa mania,
Passava pela vida e nem vivia.

Tita - 25/08/2014

Tudo a ver
O conceito "real, verdadeiramente existente", nós o tiramos primeiramente desse "nos dizer respeito"; quanto mais somos tocados em nossos interesses, mais acreditamos na "realidade" de uma coisa ou um ser. "Isto existe" significa: eu me sinto existindo no contato com isso.
Nietzsche em Outr'em-mim de Alfredo Naffah Neto.


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Concha



Ria,

porque ele a fazia rir.
Do nada, falava o inesperado 
e ela ria, solta, leve.
Então riam os dois
e tudo se resumia a isto.
Quando abrigados numa concha de riso,
nada mais era necessário.
Tita - 21/08/2014

Tudo a ver
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho, 
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!
Machado de Assis

domingo, 17 de agosto de 2014

Barulho

Mario Howat
O barulho ascendente do que cresce aos poucos
do vento que bole nas folhas
de passos suaves na grama 
de asas que batem levemente
do trotar dos cavalos ao longe
de vozes que se misturam
de outras vidas que dentro de mim ressurgem.
O burburinho da poeira que o vento levanta
o estalo do chicote que gira no ar
a soada de um sino da infância
a cadencia das notas a criar harmonias
o ressoar de palavras que voam.
O sonoro riso a repetir-se em meus pensamentos
a vibração das mãos que tateiam
e mansas e suaves produzem musica
e embriagam dizendo à alma
que se espalhe 
desfaleça e se abandone 
num feixe
fugidio e luminoso.

Tita - 17/8/2014

Tudo a ver
Teve um barulhinho, quer dizer, um rumorzinho do ar que fez "chhhh" bem, bem, devagarinho: era um botão de rosa com um pedacinho de haste quebrada que caía na bancada. No momento em que a tocou, fez "pof", um "pof" do tipo ultra-som, só para ouvidos de morcegos ou para ouvidos humanos quando tudo está muito, muito, muito silencioso.
Muriel Barbery em "A elegância do ouriço"

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

PREGHIERA

As pessoas que nos cercam, a quem nos dedicamos com carinho tantas vezes, como saber quem realmente são?
De quantas facetas é feito um ser humano e em que dia nos depararemos com aquela horrível, que nunca pensamos existir?
A maldade intrínseca em cada um, de quanto precisa para mostrar-se; o quanto a face devastadora disfarça-se em grande salvadora das almas que julga fracas?
Como podem as pessoas fazerem pouco de seus semelhantes, ditando regras, pensando-se melhor?
Que Deus me dê a sabedoria para não julgar meus semelhantes. Pois que sou falha e cheia de defeitos igual a  eles.
E hei de encontrar o melhor de cada um.
Tita - 14/08/2014
Tudo a ver
Não há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes.
Marquês de Sade

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

MERGULHO

No tempo que para com o apressar do coração,
na noite que brilha através das frestas da janela,
No sol que entra pelos vidros quadriculados,
Na musica que toca na madrugada de ruas vazias,
Eu mergulho.

Pego as palavras que estremecem o ar,
Os casos contados e os medos acalmados
E no abrir das portas, na troca de ideias
E nas risadas sem fim,
Eu mergulho.

No sussurrar dos lábios que não se afastam,
No aconchego dos abraços que não se soltam,
Nas bandejas com petiscos não tocados,
Nos livros ainda não lidos,
Eu mergulho.

E solto meu corpo
Deixando que me leve a água deste rio
que desaba no mar 
E que no silencio das profundezas
deste carinho enorme,
me explode as entranhas.

Tita - 11/08/2014

Tudo a ver
Tum tum tum tum tum tum tum
Look, if you had one shot, one opportunity,
To seize everything you ever wanted
One moment
Would you capture it or just let it slip?
Eminem

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Voando



Salvador Dali
Do alto do morro
O sol vai surgindo
Eu ando na praia
Maré tá subindo

Pé fofo na areia
sandalia na mão
vou pulando ondas
pensando em canção

caranguejo sem perna
andorinha sem pé
criança sozinha
só faz o que qué

lá vai um surfando
a onda ta forte
tem outro remando
peixe, se der sorte

um anda na água
só quer nadar
eu furo a onda
quero'é flutuar

macaco no galho
cachorro no chão
só ando voando
Cabeça na mão

Tita - 07/08/2014