É, es-ta-ia-da.
Tem certeza?
Tenho, absoluta.
Eu acho que está errado. Acho que é Espraiada.
Espraiada? Que ridículo! Não é. Você está errado.
E como é que você sabe:? Me irrita esta sua mania de sempre
saber tudo.
Não é mania. É só procurar no dicionário, no google, na net.
Seguinte, cara, é estaiada, porque foi construída com estais!
Escutei esta conversa numa manhã de domingo, tomando café em
uma padaria do Brooklin. Num impulso, quase virei minha cadeira para a mesa
atrás de mim e perguntei “o que é isso,“estais””? Mas não me atrevi, domingo de
manhã, os dois irritados implicando um com o outro, voz nada amigável...
Por que não prestei atenção nas noticias de jornal que
descreviam a ponte? Mania de ler tudo rápido! Fiquei quieta.
Estais...
Voltei para casa e lá fui para o google, procurando de
várias maneiras, digitei “estais”, encontrei: “Ponte estaiada, é uma ponte que
está suspensa por cabos conectados a um mastro para sustentar as pistas”
Então, conclui, os cabos são os estais, neste caso.
Que coisa boa morar numa cidade como São Paulo e viver
sempre aprendendo. Não fosse ter escutado aquela conversa nunca saberia o que
são estais, eu, que de engenharia não entendo nada. E quantas outras coisas
escuto, leio em manchetes de jornais e revistas quando passo pela banca!
Não, eu não poderia morar fora desta cidade, por mais
caótica que seja. É dessa diversidade e “caoticidade” (adoro inventar palavras)
que tiro o alimento para meu cérebro, para minhas conversas e para escrever
cronicas como esta.
A verdade é que a palavra me acompanhou durante toda aquela
semana: reparei incansavelmente nas construções, será que só pontes tinham
estais? Conversei com amigos, perguntei se sabiam o que era (e não é que a
maioria sabia?) compus versinhos e frases mentais (aonde estás? Estarás nos estais? Se estás nos estais, isto
te apraz (pronuncie "apraiz")? e, reconhecendo minha falta de atenção para termos técnicos, prometi
a mim mesma reforçar a tensão quanto a leituras a este respeito enfim, obcecada
pela palavra, passei a semana inteira ruminando o assunto.
Na sexta-feira esperava um amigo na porta do cinema e quando
o vi ao longe, alto e magro,
imediatamente pensei: parece um “estal”
(existe “estal” ou só “estais”?) e, num repente, escutei minha própria voz: “Oi!
Que bom te ver! Como estais?”
Tita - Escrito em 2010
Tudo a ver
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Alberto Caeiro em "Eu sou do tamanho do que vejo"