quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Nós


Ainda vivo o carro rodando macio pela noite, 
musica forte,
casos contados nas mil tardes no sofá,
beijos macios e cheios de molejos.
Escuto as palavras e sinto os abraços,
o gosto dos chocolates nas noites vadias.
Então procuro suas costas macias.
Suas mãos me buscam, 
sua boca me amolece,
me entontece,
me tira do mundo.
Sussurros se encontram,
você sorri e se conta meu.
Conto-me sua.
E assim nos sabemos
e nos temos
no sempre melhor que, 
de nós dois,
será.

Tita
para E. 
4/11/2014


sábado, 1 de novembro de 2014

Elo Perdido



Sou rios que deságuam em mar aberto e curvas mal traçadas de caminhos que não chegam ao destino. 
Sou o abandono despido em lençóis amassados de noites de frio sem cobertor e o escolher incerto dos re-começos trôpegos. 
Sou as noites cheias de flores de cores fortes, as feridas feitas de cortes, sou o mel derramado das abelhas sem lar. 
E torno-me o silencio de madrugadas sombrias em que ouço distante meu riso alegre e recolho-me solitária a tecer, incansável, rede que de mim me proteja e que abrigue meu ser solto no ar. 
Sou a lágrima que rola e cresce, me toma e afoga-me em lagos distantes que levam ao fundo e não me deixam voltar. 
Sou o fundo de areia, a sereia que re-surge, o tempo que urge, o gozo incompleto. 
E então me transformo no incerto, no fluido que não se fixa, no abraço sem braços, no aconchego perdido, no elo partido. 
E permaneço, atônita e perdida, no oco da musica a preencher o silencio que se torna duro e ímpar, numa noite sem fim. 
Tita

Tudo a ver
Existem alguns tipos de morte que não se pode obrigar alguém a reviver, um tipo de conexão tão profunda que, quando se rompe, você sente o estalo do elo partido... Frase de Jeff Vandermeer.