sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Enigma


Sempre escorregava.
Nos pingos de água, nos pisos lisos e no gelo da neve mas, principalmente,nas palavras.
Passava por elas deslizando; 
Escapavam-lhe inexplicavelmente. 
De algumas conseguia apanhar a primeira ou ultima silaba porém,deixava escapar as do meio. Então, guardava apenas os pedaços e, de posse desses, passava a procurar, incansavelmente, suas partes.
Um dia deu-se conta de que tinha uma silaba nas mãos. Apenas uma.
Sem saber de onde teria vindo procurou encontrar-lhe o sentido.
Escutou-a, mas nada dizia;
encostou-se nela, não havia aconchego; 
passou-a em seu corpo, sem sensações. 
Então soltou-a no ar.
Voou como se tivesse asas. 
Rodopiou, flutuou e fez desenhos contra o céu. 
Depois, caiu-lhe novamente nas mãos.
Até hoje a mantém e procura, em vão, uma forma de decifrá-la.

Tita 29 de janeiro, 2016

Tudo a ver
"Fazer da palavra um embalo
é o mais puro e apurado
senso da poesia"
Mia Couto em "idades cidades divindades"

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Espaço



Fechar os olhos ao sol e sair do mundo.
Boiar em águas refrescantes deixando o pensamento correr
Escutar as árvores, os pequenos animais, os insetos, o vento
Sentir a água a roçar o corpo, como um carinho.
Nada mais.

Tita 07/01/2016

Tudo a ver
Eu morro ontem,
 Nasço amanhã, 
Ando onde há espaço. 
Meu tempo é quando.
Vinicius de Moraes