sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ensaio

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Não sei porque ensaiamos tanto.
Repetimos as falas por vezes sem fim, seguimos à risca os perfis pré-determinados e cismamos em não modificar, nem minimamente, os papéis que nos dispusemos a representar.
O problema é que ensaiamos tempo demais e nos perdemos em detalhes.
De tanto repetir as interpretações, passamos a utilizá-las a qualquer momento, desvirtuando-nos em todos os sentidos.
Transformamo-nos em repetidores e nunca conseguimos marcar o dia da estréia.
Fica só na ilusão a nossa grande performance!
Tita 17/04/08
Tudo a ver
"Ele me ensinou que tudo aquilo que retratamos no palco deve ser mostrado de dois lados. Ser ilustrado tanto em preto como em branco. Quando sorrio, devo também mostrar a careta que há por trás do sorriso. Tentar representar o reverso do movimento - da emoção."
Liv Ullmann em "Mutações"

terça-feira, 28 de julho de 2009

De que?

foto: Orley Antonaglia
Saudade devagar encostou-se, sombra incômoda, incorporou-se, abafou, apertou,machucou, sufocou, fez chorar.
Então força interna rebelou-se, gritou, perguntou por que? por que? Saudade de que?
Resposta veio num espasmo, num soluço, cansada, rouca:
De sentir!
Saudade de sentir!
Tita 27/07/09

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Pausa


foto - Caracala - Rodrigo Larrabure
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Foi ele que propôs a pausa (lembrava-se), olhando-a com os olhos nunca sabia se azulados ou esverdeados cor do mar e falando seriamente como não costumava, bem ele que era brincalhão, debochado, alegre mas naquele dia estava diferente, as palavras eram pronunciadas devagar e o olhar ia fundo e ela escutou e pensou bem ela, acostumada a não pausar, pois que emendava a vida, o amor, as atribulações e até as solidões e como seria agora, num repente pausar, parar não era possível, não seria possível, ela não conseguiria e como fazer se ele afirmava que era necessário?

Sentiu saudade dele, daqueles olhos, das mãos dele, da maneira como a seguravam, da força dos braços, do calor do corpo, do modo como a acariciava, de como despertava nela o desejo e a levava tão longe e tão bem levado, de como sussurrava, ai como ela gostava dos sussurros e dos corpos juntos que se entendiam, e se saciavam vezes sem fim e sim, isso existe mesmo, já estava quase esquecendo e sentiu tanta falta e para que essa pausa meu Deus do céu, a vida não deveria pausar assim, nunca, nunca, nunca, o bom não deveria nunca terminar e o corpo não deveria nunca sofrer e todas as metades deveriam se unir e aproveitar aquelas sensações tão boas e tão loucas de coisas tão completas porque quando se vão as uniões fica parecendo que é impossível encontrar de novo a sensação do pertencimento tão completo e porque será que ele quisera pausar?

Era impossível que ele não voltasse e ela esperou no esforço da calma que não vinha, e esperou na certeza de que o corpo sem ele nunca mais seria o mesmo e ela esperou na ânsia de ter de novo a boca beijada naquele beijo que extasiava e ele tem de voltar e vai voltar e chegou o dia em que ele voltou com aquele olhar tão lindo e com os braços tão fortes e quando ele voltou aquele sentimento tomou conta e como era bom como era bom amar ele e estar com ele e sentir, sentir todas aquelas sensações que só com ele, só com ele e que bom que ele quisera a pausa porque agora a apertava com tanta força, e gemia, e queria mais e pedia e como ela gostava, e dizia nunca, nunca mais pausar e se roubavam de qualquer razão e se enlevavam os dois juntos, saiam do mundo e ele sussurrava ah quando ele sussurrava ela tremia e dizia nunca mais, nunca mais...

Tita 18/07/08

domingo, 26 de julho de 2009

Sensações

No entremear das conversas No encontrar das coisas em comum No interesse despertado Nas risadas compartilhadas Na presença marcante Na descoberta dos caminhos No relaxar dos momentos No som das vozes Nas sensações que permanecem Nas marcas do corpo Nas imagens que ficam No despertar dos sentimentos
No desejo da continuidade No medo da entrega Na insegurança do dia seguinte Na noite Na madrugada No tapete No chão Tita 09 de outubro, 2006.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Serra abaixo

To com saudade do meu amigo. Saudade de vê-lo atarefado ao ritmo da musica, andando prá todo o lado. Saudade do meu amigo de pandeiro na mão, contando da filha, de viagem, de ilusão. Saudade de me sentir bem vinda, de me deixar ficar, da musica que não finda. To com saudade do meu amigo saudade da serra abaixo, saudade de tudo que digo
enquanto aqui não relaxo.
Saudade do chocalho feito de lata, da alegria e da vida pacata. Saudade da mesinha reservada pra mim, e de sempre ficar até o fim. Saudade de ir pra casa vendo o mar, inda tonta, e n'outro dia voltar, sempre pronta. Saudade das pessoas, do lugar aconchegante, da cerveja gelada, do sorriso estimulante. Que saudade do som puro, de sorrir e de cantar. Saudade do meu amigo, e de com ele dançar.
Tita 24/07/09
Saudade d'ocê Mau.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Diálogo interno

Levanta-se e, ainda sonolenta, chega até a janela. Olha a chuva através da persiana. Volta para a cama pé ante pé, não quer que escutem que ja acordou porque não tem vontade de conversar. _Vou ler. Mas está escuro. Se acender a luz logo alguém abre a porta, pergunta alguma coisa, se instala, conta, diz, não para mais de falar. _Então, ler não dá. Melhor pensar na vida. _Tá vazia, pensar não dá. Então musica... _Isso! Fone bem dentro do ouvido.Ninguem vai escutar! Tita 23/07/09 Tudo a ver "Quero pensar com calma, em paz, espaçosamente, nunca ser interrompida, nunca ter de me levantar da cadeira , deslizar à vontade de uma coisa para outra, sem nenhuma sensação de hostilidade, nem obstáculo. Virginia Woolf em "Contos Completos" - "A marca na parede."

Paranoia

Eu me lembro! Foi daquela ultima vez que fomos à praia.
Não foi não, que mania de achar que sabe, sempre, quando e como as coisas aconteceram. Não foi daquela vez! 
Ta bom, então não foi, nem ligo! Aconteceu, não importa quando.
Pronto, já esta querendo colocar o peso em mim de novo? Querendo a toda hora me lembrar que eu disse, que eu fiz... e você? Não fez nada? 
Mas foi você quem me perguntou quando tinha acontecido!!! Eu já nem me lembrava do fato!
Não se lembrava? Mas não foi logo dizendo que dia tinha sido, aliás, inventando o dia do acontecimento? Deve ter se lembrado disso milhões de vezes e é claro, só me recriminando! 
Mas que bobagem essa conversa, vamos mudar de assunto!
Tá vendo? Quando a coisa vira para o seu lado, já nem quer mais conversar. É assim que você faz!!! Tá bom. Fala logo. Qual é o problema? Porque se não há um problema você sem duvida esta querendo arrumar um.
Por que? Você está querendo dizer que eu SEMPRE arrumo problemas? 
Eu falei a palavra “sempre”? Falei?
Se não falou com certeza pensou, eu vi a expressão do seu rosto, pensa que eu não vi? 
Eu acho que vou sair um pouco, isto aqui não está me cheirando bem...
Ah, então era isso que você queria não é? Sair!!! Agora sim deu para perceber o intuito, desde o começo. Você queria sair e arrumou essa conversa só para ter motivos para sair sozinha. Vamos lá, diga logo quem é ele. 
Ele? Que ele? Você está maluco?
Viu? Estava faltando me chamar de maluco!!!! Era aí que você queria chegar!Bem aí! Saia então, encontre-se com ele, quero ver se vai dar alguma coisa muito melhor do que este inferno em que a gente vive. 
A gente vive em um inferno? Vive?
Vive. A gente vive um inferno diário. 
Ah! Agora percebi!!! Era aí que você queria chegar! Aposto que já não aguenta mais...
Isso mesmo! Não agüento mais. 
Você está maluco? Desde quando você inventou isso? O que está acontecendo?
Nada! Então não está acontecendo nada? Só eu que acho? E eu é que sou o maluco? Então eu sou o completamente maluco? É isso que você queria me dizer? Então eu vou-me embora, é isso que você quer? 
Eu? Eu falei que era isso que eu queria?
E precisava? Se era nisso que você pensava o tempo todo! Não precisava mesmo!
Bateu a porta e não voltou nunca mais. 
Tita 26/03/09

terça-feira, 21 de julho de 2009

Fio tênue?

As portas estavam fechadas. Toquei a campainha, bati com força, ninguém atendeu. Gritei, chamei, não houve resposta. O mais difícil foi voltar. Um lugar deserto como aquele, fiquei com medo. Nem uma pessoa, nem um carro. Cheguei a pensar que teriam feito de propósito...fazer-me ir até lá, hora marcada, confirmada e ninguém para atender, parecia coisa proposital. Voltei devagar, o sol se pondo no horizonte. Na verdade, pensei que não conseguiria voltar. O celular? Não dava sinal. Acho que não havia antenas por perto. Pois é, concordo...parecia coisa feita para me assustar. O por que? Não sei dizer. Foi sobre isso que pensei no caminho de volta, cansada e entristecida. Por que? Procurei não pensar na caminhada longa, no escuro, nos pés cansados. Apenas caminhei e deixei que os pensamentos corressem soltos. Cheguei à conclusão de que não importava o porque. Eu estava ali, numa estradazinha deserta e escura e estava só com os meus pensamentos. Como eu disse, (não disse?) o sol se punha no horizonte e, quando vi que não havia mais jeito, era eu comigo mesma senti, estranhamente, uma grande paz. Andando, desliguei-me do movimento do corpo, dos pés em ritmo constante, do barulho do meu andar na terra. Desliguei-me do escuro que a lua clareava, dos barulhos da noite que tomavam conta. Desliguei-me de mim, pouco a pouco e sabe do que me lembro? Lembro-me de que um silencio tomou conta do interior da minha cabeça e havia (você sabe que sempre há) um barulho de silencio, tomando conta de tudo que fazia com que o vácuo dentro de mim mesma se expandisse cada vez mais. Tenho certeza de que foi pelos meus ouvidos que o vácuo saiu. Não, não foi pela boca. Fosse pela boca eu teria sentido o gosto. Saiu pelos ouvidos, com um apito em surdina, bem leve, bem manso. Foi saindo aos poucos e conforme saia o vácuo, saia também a alma, como uma brisa leve e transparente. Quando me dei conta estava olhando, de fora de mim para mim mesma. Eu olhando de frente para mim. Eu, olhando eu, aquele ser que andava ininterruptamente com o mesmo ritmo, o olhar fixo no horizonte, sempre em frente, em frente, sem parar. Procurei falar comigo chamei-me alto, gritei, mas não havia resposta. E então um pensamento tomou conta dessa minha alma tênue. Que bom estar fora do corpo porque parece que aquela pessoa que era eu naquele corpo, não estava dando certo...Haja visto alguem ter-me feito ir tão longe para me deixar ali sozinha no escuro, andando sem parar. Na verdade, será que não teria sido uma coisa boa? Será que vendo as coisas como alma eu poderia entender melhor? Esta é a ultima coisa que me lembro de ter pensado. Mas agora que estamos conversando me ocorreu o seguinte: será que estou alma ou voltei para o meu corpo? O que? Você não sabe? Como não sabe? Há quanto tempo estamos conversando? E me diga uma coisa: quem é você? Sabe que estou me sentindo flutuar? Não é estranho? Não? Você também? Ah....você também! Tita 09/06/2009

domingo, 19 de julho de 2009

Contratempo

No fim do dia olhei para o horizonte e lá vinha ele, ao longe, bem longe.
Sem dúvida era ele.
Inconfundível seu jeito de andar e o esvoaçar dos cabelos a cada batida de seus pés no chão.
Que bom, ele estava chegando!
Arrumei as almofadas, retirei o jornal do chão da sala, fui ao espelho passar batom.
Olhei para mim.
Pânico!
Será que eu queria mesmo que ele chegasse?
Tantos dias passados comigo mesma, sem nenhum compromisso, ninguém com vontades além da minha...
Acordar, comer, dormir, na hora que quisesse e ainda a alegre presença dos filhos esparramados comigo no sofá.
Lembranças das infâncias, cafunés nos cabelos, comidinhas na mesa da cozinha, intimidade sem nenhum peso.
Apaguei as luzes, tranquei as portas, fechei as janelas, desliguei o som.
A campainha tocou, não atendi, estática, muda, atrás da porta.
Não estou em casa.Tive um contratempo de ultima hora.
Aconteceu quando me olhei no espelho.
Tita 21 de outubro, 2005.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vírgulas

Tenho tanta preguiça de explicar! 
Passo ao largo, quero que entenda.
Ai que trabalho explicar tudo, entrar nas minúcias, nos detalhes, no passo a passo!
Prefiro passadas largas que, decididas, não necessitam definições.
Prefiro o verso que, com pouco, completa.
Quero dizer com ínfimas palavras, cada vez menos.
Entremeá-las com suspiros, gemer um pouco, dar um sorriso, uma risada, fechar os olhos, dormir. Palavras poucas, jogadas aqui e ali.
Quem fosse o objetivo de minha fala entenderia com certeza, poupando-me o trabalho da contextualização.
Fico com o essencial.
Frases curtas, poucos adjetivos.
Abolidas as vírgulas, passo adiante, chego ao final.
Tita 7/07/08

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Caminho sem vida

Meu amor
nem retorna e já se vai
não se instala e já se esvai.

Meu amor, meu amor
meu só sonho de união
minha perda, meu ardor
meu querer composição

Meu querido perdido
no caminho traçado
meu ser sempre esquecido
meu querer abandonado

Segue teu caminho trôpego
 leva o meu beijo sôfrego
abandona sem partida
nossa aposta já perdida.

Nosso amor sem nunca ser
deixa caminho sem vida
morre e deixa de nascer
fica sempre em despedida.

Tita - Vinhedo, 11 de julho de 2009
Tudo a ver
"porque é certo que as pessoas estão sempre crescendo e se modificando, mas estando próximas uma vai adequando o seu crescimento e a sua modificação ao crescimento e à modificação da outra; mas estando distantes, uma cresce e se modifica num sentido e outra noutro completamente diferente, distraídas que ficam da necessidade de continuarem as mesmas uma para a outra."
Caio Fernado Abreu em CAIO 3D - "Apenas uma Maçã".

domingo, 12 de julho de 2009

Tomás

_Tomás, você vive no mundo da lua?
_Eu vivo.
_E como é lá?
_Tem monstro!!!
_Eu também vivo no mundo da lua.
_E como é lá?
_Tem vários caminhos coloridos e eu posso escolher de qualquer cor. Eu posso escolher o verde, o amarelo, aquele que eu quiser. Eu escolho o caminho e saio andando.
_E aí?
_Aí começam a aparecer voando várias coisinhas de todas as cores para eu pegar e conforme a que eu escolho é uma coisa.
_E o que é?
_Às vezes pode ser um monstrinho mas se for eu jogo logo fora. Mas às vezes é uma fadinha e eu posso pedir desejos.
_Tia Tita...
_ O que?
_Pede pra ela me trazer um filme da Coraline?
Tita - Vinhedo, 10 de julho, 2009

Sofia

Com seus olhinhos castanho-escuros olhou-me e perguntou:
_Para que servem todos estes números?
Eu disse:
_Para fazer uma lista.
_Que lista? _Uai, uma lista.
_De coisas?
_Lista do que você tem que fazer, lista das suas vontades, lista dos sonhos, lista de pessoas...
Ela me interrompeu:
_Ah! Vou fazer uma lista de melhores familiares.
_Como melhores familiares?
_Uhmmm...é uma coisa para saber de quem eu gosto mais na minha vida, as pessoas que eu gosto de dar adesivos...Ah! Eu vou enfeitar a sua folha de adesivos.
_E você não vai enfeitar a sua lista de adesivos?
_Não.
_Sofia, por que não?
_Não porque a minha lista é na folha de dados pessoais.
_E dados pessoais não se enfeitam?
_É porque eles fazem parte desse poema que nós estamos escrevendo juntas.
_Ah...
E ficamos quietas porque compreendemos tudo e não havia mais nada a perguntar.
Tita - Vinhedo, 10 de julho, 2009

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Rodopios na avenida

Gostaria de pensar sem rumo mas só consigo os mesmos caminhos mentais imaginando tua entrada triunfal na avenida, terno branco, recebendo as palmas e as luzes e o que foi, o que foi feito de ti hoje, escondido atrás de tuas feridas que não cicatrizam e que correm junto ao teu corpo na procura insana de alguém que as cure? O que foi feito da tua voz rouca que implora por um descanso em colo macio? Saio à tua procura sem na verdade querer encontrar-te e rodopio ao sabor da musica que um dia compusestes mas por que, por que deixastes que os acordes escorregassem na chuva e fossem lavados pelas inúmeras chuvas e massacrados pelos carros alegóricos que, um atrás do outro, passaram incansáveis na tua noite de glória? É isso que virou tudo enquanto sonhavas, mas não fazias por onde realizar o sonho? Anda, segue na avenida e por favor não olhes para o camarote porque estarei lá para cantar e dançar mas não para seguir teu caminho nem teus olhos claros a cada passo da alegoria que aprendestes sem nem mesmo ensaiar enquanto que eu ensaiei, errei e repeti incansavelmente cada passo, perseguindo dia a dia a nunca alcançada perfeição. Inconformado e passivo, quisestes me entregar o copo há tanto bebido, o cheiro gasto do perfume borrifado há tempos e a tristeza que jorra de teus poros cansados. Vai, desfila o teu samba lindo. Eu fico, pois não sou porta-estandarte e meus rodopios precisam de mestre-sala firme que tenha força para segurar-me. Caso contrário cairei na avenida e escorregarei nas poças de chuva, sob o peso dos carros alegóricos que, um atrás do outro, passaram incansáveis na tua noite de glória. Tita - Madrugada de 09/07/09

terça-feira, 7 de julho de 2009

A menina

Quando a conheci já era adulta, trabalhava , morava sozinha mas, não sei porque, tenho a sensação de que a conheço desde menina.
A mim parece que a vi crescer, os olhos verdes e inteligentes atentos a tudo o que acontece, a fala fácil, a aparente alegria sempre contagiante. Há dias em que parece que vê o mundo todo pelo avesso, fica amarga, ferina e crítica, sem encontrar nada que a agrade ou que valha a pena fazer parte da sua existência. Nesses dias espreito, sorrio, entendo e nada digo porque sei que são coisas da menina insatisfeita que ela é. Esperta e sagaz, nunca soube aproveitar bem seu potencial e não acredito que o conseguirá algum dia. Prende-se a laços invisíveis, ao berço da família, à solidão que muitas vezes se impinge, fazendo com que nunca alce vôo. Não o vôo que deveria, não o vôo que mereceria. Do tanto que dela gosto, apesar de termos grande diferença de idade, achei que poderíamos ser amigas, cheguei mesmo a sentir-me próxima e a acreditar que poderíamos acrescentar muito uma à outra. Que pena. Bobagens sem nexo fizeram e fazem sempre com que se afaste de mim. Prefere acreditar no que dizem e não no que viu o tempo todo em que estivemos próximas. Eu entendo e não procuro desfazer nenhuma intriga. São coisas da menina boba que teima em tomar conta da menina incrível que ela é. Tita 7/7/09

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Meu pedaço

Meu menino chegou!
E trouxe um semblante maduro de quem já andou pelo mundo e abraçou-me e sorriu quando lhe acarinhei os cabelos. 
Meu menino chegou bonito e forte contando histórias de andanças e conhecimentos, dizendo de acontecimentos, contando de novidades. 
Meu menino chegou cheio de vida e de presentes e trouxe musica e contou de pessoas e de leituras. 
Meu menino chegou cheio de planos e diplomas, e feitos, e novos jeitos de dizer e de falar. 
Meu menino chegou e entregou-me a parte que de mim que levara e me fazia falta. 
Meu menino chegou com a certeza de ir e vir como as estações, como as mudanças do tempo. Meu menino chegou já dizendo de partir, pois que aprendeu que a cada partida a visão de tudo se renova. 
Meu menino chegou, meu menino que tanto conheço e que sei é dos que partem e de novo partirá. Quando se for, bem sei, levará consigo esse pedaço de mim que lhe dei e que deixo que leve e traga a cada vez.
Que bom vai ser receber meu pedaço e o meu sempre menino, a cada vez que ele chegar.
 Tita 2/07/09 para João Paulo