Foi enterrado ao pé de um árvore mas eu não quis ver o enterro. Acho que foi remorso, tristeza e um certo alivio que devo confessar. Não dei atenção a ele nos últimos anos de vida! Se bem que ele também não me dava muita bola desde que mudamos para a fazenda. Gostava mais de correr, caçar, sujar-se de lama. Quando voltava e queria meu colo, estava sempre sujo e desajeitado. Eu não pegava. Então ele se ia e passou a vir cada vez menos, passei a chamar cada vez menos, até que um dia a noticia: morreu. Escorreu uma lágrima. Fui até o pomar, olhei debaixo do pé de caju aonde estava, duro, com os dentes à mostra. Fiquei chocada. Descuidei de você, nos afastamos, como foi possível? O tempo passou, mudei-me, nunca mais voltei lá, os donos são outros... Mas ele está lá, mesmo que não haja mais árvore, ele está lá. Foi meu companheiro durante muitos anos. Saudade dele pequeno quando se aninhava em mim, saudade dele quando corríamos na grama, saudade dele quando tremia de medo dos cavalos no meu colo. Faltou a placa: Aqui jaz Café, que só trouxe alegria e nunca reclamou da que não lhe deram.
18/11/2008