quinta-feira, 30 de abril de 2009

A coisa

Às vezes sai assim num repente seja que coisa for. De qualquer tipo. Explode, incontrolável. Talvez a vida seja feita de pequenas explosões de palavras, de idéias.... Às vezes explodo pensamentos de uma forma tão rápida que não consigo registrá-los. Porém, na maioria das vezes explodo sentimentos. Sou uma bomba que se refaz após cada explosão e que é capaz de explosões ensurdecedoras, intermitentes inusitadas diferentes a cada vez Alguém precisa cuidar de mim... Não me deixar cair não me deixar rolar da cama não me deixar escorregar ou bater nos móveis não me deixar sozinha. Sem ninguém me cuidando, eu posso explodir a qualquer momento. Que gente descuidada! Não deviam deixar uma pessoa como eu andar sozinha por aí! 9/03/2005

Fendido


Mais uma vez te vi ir soberbo, 
na minha imaginação destemido, 
de tua própria vontade imbuído. 
Constatação de incapacidade me ronda,Adicionar imagem 
aprisiona-me em círculos estreitos,
remexe meus próprios defeitos, 
fazendo mudar meus conceitos. 
Revolver não vou, 
lutar não mereço, 
o que foi já passou, 
ponderar não careço. 
Mais uma vez coisas tontas, 
adultisse distante, 
bobagens de afrontas, 
teimosia sem nexo, 
impossibilidade constante. 
Vai-se de novo hoje, 
não a criança, 
apenas o homem fendido, 
revolvendo o imexível 
fugindo do exequivel 
deixando de lado o possível.  

Tita 30/05/09
Tudo a ver
"Parta de espirito revigorado, como um cavalo nutrido a milho; deixe que ele se empine e dispare, arrastando-o para cá e acolá. Nada o há de manter na estrada; pelos prados orvalhados ele buscará distração, esmagando (onde quer que pise) mil florações delicadas.
V. Woolf - Contos Completos - "O diário de mistress Joan Martyn"

terça-feira, 28 de abril de 2009

O dono das palavras

Quando diz, transborda belezas. Não sei porque teima em desconfiar de si mesmo e confundir-se e recolher-se e guardar-se em cantos aonde o vento sacode as janelas. Prestasse atenção veria que ali os sinos sempre tocam e que, se deixasse, tocariam seus dedos assim como tocam os corações que vez por outra aportam e se demoram, sentindo as respirações tremerem. Deixasse fluir, tremeriam as mãos sobre o teclado como o riso por sobre a casa, tal qual os beijos que algumas vezes teimam em renascer, as palavras em jorrar, os abraços em tomar conta, como flores a nascer na alma fértil. Deveria abandonar-se aos sentimentos (quais fossem) sem vigiá-los, pois que a vigilia atrapalha as sensações assim como os remédios atrapalham o sono e os muitos pensares causam sobressaltos. Abandonasse o intrínseco das coisas encontraria os caminhos livres que muitas vezes, como tapetes, transportam corações unidos até garrafas de vinho e noites alegres. Solto e leve, unirse-ia também ao jorrar da mente descomprometida que, esta sim, inundaria seu ser e jorraria letras no papel há muito em branco, no âmago de um caderno vermelho. 28/04/09.

domingo, 26 de abril de 2009

Metido!

Eita amor que nunca bate na porta.
Metido!
sacode a gente faz o que quer  
dá frio na barriga
dá arrepio
vira de ponta cabeça.  
Deixa sem ação
adormece alguns neurônios
acorda outros há muito adormecidos,  
dá tremedeira.  
Enxerido!  
Quem te convidou?  
Quem disse para vir?  
Cuidado comigo!  
Ainda te dou o troco
te viro do avesso  
te deixo pasmo
te desconcentro  
te abalo
te endoideço
te grudo em mim  
p’ra sempre.

Tita 10/10/06  
Tudo a ver "Quem é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode mesmo ser que morra de repente. Mas morrerá em pleno vôo. O que é muito bonito." Rubem Alves em O Retorno e Terno.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Reviver

Às vezes me pego a ver a repetição das coisas, analisando a querer entender, procurando conclusões. Inútil. Não se explica o viver e o reviver a recontar o que foi contado. Não se pára a observar o observado. Devo ir em busca do que não espero em cada dia que se inicia? Esquecendo-me do que aprendi vou ao encontro do que já foi e recebo o ido que voltará, como surpresa. 19/05/08 - 16/04/09

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Pedregulho

Ouvi e li a fala de nosso presidente outro dia sobre as pessoas brancas de olhos azuis, aquelas que são responsáveis pela crise, indabem tenho olhos castanhos que algumas vezes até se tornam verdes mas nunca, nunca azuis e sou até branca mas a praia tem-me tornado um pouco morena, mais um motivo por não ter sido eu a causar crise alguma. Fiquei com as palavras lidas e ouvidas na cabeça martelando e martelando e andei com o presidente (esse que escolhemos), na minha mente esses dias e deve ser por isto que minha cabeça também tornou-se um disparate e andei criando imagens um pouco estapafúrdias. Imaginei a carreata presidencial em carros abertos no calor do nordeste, o presidente com chapéu desses que vira e mexe ganha por ai, muitos brancos ao lado dele, acenando para o povo (não sei porque esta imagem) e ainda me ocorreu que enquanto o carro andava rápido o povo descalço seguia atrás acenando, sorrindo e gritando presidente! presidente, o carro levantava os pedregulhos do caminho e os jogava com força nos olhos, na face, no corpo daqueles que não causaram a crise. Cada coisa que a gente pensa! 15/04/2009. Tudo a ver "E quase admirei a sua capacidade de comandar as reações daquela manada bruta da qual, para ele, eu devia fazer parte, presa suculenta, carne indefesa e fraca." Caio Fernando Abreu em "Morangos Mofados - SARGENTO GARCIA"

Do teu

Saudade...
Do teu sorriso maroto,
 da tua atenção delicada,
da tua risada safada,
das tuas mãos sem igual.

Vontade...
Da tua boca macia,
do teu beijo molhado,
do teu carinho ousado,
do teu gemido final.

27/10/2004.

Tudo a ver
"No ardente ninho de tua cabeleira respiro o odor de tabaco misurado ao ópio e ao açúcar; na noite de tua cabeleira vejo o infinito resplendor do azul tropical; sobre as margens cheias de penugem de tua cabeleira embriago-me com os odores de alcatrão, de almíscar e de óleo de coco. ...Quando mordisco teus cabelos elásticos e rebeldes parece-me que estou comendo lembranças" Charles Baudelaire - Pequenos poemas em prosa - UM HEMISFÉRIO EM UMA CABELEIRA

terça-feira, 7 de abril de 2009

Constatação

Estava cansada de constatar, confessou-me baixinho para que ninguém escutasse. Respostas que sabia há tempo e teimava em constatar novamente. Mania de ir com as coisas tão até o fim, mas tão até o fim que sempre lhe sobrava algum sofrimento no final. Mania de saber todos os detalhes, dizer todos os porquês, expor o que deveria ficar guardado a sete chaves. Até que a constatação a tomava por inteiro, sempre assim, em um repente quase que esperado, depois de tantos saberes reunidos. E ali restava com o que já sabia a lhe pesar nos braços. Disse-me que neste momento conseguia ver a cena em toda a sua dimensão e que só então percebia todas as nuances. Aconteceu ontem, disse. E com tudo o que já sabia saíra passo a passo, forçando um sorriso nos lábios, como se fosse preciso... Nunca um acesso de fúria, pois que este mataria a possibilidade da curiosidade a ser satisfeita. Nunca um afastar decidido pois então como poderia saber? Sempre aquele cavar das verdades doloridas, que só terminava na constatação final. Aquela de ontem. Que a deixara com o que já sabia a lhe pesar nos braços.
07/04/09

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Vocabulário

Não sei como se chama o que acontece entre nós. Não há palavra alguma que poderia definir.
Não sei como chamar este aconchego que toma conta dos domingos nem a placidez das tardes passadas no meu ou no seu sofá.
Não sei como dizer dos caminhos recheados de musica que percorro para ir ao seu encontro, nem do deitar lado a lado que preenche as noites em que não volto para casa.
Não sei como nomear a vontade de conversar sobre o dia a dia ou o tomar do vinho conversando bobagens.
Não me atrevo a definir limites, não nomeio as etapas. Não ouso detalhar futuro e nem digo se há passado.
Não falo que venha nem penso em ir mas você vem e eu vou.
Só sei que quando vou parece que sempre estive e que quando você vem, nem percebo que não estava antes.
Não sei.
Só sei que quando acontecem os dias em que ambos estamos, há um suceder de leveza, tranqüilidade, paz e calmaria, que não nomeamos pois no nosso vocabulário, não há palavra alguma que poderia definir.
23/06/08