Poderia ir àquele bar de música, à praia, ao domingo perdido no sol
Dançar, onde danço sozinha ou com quem nem pergunto o nome, dançar por dançar.
Passear pela noite, entrar onde me aprouvesse, naqueles bares estranhos em que gosto de estar, escutar músicas pela noite adentro
Poderia ir ao cinema, depois comer um sanduíche, comentar o filme com amigos
ou música clássica, escutar o piano, o coro, o violino
Sentar-me em uma mesa em um café, caderno na mão,observar as pessoas
Poderia deixar-me ficar, ler um livro, deitar-me no tapete da sala e escutar música bem alto,
folhear antigas recordações e re-chorar o já chorado, re-rir o já rido, re-lembrar o já vivido, o que poderia render lindos textos
nadar e depois estirar-me ao sol escutando conversas esparsas, tomando uma caipirinha
Poderia visitar aquela amiga que, como eu, gosta da noite imprevista, fugir de todos os perigos e ver amanhecer o dia tomando cerveja sentadas na calçada do posto de gasolina
deitar na rede escutando o mar, dormir fora de hora, levantar-me de madrugada e sair pelo mundo naquela cidade pequena onde sempre encontro alguém para conversar
Depois voltar para a cama, dormir de novo, acordar com o sol já alto e re-dormir deitada em uma espreguiçadeira, ao ar livre
Poderia ligar para os amigos, combinar novos programas, chamar pessoas, conhecer novos lugares
descobrir saraus, ir às casas em que há reuniões de novos poetas, escutar o que gosto e o que não gosto nem um pouco, ou apenas observar
passar os fins de semana no campo com minhas irmãs, que correm doces e mansos e cheios de gente a contar coisas, e perguntar e trocar
Poderia visitar amigos que moram distantes, chamar outros para virem à minha casa,
sentir a delicia de estar com gente com quem nem preciso falar
andar pelas ruas, sentar nos bancos das praças e ver o sol de inverno por entre as árvores,
cozinhar tomando copos de cerveja, musica alta, comer e dormir.
Poderia.
Ou poderia estar aqui onde estou,
a ter uma colcha de retalhos macia que me cobre e que
a cada dia renasce com um novo retalho que me conta uma nova história,
tornando os dias cheios de imprevistos e de sentimentos.
Neste momento a vida se renova e sabe a flores silvestres, vidros perfumados, fragrâncias ímpares e novos sabores
e é vivendo este momento que apreendo o que vale a vida
quando vale a pena da vida, ser neste momento, vivida.
Tita - 29/08/2014
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