sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Adeus 2009


O blog vai para a praia novamente. Na praia vira caderno que pode ou não voltar com páginas escritas.
No fim de ano passado rabiscou-se, além de em cadernos, em livros, guardanapos, pedaços de papel. Nas férias o blog cria ou apenas pensa. E lê bastante, abastecendo-se para re-escrever a vida, inventá-la ou criá-la de outro modo.
 Na água do mar o blog se re-nova e volta novo para todo o novo que a cada ano deve vir.
Para encerrar o ano e despedir-se de todos, o blog re-pete postagem antiga homenageando um amor diferente de todos os outros pela sua propria essencia, pelas trapaças da vida, pelos revezes do destino e que, ao longo do tempo, tornou-se uma grande amizade.
Em 2009 meu amigo se foi. 
Amigo que trouxe alegrias e também tristezas das maiores que já tive. Porque amigos são assim. Nós os amamos e podemos por vezes odiá-los. Eles nos fazem mal algumas vezes, mas quando teem a coragem de nos olhar, entender o que nos causaram e procurar re-cuperar o bonito que tínhamos em comum (mesmo que nada volte a ser igual a antes), o amor mutuo se re-instala o bonito se re-nova a gente se re-vê e aprende cada vez mais. 
Com meus amigos aprendo. 
Com meu amigo ido aprendi muito e me lembrarei sempre do tilintar dos sinos que deixo aqui para vocês com o desejo de que tenham todos em sua vida, um tilintar sempre re-petido e re-corrente.

QUE 2010 NOS TRAGA MUITOS SINOS.

O tilintar dos sinos



Lembro-me dele como de um tilintar de sinos. 
O sorriso sempre presente, os apartes engraçados, o olhar inteligente. 
Lembro-me de como preparava minha chegada e me abria os braços, a alma, a casa. 
Lembro-me do café da manhã que preparava com cuidado e de como me presenteava com pequenas novidades.
Lembro-me das noites no sofá em que palavras jorravam por horas sem fim, risadas ecoavam e havia sempre algo de novo para perguntar e para contar. Lembro-me dos abraços e do amor que nos transtornava e nos fazia por vezes, perder a noção dos rumos.
Lembro-me dele a contar do passado e a me fazer sentir que o presente, comigo, era momento de vida incomparável a qualquer acontecimento anterior.
Lembro-me do tanto que crescemos juntos em todas as direções e do tanto que trocamos de nossas belezas interiores. 
Lembro-me de sentir-me plena e de sentir, com ele, a plenitude.
Hoje revi em fotos o seu sorriso e com ele sorri perdendo-me em lembranças e, como quem não acha o caminho de volta, pus-me a lembrar dele, ouvir-lhe a voz, reviver momentos.
Então as musicas dele encheram a casa, aumentei o som e abri todas as janelas. Deixei que entrassem os raios de sol, o vento e os pássaros, dancei pelos cômodos e me deixei voar, rodopiando. 
Os sinos tocaram alto, meu corpo se encheu de borboletas, a alegria me invadiu por completo, levantei meus braços e agradeci, alto e forte,
 por ter aprendido para sempre, o que é ser feliz. 
Escrito em 01/03/2009 para Z.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Natal 2009

O que dizer de 2009, um ano que foi tão muito mega bom e ao mesmo tempo tão muito mega triste?
Ganhos e perdas se misturaram.
As perdas todas, mas especialmente a do amigo mais do que querido, reforçam meu eterno acreditar de que não podemos perder o que nos surge.
É sempre preciso ver os porques dos encontros e verificar as possibilidades, estar sempre abertos para o novo e o inesperado, ter curiosidade em tudo, abrir a mente, os braços, o coração, a vida. Temos de viver as pessoas e cuidar dos encontros e, sempre, perdoar.
Para o novo ano, quero mostrar mais minhas fraquezas...shi...vem choro por ai ou vou aprender a mostrar sem chorar?
Enquanto ainda é 2009, segue o link do meu desejo, de que todos tenham um muito mega bom natal sem nada muito mega triste.
Run-se uma Santa - Alterar a dança Santa Claus (CLIQUE) Tita

sábado, 19 de dezembro de 2009

Ponto e parágrafo

Não sei quantas mortes ja morri. Perdi a conta. Ressurjo a cada uma e, a cada ressureição, falta-me um pedaço. Já perdi vários. Mas sigo, mesmo assim. Tita 16/12/2009

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Fermento


Chamava a atenção.
Era bonito, parecia macio e, além disto, transmitia um calor que percorria o corpo de quem olhava. 
Era alguma coisa que preenchia como se, através dos olhos, entrassem complementos para todos os sentidos resultando em plenitude, só de olhar. 
Naquela tarde havia muitas pessoas ao redor em paz e silencio quando algo inesperado aconteceu.
Aumentou, aos poucos, de tamanho.
Deformou-se, crescendo para todos os lados, cada vez mais, criando bolhas e espalhou-se em todas as direções, como se tivesse sido acrescido de grande dose de fermento. 
Assustados, deram um passo atrás afastando-se conforme ocupava o espaço. 
Alguém de extrema coragem chegou perto e, com muita força, deu um soco na massa estranha. Murchou em um segundo, transformou-se em liquido, escorreu pelo chão e, penetrando a terra pouco a pouco, desapareceu.
Não deixou rastro.
 Em pouco tempo todos se esqueceram da beleza, da plenitude, do calor no corpo e do fato estranho. 
Como se nunca tivesse acontecido.

Tita revisto em 17/12/2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

Zédu

Video: Tita
Texto: Zédu/Tita Musica: The dance of the blessed spirits (Orpheu e Euridice) 12/12/2009

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Fim

Tinhamos um pelo outro um carinho enorme, do tamanho que só eu e ele sabíamos. Fica entre nós. Tenho a certeza de que ficará com ele, aonde ele estiver. E ficará comigo para sempre. Tita - 09/12/2009 Para Z.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

No more

Não havia mais sentido.
De qualquer modo, as lembranças boas permaneceriam para sempre.
Nunca nos esqueceríamos dos fins de tarde sentados frente à frente na pizzaria da esquina;
do primeiro reencontro após anos sem sabermos um do outro, ou das noites de terça-feira quando nos retirávamos dos lugares movimentados.
Havia mais coisas a lembrar, coisas que nunca haviam sido ditas, mas sem duvida sentidas: o tremor que percorria o corpo, o arrepio ao ouvir palavras sussurradas, a leveza do corpo quando ríamos juntos.
Nos lembraríamos sempre das coisas que haviam sido escritas, das noites de sabado, do café na madrugada.
Havia também o vinho chileno e o sanduiche de mortadela, os CDs gravados, as palmas das mãos sempre vermelhas, a pizza de alicci.
Ainda os passeios de carro e os telefonemas antes de dormir.
Ah... as ligações de madrugada!
Ainda era tão sentido...
Mas não fazia mais sentido, não havia mais sentido.
Ja havia sido, findo, ido...i.........
Tita - 2004/2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Poeta Convidado - Telê Ancona Lopez


Vai-se um ser querido e com a ida a familia une-se um pouco mais. Em toda a perda há ganhos e esta me trouxe a satisfação da visita dos que nunca haviam estado aqui antes e também a autorização de Telê para que eu colocasse seu poema no meu blog. Prima querida, professora conhecida e reconhecida por suas análises das obras de modernistas brasileiros e também poetisa, o que eu não sabia.

LINDA ROSA 
LINDAROSAMARIA
SABE CANTOS E BALADAS ......................
ACALANTOS E CONTOS DE MUITO ESPANTO 
TECE O TEMPO A VOZ CALADA 
NOS ACORDES DE CHOPIN 
 LINDA ROSA MARIA 
SABE DAS COISAS DE HOJE
 E DO INFINITO 
TÃO ANCILA E TÃO RAINHA 
NAS SUAS CONVERSAS COM DEUS 
 LINDA 
TÃO CHEIA DE GRAÇA 
TANTA LUZ NO SEU VIVER 

Telê Ancona Lopez - junho/julho 2008

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Coisinhas pequenas

É um mergulho como aquele que descrevem quando querem dizer que a gente consegue mergulhar em um cristal: uma queda, um escorregão, um tropeço e de repente você está lá, entrou em outra dimensão e não esta mais naquele mundo do qual você conhecia tudo e sabia todas as relações e decisões; Um mundo novo, desconhecido e profundo. 
E você vai, seguindo aquela pequena coisa que toma conta de todo o seu tempo, suas idéias e seu pensamento e, a cada vez que aqueles olhos a olham você escorrega e vai descendo no escorregador das sensações e aterrisa no macio daquele mundo que você pouco conhece mas que a aconchega, abraça e chama para lá ficar. 
Magia. 
A magia dos olhos que descobrem você e fazem com que fique totalmente tomada por eles enquanto as mãozinhas a acariciam e o corpinho vai amolecendo nos seus braços e se abandona, completamente. E então você sabe que está assistindo ao verdadeiro dar-se, o verdadeiro entregar-se e pensa "um dia eu já fui assim e acreditei que poderia me dar e me entregar". 
E é ai que você faz uma promessa firme e para sempre: “oi coisinha pequena, eu vou fazer tudo o que puder para que você possa ter certeza absoluta de que vale a pena”. 
Você se empenha, se esforça, se dedica e depois que o tempo passa e a primeira e a segunda coisinha crescem, você constata (e ainda escuta) que errou mil vezes, bobeou uma quinhentas, tropeçou outras mil mas você sabe (e só você sabe), o quanto fez tudo tendo a certeza de que estava sempre e sempre, fazendo o seu melhor. 
Então você se desculpa, olha para os tão pequenos que se tornaram grandes, pensa ai como eu sou feliz e diz: se não fossem vocês, eu seria muito menos do que sou. Que bom que vocês vieram! 

Tita - 1/12/2009 Tudo a ver 
* Deborah aos 9 anos entra em casa agitada: “mãe e pai! Uma menina o outro dia morreu estrufada!” *João Paulo aos 3 anos, aprendeu o que quer dizer “sem educação” e então bravo com um menino que roubou seu brinquedo gritou: “Mendicação!” e olhou-me com um sorriso, o olhar vitorioso. 
Tita - caderno de anotações, há muito tempo.

domingo, 29 de novembro de 2009

Duas cadeiras

Ao lado do presépio, três cadeiras. Numa delas a que espera as crianças, na outra a que se preocupa para que não falte presente para nenhuma no saco do papai Noel e na terceira a que, mesmo com dificuldade, falta de ar e muitas dores, nunca faltou.

Sempre presentes as três, com os cabelos a cada ano mais brancos, com as estaturas cada vez menores, com as mãos trêmulas, o andar vagaroso, acompanhadas uma por uma bengala, a outra por um cilindro de ar, mas sempre lá, reconhecendo a todos, conversando com todos, recebendo a todos com um beijo e um presentinho de natal.

Assim tem sido desde sempre. Desde os natais de nossa infância, desde as passagens de ano na Alameda Jaú, desde quando nos reuníamos nos almoços de domingo.

Através delas nos unimos e é por elas que todos os anos separamos mais de noventa pratos, copos e talheres e organizamos nossa festa de natal.

Olhando-as, tememos a cada ano que um dia uma delas nos faltasse e pedimos que nos mantivessem unidos e bons, e pacientes e compreensivos como sempre o foram e nos ensinaram.

Com elas aprendemos a força da perseverança e através delas nos compreendemos e perdoamos nossas inúmeras falhas prometendo sempre a nós mesmos não deixar nunca de nelas nos espelhar.

Porém o dia de ontem chegou (o que acredito já estava escrito, mas por que são assim escritas estas coisas?), e a partir de então nossas vidas não serão mais as mesmas, nossa festa não terá o mesmo sabor e as crianças deste natal saberão que é preciso crescer porque mesmo os mais fortes não estarão ali para sempre.

Neste ano não teremos mais três cadeiras ao lado do presépio no natal.

Uma delas, a que menos falava e mais observava e por observar tudo sabia, nos deixou.

Com ela levou um terço de nossa força, de nossa alegria e de nossa festa de natal.

Tita – 29/11/2009

Tudo a ver

Primeiro, nenhum sentimento me doía.

Depois, fui sentindo a dor.

Agora, dói-me sentir.

.

Ser novo é estar longe de tudo e tocar o que se sonha.

.

Ter idades é estar perto de tudo e não tocar

senão esse turvo espelho: saudades

Mia Couto em"A dor e o tempo" - idades cidades divindades

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Trampolim


Calor que se espalha pelo corpo,
vontade de contemplar o horizonte...
É como se uma nuvem tomasse conta dos momentos. 
A mente floreia cenas, 
perfuma quadros, 
apaga imperfeições,
 o coração pula, a mão sua e treme,
a boca sorri sem esforço, 
os olhos se semi-cerram, 
lágrimas alegres correm, 
emoção toma conta. 
Então,não vejo mais nada. 
Pulo do trampolim 
mesmo sem saber se o vazio é suficientemente fundo, 
se há braços que amparem 
ou se vou me esborrachar.
O fato é que, mesmo quando me esborracho, 
nunca acho que seria melhor não ter pulado! 

Tita - Revisto em 27/11/2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Estilhaços

Animou-se,
...............entregou-se,
.................................empenhou-se, .
.......................................................dedicou-se.
Revelou-se,
...............mostrou-se,
.................................envolveu-se.
Amoldou-se,
................rendeu-se,
................................apaixonou-se.
E então,
q
u
e
b
r
o
u
-
s
e
Hoje só es-ti-lha-ços.
Cacos pequenos,
disformes,
com e sem cor,
espalhados pelo
...........................chão.
Tita - 24/11/2006

domingo, 15 de novembro de 2009

Não se vá!

Não vá ainda!
Há muita troca de coisas a dizer e escrever. Faltam musicas a ser cantadas, poesias a declamar, ler nos livros as frases riscadas que gostamos de reler. Comprei entradas para o teatro, escrevi um e-mail pra você rir e outro ainda pra você se enternecer.
Preciso mostrar aquele texto que você corrigiu, saber se ficou bom, saber das minhas frases bobas e das palavras que repito demais. Sim, eu aboli metade das vírgulas.
Não se esqueça de que precisamos nos sentar na mesinha de madeira daquele barzinho de musica e, sabe da novidade? O quarto de hóspedes ficou pronto. Você disse que vinha, venha logo, quero saber quando você vem. Quando você vem?
Não vá! Ainda não é hora!
Temos de nos esquentar os pés tomando vinho nas conversas de uma noite toda e desta vai ser você deitar a cabeça no meu colo e eu vou acariciar sua testa, coisa que você sempre fez comigo. Já sei, você vai rir das minhas bobagens e devolver frases sarcásticas, ou ainda num repente se irritar e brigar sozinho enquanto eu escondo um sorriso. Você fica muito engraçado quando faz birra e espalha bravice para todos os lados.
Por favor não vá.
Eu quero contar do livro que estou lendo, preciso saber quem é a cantora da musica que você mandou e me diga, você escutou todas aquelas que eu mandei?
O Ipê sente saudade, o cão está triste, a praça esta só. Olhe na janela, a borboleta quer entrar e tem saudade do aconchego do sofá.
Sinto tanto a sua falta!
Não vá ainda, não vá!
Tita 15/11/2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Fugindo

Você deu a entender mil vezes: percebi, mas fiz que não.
Você insinuou: percebi, mas fiz que não.
Você escreveu: preferi não ler.
Você cantou: não liguei o som.
Você representou: fingi não ver.
Você fotografou: não olhei.
Você desenhou na areia: passei longe.
Até que você gritou.
Fiz que não escutei.
Ouvidos moucos não escutam gritos roucos.

  TITA 29/08/06

domingo, 8 de novembro de 2009

Retrato


Arrumo o armário. Esta roupa não quero mais, esta uso pouco (coloco para trás). 
Da gaveta das meias, vou tirar aquela furada. Que pena, tão gostosa no inverno... Melhor não guardar mais, se guardo acabo usando.  
Quero começar o ano com tudo arrumado. 
Esta calça não serve, ficou apertada. Vou emagrecer, sem duvida alguma. Vou guardar. Gostava tanto quando usava... Quantas bolsas! Porque preciso de 4 bolsas pretas? Esta foi minha irmã que deu, esta uma amiga trouxe da Argentina e esta....esta me lembra uma noite que parece estar longe mas está sempre perto.  
Lembro-me de você chegando com aquela caixa grande e seu sorriso enorme. O abraço apertado ao me dar o presente, minha curiosidade e alegria ao abrir. A bolsa preta. Esta bolsa preta, que hoje faz parte de um armário sem ordem aonde nada tem lugar certo, nada fica perfeitamente reto. Sinto tristeza, embarco na nostalgia. 
Lembro-me de que guardei a caixa grande. Pego no alto, na ultima prateleira do armário.Dentro a rolha do champanhe, o cartão que veio com as flores, um guardanapo com um pouco de batom e uma frase bonita, o cinzeiro daquele hotel na montanha, o cachecol de lã, o invólucro do bronzeador, a fita que amarrava a caixa do presente, suas cartas... e o retrato: nós dois, juntos.  
Deixo o armário, coloco a nossa musica, olho o retrato e embarco de volta ao nosso tempo.  
Quando cada caminho desembocava em lugar certo, quando cada pensamento culminava em realidade, quanndo nada no mundo era desarrumado.
Tita - 2006

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

CHAMADO

A musica, o tom,
o sorriso maneiro,
cerveja gelada,
chocalho de lata,
o hospitaleiro, a vida pacata. Na madrugada, errando caminho,
voz já cansada,
tropeço na estrada, conversa na praia, dormência no sol, olhar o horizonte,
andando na areia.
Saudade vem,
Saudade aperreia Saudade me chama
prá ser sereia. Tita - junho 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

No alto da montanha

Fim de dia na casa encravada no meio da mata. Musica mistura-se ao canto da cigarra e dos grilos embalados pelo som do mar.

Não vejo as ondas do alto da montanha, mas escuto a água que toma a areia e volta no ir e vir e ir das marés.

Ainda tenho no corpo a sensação do mergulho no sal a me refrescar do quentume do sol.

Depois, estirada na areia, o cochilo, vozes ao longe, praia de pouca gente, a sempre bem vinda paz dos verões ao mar.

Fragmentos misturam o sonho à vida, o passado ao presente. Momentos de mar que, como as marés, vão e voltam em inesquecíveis pedaços já vividos, em sempre verões, em sempre sal e sensações que como as ondas vieram e se foram para sempre e, como as ondas hão de, sempre e sempre, voltar.

Tita

Praia Vermelha do Sul - 1/11/2009

domingo, 1 de novembro de 2009

Ocupado

Nada mais cabe dentro deste conglomerado de neurônios eternamente em ação. 
Não cabe mais. 
Fecho a porta lutando pela conservação de uma pequena área, reserva obrigatória para abrigo de meus sonhos, cenas futuras imaginadas, poemas, pessoas queridas, sentimentos fortes
e minha paixão incontida, reflexo deste coração e de meu amor pela vida. 
O restante já quase explode, totalmente ocupado com o peso da realidade.

Tita - 20/03/2008

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A mesa ao lado

Chega o dono do mundo. Carrega uma maleta e mal fala bom dia. É um homem que trabalha bastante e deve ser por este motivo que tem de franzir a sobrancelha e mostrar-se muito, deveras, extremamente, preocupado. Sem duvida tem todo o direito ao destempero, coitado, fica nervoso, tantas coisas para resolver, tantas dificuldades a ser decididas, tantas prioridades a determinar, coisas de lideres, coisas de executivos, coisas de homem. Irrita-se com a impressora, geme quando o telefone toca, bufa quando chega a pessoa para a reunião. Em seguida derrete-se ao telefone sendo gentilíssimo com alguém, fala alto, ri exageradamente, sem a menor consideração pela pessoa que trabalha ao lado. Ela observa e já quase não suporta. Ela vê, procura não prestar atenção mas não consegue. Não gostaria de pensar nada, mas lhe vem à cabeça que deve ter feito ou deixado de fazer algo muito importante até aquele momento de sua vida, para merecer ter de conviver com esta cena de ópera bufa dia após dia.

Tita - 31/10/2009

Tudo a ver "São manhosas as palavras, e rebeldes, e fugidias. Não gostam de ser domesticadas" Rosa Montero em "A Louca da Casa"

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Tempo

Aproveitar cada momento, 
planejar os detalhes, 
escrever as gracinhas, 
viver pequenas bobagens, 
beijar os beijos demoradamente,
aparecer de repente, 
cuidar as feridas, 
curtir as caricias delicadamente, 
andar na praia, 
comentar os filmes, 
cozinhar em conjunto,
esquentar um ao outro numa noite fria,
ler lado a lado, 
fazer os planos, 
olhar dentro dos olhos,
ajudar nas dificuldades, 
conversar noite a dentro,
aproveitar as viagens, 
saborear as comidas,
passear sem rumo, 
beber em conjunto, 
abraçar muito, 
rolar na cama, 
viver a grande paixão.
Procuro encaixar tudo, não deixar nada escapar. 
Mas os castelos desmoronam antes do tempo. 
As gentilezas acabam antes do tempo. 
A constatação da realidade vem antes do tempo. 
A vontade de chorar vem antes do tempo 
e eu constato que não deu tempo.
Tita 2006/2009

Pouco

É pouco muito pouco. 
Não preenche buraco, não amacia quina,
não destrava portas, não desembaraça fio. 
É muito pouco, é pouco demais! 
Recuso, jogo fora, não quero, leve embora.
Não titubeie nem olhe pra trás 
mereço muito, muito mais. 
Tita - 26/10/2009

domingo, 25 de outubro de 2009

lança-perfume

Não me lembro se não se falava em drogas ou se nunca tínhamos pensado nisto ou escutado a palavra. Parecia tão divertido e sem problemas carregar um frasco de lança-perfume para o baile de carnaval... 
Salão cheio no carnaval em Jaú, tenra adolescência. Dançávamos em pé sobre as mesas espirrando lança-perfume nos meninos bonitos que passavam ou, abraçadas a eles, cheirávamos aos poucos nos ombros das camisas, rindo muito, como se nada fosse, abertamente e sem peso nenhum de consciência. 
Não nos avisaram? Ou não escutamos? 
Um dia veio o susto: alguém amigo havia adormecido com a cabeça em um travesseiro cheio de lança-perfume, para nunca mais acordar. 
Do susto veio a tristeza e da tristeza o medo. 
Havíamos desafiado o perigo sem nem mesmo saber ou perceber. 
Diante da morte estávamos nós, cheios de vida. 
Surpresos ante o desconhecido, abalados ante o inesperado, amadurecidos, antes da hora. 

 Tita 28/01/08 - revisto em 26/10/09

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Só para mim

Não sei por onde começar, você quer mesmo saber? 
É pouco, quase nada. Não sei por que adquiriu esta importância. 
Eu conto, eu conto... é que na verdade não é fácil contar, mexe comigo, me emociona, às vezes até escorre uma lágrima e, sabe, parece mentira, mas só de pensar em contar meu coração dispara, sinto de novo cada segundo, o corpo treme, a voz não sai... 
Vai ver é por isto que é tão difícil...
Desculpe-me, não consigo contar, não sei o que dizer, suo frio, fico nervosa, emudeço.
Sabe, resolvi não contar. Peça-me outra coisa mas isto não. 
Vou guardar só para mim e sentir de novo, e de novo, e mais ainda, a cada vez que me lembrar.  

Tita - 21/10/2009

Tudo a ver
"Há outras vidas, mas elas estão na nossa."
Paul Éluard

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Necessidade


É preciso fluir. 
Evoluir sem trancos, 
unir inícios e finais, 
recomeçar suave do que se concluiu. 
É preciso a leveza do caminho tranquilo que una todos os sentidos tornando possível o caminhar. 
É preciso transformar em arte as expressões e os pensamentos, em sons melodiosos, 
em sabores que incitam e excitam, em sensações que aprofundam e envolvem,
em desenhos e cores que transportam, em palavras que se derramam sobre o papel e tornam o irreal reconhecível e o imaginado exequível. 
É preciso harmonia, equilíbrio, estética e luz.
E acima de tudo, é preciso fluir.
Tita - 18/10/2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Never

A maldade das pessoas que pareciam queridas, a falta de reconhecimento dos esforços, as respostas bruscas, as pequenas mentiras que machucam mais do que as grandes, as traições de confiança, as mudanças de atitude, a constatação de ter julgado alguém melhor do que é realmente...
A cada desapontamento o coração se quebra de forma dolorosa e demorada, perde pedaços, transforma-se, amolece, quase se desmancha, adoece, a ponto de, ao voltarem a força (a incansável) e o crédito no ser humano, por vezes refaz-se (o coração), mas, as regiões endurecidas pelo estrago, estas não se refazem, não mais. 
Fica então um coração, trôpego, que à custa de muito esforço retoma as batidas fortes e a esperança. 
Segue, rebusca, procura, insiste e até acha. Mas a doçura...
Ah, o sentimento nobre o derreter-se frente ao simples, o dar-se livre de amarras, o constatar e falar cara a cara, o abraçar sem medo, o entregar-se, o abandonar-se à ternura pura, genuína
e simples, não se recupera nunca, 
jamais, never, mais.

Tita, 15/10/2009

Tudo a ver 
" Se me acerco das janelas é apenas para ver o longe, as tenues linhas do azul inatingível. As portas, fechadas ou abertas, pouco valem. Desfaleceram com o desencanto dos caminhos. Vou ficando pela distração dos desejos mansos, sem guardar réstia de glória nem consolo. Assim, dou feriado à minha existência. Mia Couto em "Raiz de Orvalho e outros poemas"

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sem medida

Vou passando pela vida sem deter-me para percebê-la. 
Pulo etapas, não me fixo em sensações, escapam-me sentimentos. 
Levada pelos acontecimentos, ansiedades, obrigações e necessidades, pulo obstáculos, atravesso intempéries, tomo desvios para cortar caminhos. 
Sigo sem ver e, por não ver, sigo como quem não vai, mas é conduzido. 
Abandono-me ao vento e sigo incansável, sem análise ou temor. 
Apenas vou, como quem deve ir e não pode estancar o corpo e os pensamentos. 
Como quem, por ter começado, não pode parar.

 Tita – de 2008, re-escrito em 7/10/2009

Tudo a ver
"E o que redime a vida é ela não caber em nenhuma medida"
Miguel Torga

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A lua na minha janela

Tita - 02 de outubro, 2010

Montanha-russa

Estou em busca de paz, dias metódicos, tarefas costumeiras, repetições previsíveis. 
Quero conversas calmas que não pressuponham idéias contrárias. 
Livros, só aqueles que não fazem pensar ou, até mesmo, reler os já lidos. 
Comidas sem muito tempero ou cor, pratos de elaboração simples e inconseqüente. Sensações apenas as mais corriqueiras.
Pensamentos? Os de sobrevivência.
Nada de imprevistos. 
Até pensei em treinar meditação, aulas de yoga, escutar mantras...bem eu... 
Quem sabe desta maneira encontro novas idéias, pensamentos diferentes, dias cheios de novidades, conversas agitadas, livros nunca lidos, comidas apimentadas? 
Quem sabe desta maneira recupero o coração aos saltos e a sensação de recomeço a cada minuto?
Quem sabe? Pois só o que busco é a alegria da vida, a paz sempre renovada, o corpo abandonado ao imprevisto e a sensação da curiosidade impaciente e cheia de adrenalina, como numa montanha-russa. 
Tita - 29/11/07

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Poema e Video roubados - Zédu

Soneto no espelho
Eles tinham um pouco tão imenso,
Que os amantes restaram satisfeitos.
Depois as sombras, o nevoeiro denso,
E hoje nem de sonhos o pouco é feito..
.
Neles, é como um rio que secou,
As árvores, nos dois, calcinadas,
Marcas do impossível que passou
Em um amargo gosto de nada..
.
Ficou o deserto, a triste paisagem,
O inverno eterno, as almas geladas,
O vazio e um espelho sem imagem..
.
E seguiram, com as vozes caladas,
Para o abismo, a queda, a miragem
Do amor em águas passadas..
.
Com uma dor que não se amansa,
Perdidos nos seus grãos de nada,
Saudosos da pouca esperança
E dos sonhos de contos de fada..
.
Mas pagam as escolhas feitas,
O não na boca amargada.
E na teia por eles desfeita
Resta uma aranha alucinada.......
Zédu - 27 de maio de 2008
http://zedupoca.blogspot.com - o blog que se calou.
.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tristeza

Não, não é sem aviso que a tristeza vem.
Vem aos poucos, vai se achegando devagar, sem barulho, fica em um cantinho, à espreita, pronta para dar o bote, feito cobra brava.
Em um dia, bem desses em que estamos de peito aberto acreditando que tudo vai dar certo e que somos os donos da razão inabalável e das certezas de qualquer coisa, ela nos pega. 
Como um fardo pesado nos achata, nos maltrata, senta-se sobre nós, aperta, empurra para um canto escuro, e, sem dó, pisoteia, blasfema, bate e grita cuspindo nossos defeitos, anunciando alto e bom tom todos aqueles pontos fracos que durante tanto tempo teimamos em não deixar ninguém descobrir. 
Então, satisfeita instala-se, poderosa sorri, sorriso maldoso, vitorioso. Chega a rir quando percebe com que dificuldade procuramos dar qualquer passo. Faz pouco quando vê lagrimas escorrerem e regozija-se quando não conseguimos acordar, levantar da cama, terminar qualquer trabalho ou mesmo participar da mais simples conversa.
É assim a tristeza quando consegue seu objetivo. E ali fica, tomando conta, pronta a atacar frente ao menor movimento que façamos para enfrentá-la.
Foi assim que me pegou esses dias. Acho que não dei atenção aos avisos. 
É por isto que estou assim, fechando-me em concha, abraçando a mim mesma, com medo de que continue seu ataque. 
Estou quieta, procuro não enfrentá-la de modo algum. Estou deixando que pense ser a mais forte.
Deixo que tome conta de mim, que me faça ver e rever exaustivamente os já vistos e revistos e que me acachape repetindo infatigavelmente os mesmos caminhos mentais. 
Sei que um dia conseguirei conversar comigo mesma, animar-me, perdoar-me, tornar-me forte e então, quando menos esperar, encontrarei a saída e uma força grande virá de dentro de mim. É então que eu esbravejarei, bufarei, gritarei e a expulsarei. 
Ela se afastará, apavorada e eu, satisfeita, me instalarei vitoriosa e sorrirei, sorriso maldoso, vitorioso. 
Da próxima vez procurarei ficar mais atenta porque sei e mais uma vez aprendi que não, não é sem aviso que a tristeza vem. 
Por que será que não prestei atenção?

 Tita – 28 de setembro de 2009.

domingo, 27 de setembro de 2009

Só estórias

Quem me protegerá de minha fragilidade? Quem?

Quem me contará histórias que assim sejam e não estórias que somente desejem histórias se tornar?

Quem, mas quem, desde o inicio me dará verdades e as manterá sem tirá-las de mim tornando-me frágil e quebradiça?

Quem me entregará sinceridade e em chão firme criará comigo caminho que permaneça?

Ai como me sinto frágil nesta madrugada em que o som da musica a embalar me diz e repete que sem coerência nada, nada mesmo, é possível!

Procuro em vão compasso que me embale, sigo tons sem descanso que me acalme.

Sorrio em vão sorriso que me anime, converso em ansiedade qualquer conversa em busca de sentido.

De nada me servem os amigos, nada me dizem as palavras de animo, nada me trazem mãos que se estendem e olhares que me apóiam, porque sei que estou só e que depois do que acreditei em ti minha solidão tornou-se maior e mais intensa, minha sensibilidade se aguçou e meu corpo (ai como era bom quando estava inerte) acordou de sono longo e profundo para saber-se ímpar logo após.

Bem eu, que me julgava finalmente a salvo de qualquer sofrimento.

Bem eu, que acreditava conhecer a natureza humana.

Bem eu, frágil e indefesa, que nesta madrugada vazia e solitária, constato que nada tenho e nada sei.

Tita, madrugada, 27 de setembro de 2009.

Tudo a ver

"...rindo, abre os braços, como se lamentasse de maneira brincalhona, o fato de tudo aquilo que outrora era ela, não existir mais."

Liv Ullmann - "Mutações"

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Decisão

-->
Não haveria mais torpedos ao amanhecer nem recados no meio do dia ou insistências ao cair da noite, mas sabia que a decisão certa havia sido tomada, pois o incerto não lhe cabia nem lhe cabiam as tão grandes obscuridades. 
Mesmo porque, pensava, prescindia de estímulos criativos e trocas constantes. 
Definitivamente não podia viver sem poesia. 
A "coisa" das letras a tomava cada vez mais e urgia, sempre, trocar profundamente. 
Precisava de fala que seguisse na mesma direção. 
Não sabia mais viver sem partilhar os escritos, embaralhá-los, entrar dentro deles. 
Além disso, a zona de conforto estava ao alcance da mão, o que era tranquilizante. 
Lembrou-se da noite em que fizera das palavras o seu colchão e de quando ao falar não lhe saiam sons, mas sim letras escritas nas fronhas brancas. 
Então, entristecida pelas decisões que apesar de certas a deixavam tremula, segurou as fronhas dizendo a elas tudo o que se passava, esperando que novamente os sons se tornassem letras e ficassem gravados para sempre aonde pudesse encostar sua cabeça e dormir sono reparador.

Tita - 24/09/09

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Direção

Eu sei para onde vou.
Não tenho duvidas, não pego mapas, não pergunto.
Sigo incansável, sem perder rumo, sem errar caminho.
Se pareço perdida não se iluda, estou apenas descansando.
Se me encontro em um desvio não duvide, entrei sozinha e porque quis.
Não preciso de bússola, itinerário ou orientação.
Por favor não me diga como, nem quando.
Não tenho medos, volto quando quero e sei para onde vou.

Tita 7/05/08 revisão em 22/09/09

Afinidade

Gostamos de praia, os dois, do sol nos esquentando, 
de mar morno no fim do dia e da moleza que dá depois. 
O jeito de falar se parece, ao trocar mesmos pensamentos. 
A poesia nos cai sempre bem, ao sabor dos nossos momentos. 
Parece que ficamos quietos, com a mesma intensidade
e quando nos irritamos, temos o mesmo teor de maldade. 
Somos afins nos sonhos, e também na felicidade.
Deve ser este o motivo de termos tanta saudade. 
Tita 18/07/07 

Tudo a ver 
"Enquanto eu te via nascia um jardim nas minhas faces" 
Caio Fernando Abreu em "Caio 3 D" - "A Quem Interessar Possa"